Turismo Titulo Chile
Férias frustradas após terremoto
Por Eliane de Souza
Do Diário do Grande ABC
08/04/2010 | 07:00
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Terremoto e avisos de tsunami no Chile no início deste ano atrapalharam o planejamento de férias de inverno de muitos turistas e fizeram cair a procura pelo destino. Agentes de viagem contam que muitos turistas com pacotes comprados para Santiago trocaram para outros destinos da vizinha Argentina, como Bariloche, Buenos Aires e Mendoza.

Em 27 de fevereiro o Chile sofreu um terremoto de 8,8 graus, um dos cinco maiores registrados no mundo desde 1900. Quase 500 pessoas morreram e partes do centro e Sul do país ficaram destruídas após o tremor seguido de tsunamis. Os prejuízos foram avaliados em US$ 30 bilhões.

Quem tem pacotes comprados para o país tem direito a troca de destino ou reembolso sem pagamento de multa. Após o terremoto, a Fundação Procon emitiu nota explicando que de acordo com o Código de Defesa do Consumidor - que estabelece a proteção da vida, saúde e segurança, como direitos básicos - o turista com viagem marcada para regiões afetadas por terremotos e outras catástrofes naturais tem direito de trocar o pacote ou passagem para outra data ou local, sem pagamento de tarifas, ou ainda de cancelar o contrato, com direito a restituição da quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada e sem pagamento de multas.

O Procon ainda orienta o turista que se sentir lesado a procurar a empresa de quem adquiriu o pacote de viagem ou a passagem para tentar um acordo. Para evitar dor de cabeça ainda maior do que a viagem frustrada, tudo o que for combinado verbalmente deverá estar em contrato assinado pelas partes.

À época do terremoto a Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagem) orientou às agências que evitassem a venda de pacotes para o Chile até que fosse feita avaliação exata dos prejuízos e incentivou a negociação com os consumidores sobre o cancelamento ou o adiamento das viagens sem nenhum tipo de custo extra.

FRUSTRAÇÃO - A funcionária pública Camila Navarro, 25 anos, adiou para o ano que vem o sonho de conhecer Santiago e Lagos Andinos. O tremor que acometeu a cidade de Concepción, a 500 quilômetros de Santiago, ocorreu 48 horas antes do voo de Camila para a capital. "Estava de malas prontas e recebi o aviso da companhia aérea de que meu voo seria cancelado sem previsão de remarcação por causa das más condições do aeroporto de Santiago."

Ela não comprou pacote turístico, chegou a reservar o hotel, mas não teve de efetuar pagamento. Porém, pediu reembolso da passagem aérea, que não recebeu ainda. "Como não iria visitar a região afetada diretamente pelos terremotos, iria para Santiago mesmo a contragosto da família, que temia pela minha segurança." Camila ainda tentou transferir as passagens para outro destino na América do Sul, mas a companhia aérea cobraria taxa. O projeto de férias foi fazer viagem de carro pelo Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Camila Navarro afirma que o Chile é o lugar que mais quer conhecer no mundo e criou um blog para compartilhar a experiência com outros aficcionados pelo destino. "Não há a quem culpar. Nem me sinto bem em lamentar minhas férias frustradas enquanto tantas pessoas no Chile podem estar passando por sofrimentos muito maiores. Mas o país irá se recuperar e continuará sendo fascinante. Eu ainda vou conhecê-lo. O planejamento, como sempre, já está pronto", desabafa.

Temporada de esqui é afetada

Às vésperas da alta temporada nas estações de esqui da América do Sul, o Chile, sempre tão procurado pelos brasileiros, neste ano não aparece entre as opções de compra. O agente de viagens Danilo Pontes Daniel, da loja CVC do Shopping ABC, afirma que desde o terremoto em Santiago a agência não registrou nenhuma busca por pacotes para o país andino. Este era o segundo destino internacional mais procurado na loja, depois de Buenos Aires.

"Os clientes adquirem pacotes de viagens internacionais com aproximadamente quatro meses de antecedência. Em março do ano passado, por exemplo, tínhamos grande procura pelo destino devido à alta temporada de esqui no Valle Nevado", conta o agente de viagens.

A expectativa é de que as promoções de passagens aéreas e a volta da confiança dos turistas na reconstrução da cidade voltem a atrair os holofotes para Santiago. Ele cita inclusive caso de cliente com pacote de viagem comprado para o Chile que optou por trocar por Mendoza, na Argentina. A mudança foi feita pela agência sem pagamento de multa.

A Calcos Brasil Operadora, empresa especializada em vendas de pacotes para a América do Sul, também afirma que a procura pelo Chile caiu em 95%. Nem os preços convidativos das linhas aéreas repassados pelas operadoras atraíram os turistas. "A baixa de preços não é solução para salvar esta temporada. O impacto das notícias de terremoto foi muito grande e a procura pelo destino só deve melhorar a médio prazo", acredita Wagner Lopes, diretor de marketing da Calcos.

A operadora também indicou roteiros na Argentina para quem se intimidou a conhecer os Andes após o desastre natural. A vizinha Argentina mais uma vez foi indicada para acordos sem cobrança de tarifa, apenas com devolução ou pagamento de diferença de acordo com o pacote escolhido. "Santiago sempre foi muito procurada pelos brasileiros pela facilidade de não precisar de visto ou passaporte, além da hospitalidade do povo chileno", reitera Wagner Lopes. Atualmente, os hotéis de Santiago estão apenas com 10% de ocupação.

Ontem o órgão oficial de turismo do Chile reuniu profissionais da área e anunciou que o país pretende receber 55 mil brasileiros na próxima temporada de neve. "Posso garantir que 100% de nossa infraestrutura estão intactos e estamos esperando os brasileiros", afirmou Pablo Moll, diretor-geral do turismo chileno.

O aeroporto de Santiago opera normalmente com todas as áreas abertas e, com exceção de Concepción, as cidades turísticas não tiveram infraestrutura abalada e já voltaram ao ritmo normal. Em 26 de março, o Chile teve outro terremoto na região do Deserto do Atacama, 79 quilômetros ao Sul da cidade de Copiapó. Não houve registro de feridos ou de danos materiais, já que o epicentro do abalo ocorreu em área desabitada.




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