Depois de curta temporada por São Paulo e Rio de Janeiro, Casting, espetáculo do russo Aleksandr Gálin, estrelado por Caco Ciocler, volta a se apresentar na Capital, no Teatro Nair Bello. A peça é coproduzida pela Cia. da Matilde, de São Caetano.

A montagem conta sobre um grupo feminino atraído para um teste através de anúncio de jornal que busca mulheres russas com habilidades artísticas para apresentar um show em Singapura.

No palco de um antigo cinema, em tempos de vacas magras, mulheres de todos os perfis se oferecem para fazer o teste e fugir da vida miserável e do caos instalado no país que perdeu a identidade clássica. O problema é que o anúncio não dizia que o show era erótico, e que somente garotas esbeltas e desenvoltas podiam se candidatar.

A montagem é dividida em dois atos e tem duas horas de duração. No primeiro, que se assemelha a uma comédia rasgada, explora-se os diferentes perfis das cinco candidatas, com texto rápido e interpretação precisa, calcada em sutilezas que revelam padrões de comportamento.

No segundo, os risos dão lugar à reflexão. Mais político, mas ainda engraçado, o texto revela o reflexo de uma nação esfacelada e dá a dimensão com que a tragédia envolve simples personagens.

"O que me surpreende nos russos é o bom humor. Eles sabem rir deles mesmos mais do que qualquer um. É tudo muito intenso, o choro, o grito e o riso passam de um para o outro com facilidade. Isso fica nítido no espetáculo", conta Caco Ciocler, que interpreta Albert, personagem que intermedeia os compradores (empresários japoneses) e as mercadorias (mulheres russas).

"É um fenômeno mundial a crença de que o sucesso pessoal está mais vinculado à promessa de ser escolhido do que ao trabalho. A busca por fama instantânea, um lugar de destaque, tudo isso está em voga, o que não está é a vontade de batalhar para que isso aconteça", completa o ator.

O painel da Rússia, que durante séculos perseverou numa égide, em seguida foi celeiro de uma nova organização social e depois derrotado pelo mundo contemporâneo capitalista, para Caco, não é muito diferente do brasileiro: "Eles eram um país de tradição e perderam suas características, nós, um País que é sempre a grande promessa, mas que não muda de condição, os dois vendendo a alma para sobreviver."

Casting - Teatro. No Teatro Nair Bello do Shopping Frei Caneca - Rua Frei Caneca, 569, São Paulo. Tel.: 3472-2414. 5ª, às 21h30; 6ª, sáb., e dom., às 20h. Ingr.: R$ 20 (5ª e 6ª) e R$ 30 (sáb. e dom.). Até 28 de novembro.

Produzir teatro é tarefa árdua

Se produzir peças na região é quase impossível por conta das dificuldades de apoio, montar um espetáculo com grande elenco, mais patrocínio e maior retorno de público, representa também um grande desafio.

Na segunda peça de grande magnitude em produção (a primeira foi Dias Felizes, com Norma Bengell protagonizando), a Cia. da Matilde, de São Caetano, sabe que o caminho das pedras não é fácil, mas que, em compensação, a vitrine de ter seu nome exposto na Capital é o primeiro dos passos para conseguir trazer mais oportunidades à região.

"Desde o ano passado estamos fazendo Casting. Editais, projeto de manutenção, confecção de cenários e os vídeos que são exibidos na peça, todos foram feitos no galpão da Matilde", conta Erike Busoni, presidente da companhia.

O trabalho do produtor envolve correr atrás de patrocínio, apoio para alavancar a divulgação do projeto, a manutenção dos recursos do espetáculo utilizados durante sua exibição e muito mais. É uma luta física, que exige também um perfil de administrador.

"Estávamos com dificuldade de conseguir um teatro vago. Neste, o desafio é montar e desmontar o cenário a cada dia, porque aqui funciona uma escola e há outras atividades em outros períodos. Também tem a dificuldade de conciliar agendas de diferentes atores, cada um com projetos em teatro, cinema e televisão".

Para 2011, há um projeto ambicioso, de trazer um clássico teatral de Shakespeare à cena com grandes estrelas e de maior produção. Será o passo à frente para consolidar o trabalho de uma região que tem grandes condições de protagonizar o seu teatro. (Thiago Mariano)