Economia Titulo Crédito
BNDES volta a investir na região

Após 11 anos, instituição acredita em futuro saudável do Banco do Povo - Crédito Solidário e libera R$ 1,5 milhão

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
05/03/2010 | 07:00
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Após 11 anos da primeira parceria, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) volta a fomentar o Banco do Povo - Crédito Solidário, no Grande ABC. Agora, a injeção de recursos foi de R$ 1,5 milhão.

De acordo com o diretor da área social e de crédito do BNDES, Élvio Gaspar, o impasse que distanciou os bancos foi os maus resultados do Banco do Povo. "Os números estavam muito ruins. E não colocamos recursos em instituição que não está saudável, que foi o caso do Banco do Povo", disse. Porém, o executivo afirmou que o contrato assinado ontem visa ajudar a instituição de microcrédito engrenar e sair do vermelho.

O fato que contribuiu para a nova parceria foi a engorda do Banco do Povo em 2009. Conforme o gerente executivo da instituição, Almir da Costa Pereira, "o banco cresceu 35% no ano passado", sobre resultado de 2008. No âmbito do crédito, o volume de recursos repassados na região, em 2008, foi de R$ 2,4 milhões. "Fechamos o ano passado com R$ 3,7 milhões", acrescentou Pereira.

DESAFIO - Gaspar, do BNDES, lançou o desafio de "aumentar e muito a atuação" para o Banco do Povo. "Espero que eles venham nos procurar muito mais vezes a partir de hoje", argumentou.

Pereira alega que "serão necessários esforços dos aliados, principalmente das prefeituras, para aumentar a atuação do banco".

Hoje, a expectativa é que o Banco do Povo disponibilize, em microcrédito ao Grande ABC, cerca de R$ 5 milhões em 2010. O valor é a soma dos recursos a serem injetados pelo BNDES e a meta de igualar o montante emprestado em 2009, R$ 3,7 milhões. "Mas acredito que chegaremos perto dos R$ 6 milhões, que será um ótimo resultado", opinou Pereira.

RESPONSABILIDADE - Gaspar destacou a importância de fomentar o microcrédito às pessoas que desejam empreender, mesmo informalmente. "Nossa luta é trazer a maioria dos cidadãos para a formalidade. Acreditamos que a formalidade e o microcrédito são os novos pontos que giram a roda", disse referindo-se ao ciclo da economia.

Ele acrescentou que o microcrédito gera renda, que automaticamente aumenta o consumo, "o que é muito bom para o País", completou Gaspar.

O diretor do Fórum Latino Americano e do Caribe de Finanças, Marcelo Zabalaga Estrada, que saiu de sua sede, no México, para prestigiar o contrato afirmou que "o Banco do Povo é pioneiro na sua modalidade em toda a América Latina e Caribe".

MODALIDADE - O Banco do Povo oferece o microcrédito produtivo orientado. Esta modalidade de crédito é destinada às pessoas de baixa renda que têm espírito de empreendedor e desejam utilizar os recursos em suas microempresas formais ou informais.

"Já realizamos empréstimos de até R$ 50. E vimos fazerem coisas que ninguém acredita com esse dinheiro", afirma Pereira.

O coordenador do grupo de trabalho de crédito da agência do Grande ABC e secretário de Desenvolvimento Econômico de São Caetano, Celso Amancio, disse que o microcrédito é essencial para a economia da região. "Trazer a cadeia produtiva para as pessoas que têm interesse em empreender é muito importante para o desenvolvimento da região."

Baixa renda não deixa dívidas caírem no esquecimento

Um dos temas mais comentados durante a assinatura do contrato entre BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e Banco do Povo - Crédito Solidário da região foi o compromisso que a população de baixa renda tem quanto às suas dívidas.

"Durante 30 anos fui responsável pela área de crédito da Casas Bahia e confirmo que eles não atrasavam. Mas se passasse um dia, explicavam o motivo do atraso", contou o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Caetano, Celso Amancio.

Componentes da mesa, o deputado estadual Vanderlei Siraque e o prefeito de Rio Grande da Serra, Adler Kiko Teixeira, demonstraram simpatia com a classe mais pobre criticando o outro lado da moeda. "Os pequenos pagam por uma questão de moral. Os grandes não", comentou Siraque.

Já Kiko, alegando ser uma frase do ex-governador Mário Covas, disse que "o pobre quando deve, não dorme. E o rico, quando deve, pega o avião".

CRÉDITO - Amancio lembrou os antigos chups-chups, conhecidos também como gelinhos ou suquinhos, para exemplificar a importância do microcrédito. Ele comentou que, dentro da Casas Bahia, forneceu "muito crédito solidário para algumas donas de casa" que produziam a guloseima com eletrodomésticos adquiridos por meio de crediário da empresa.

Hoje, a comerciante Maria Zilda Rodrigues é uma das beneficiadas com o crédito solidário do Banco do Povo. Ela já emprestou cinco vezes da instituição para investir em cosméticos e lingerie para sua loja, em Santo André.

"Eu pego o dinheiro de três em três meses. A primeira vez foram R$ 700. E a última, no começo de dezembro, R$ 1.500", contou Maria. Ela disse que o negócio, de dois anos, está "indo muito bem".

Na mesma cidade, a comerciante Selma Maria de Oliveira resolveu, há dois anos, abrir comércio de salgados na garagem de sua casa. Há um ano, ela contratou R$ 500 junto ao Banco do Povo para investir em ingredientes para a sua produção. A maior parte do seu mercado são os vizinhos, que também compram cosméticos e produtos de higiene.

Depois de emprestar cinco vezes, Selma contratou R$ 2.800, em dezembro. "Vou pagar em 14 vezes de R$ 220. Mas os pagamentos são quinzenais", contou. O recurso serviu para a reforma do seu estabelecimento improvisado e a aquisição de uma máquina de massa. "Se me liberarem, eu pego emprestado mais R$ 4.000 da próxima vez", brincou a microempresária.




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