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Poder da palavra

Longa-metragem 'O Livro de Eli' estreia com cinco salas
na região; filme é protagonizado por Denzel Washington

Por Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
19/03/2010 | 07:00
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Em mundo devastado por guerras e diversos males que assombram nosso universo atual, a fé e a coragem são elementos indispensáveis para a sobrevivência. Esse é o tema da ação "O Livro de Eli", que chega ao Brasil e estreia em cinco salas do Grande ABC.

O filme tem direção dos irmãos Albert e Allen Hughes, também responsáveis pelo fraco suspense "Do Inferno" (2001). A dupla se apoia no fascínio do público por diversas versões de como seria o planeta caso fosse destruído. Essa realidade pós-apocalíptica norte-americana - na qual as árvores não existem mais, a poeira é constante no ar, crateras imensas tomam as estradas, viadutos estão destruídos e as pessoas andam sem rumo - serve como cenário para que o estreante roteirista Gary Whitta apresente uma história diferente da que o cinema já trouxe em filmes como Mad Max (1979).

A trama gira em torno do andarilho Eli, interpretado pelo prestigiado Denzel Washington. Ele foi um dos poucos sobreviventes de uma poderosa guerra que devastou quase por completa a Terra. Munido de forte armamento, que mistura armas automáticas e espadas, segue pelas ruas sem destino aparentemente certo.

Os 30 anos que já se passaram fizeram dele um homem preparado para o que há nas estradas: violência e disputa ferrenha por um punhado de comida e água, alguns dos itens raros nessa nova sociedade, que consome carne de gatos e, até mesmo, de outras pessoas para sobreviver.

Seu único momento de tranquilidade é quando lê todos os dias um misterioso livro que carrega na mochila. Os ensinamentos da publicação são revelados sutilmente em citações bíblicas que Eli faz antes de enfrentar, por exemplo, uma gangue inteira dentro de um bar.

O caminho o leva até um pequeno vilarejo onde conhece o perigoso Carnegie (Gary Oldman), chefe do local com poder representado pelo controle de armas, carros e alimentos. O vilão procura desesperadamente por um livro especial perdido há muitos anos e vê na chegada do forasteiro a oportunidade para ter o que tanto deseja.

A crença em algo maior para o mundo e para si mesmo é o que faz Eli seguir em sua jornada a qualquer preço. Esse mistério por trás do objetivo do andarilho acaba por chamar a atenção da jovem Solara (Mia Kunis, a Jackie do seriado That 70s Show), que vê nele a oportunidade de conhecer um mundo novo que ela não tem acesso por ser escrava de Carnegie.

A produção em torno de "O Livro de Eli" é de qualidade. Os belos cenários, que misturam locações reais com imagens geradas por computador, dão a dimensão de devastação promovida pelo filme. Outro trunfo é a fotografia com predominância de cores cinzentas para dar o tom de tristeza e angústia vivida pelos personagens.

Mas o longa não consegue unir com sucesso drama, ação e suspense. A interpretação de Washington como o solitário Eli deixa a desejar. Não que ele não tenha feito bom trabalho, mas o personagem poderia ter caído facilmente nas mãos de outro profissional.

O vencedor de dois Oscar disse que o filme lhe chamou a atenção e que seu filho (que assina a produção) lhe recomendou a ler o roteiro. Querendo ou não, esse é um ponto a se considerar, sendo que o ator está em um patamar especial entre os grandes astros do cinema.

O enredo acaba por se perder em apostar nas revelações pessoais do protagonista enquanto o certo seria que essas respostas apenas complementassem a ação proposta em torno da produção. As cenas dos confrontos de Eli com os ‘bandidos' são o grande atrativo e peça fundamental para o possível sucesso do longa.

A inesperada revelação final serve como consolo para a falta de mais tiros e brigas. O público descobrirá que a humanidade tenta dar novos passos em meio ao caos e que Eli é fundamental para que isso ocorra. Sua fé devolve ao homem o poder divino de renascer por meio das palavras.




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