Setecidades Titulo Polícia
Delegado exonerado vai entrar na Justiça
Rafael Ribeiro
do Diário do Grande ABC
05/04/2013 | 07:00
Compartilhar notícia
Andrea Iseki/DGABC


O delegado Paul Henry Bozon Verduraz, demitido na quarta-feira pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) junto a mais três policiais civis acusados de tortura, anunciou ontem por meio de redes sociais que entrará com pedido de mandado de segurança para retomar suas funções no 34º DP (Vila Sônia), na Zona Oeste da Capital, onde era titular.

O caso ocorreu há dez anos, em fevereiro de 2003. Acusado de ser o mandante do sequestro do dono de um restaurante em São Bernardo onde trabalhava como motoboy, Alex Sandro Neto de Almeida, 24 anos, morreu dentro da Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) da cidade (leia mais no quadro ao lado). O delegado era o titular da delegacia na ocasião.

"A função do policial, em especial do delegado, é árdua e quase nunca é reconhecida. Sempre fui um profissional sério e leal cumprindo minhas funções", escreveu Verduraz, que se disse "arrasado". "Por mim não recorreria, mas tenho uma filha que pode depender da minha aposentadoria."

No texto, o delegado diz que entrará com pedido de reconsideração do governador. "Fui demitido mesmo sem ter uma única advertência na minha carreira."

Durante evento na Baixada Santista. Alckmin disse que a postura do governo é de "tolerância zero" com quaisquer tipos de desvio de conduta. Verduraz evitou detalhar sobre o ocorrido com Almeida. Manteve a justificativa dada à época, que o acusado chegou já agredido à delegacia e que a situação não foi atestada por erros nos exames feitos.

"É o tratamento diferenciado dado ao policial civil e ao militar", disse Marilda Pansonato Pinheiro, presidente da Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo). "Os policiais estão com medo de trabalhar, de investigar. Os telefones são grampeados, todo o tratamento é como se fôssemos corruptos. O delegado não tem mais garantias de sua autonomia."

Verduraz fez transação penal (premissa legal para o Ministério Público negociar a pena com o réu em crimes considerados de pena menor a dois anos) na acusação de omissão mediante tortura e o processo foi arquivado.

Os outros três policiais, os investigadores Ricardo Milanez e Sergio Ferreira Barros Filho e o papiloscopista Samir Gushiken foram demitidos sem serem julgados na esfera criminal. "O governo corre sério risco, pois caso eles sejam absolvidos, terá de incorporá-los e pagar todo o salário do período", disse George Melão, presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo).

Verduraz prendeu PMs em chacina de 1999

Com mais de 20 anos de Polícia Civil, Paul Henry Bozon Verduraz esteve à frente de um dos casos mais emblemáticos do Grande ABC. Em agosto de 1999, quando era assistente da Delegacia de Homicídios de São Bernardo, foi o responsável pela prisão de quatro policiais militares da Força Tática da cidade acusados de matar dois jovens, de 15 e 20 anos, no bairro Montanhão.

O caso teve repercusão internacional, visto que outro adolescente que se fingiu de morto durante a ocorrência denunciou os assassinatos a sangue frio dos policiais e foi a primeira testemunha no Estado a participar do programa de proteção a testemunhas. O quarteto acabaria absolvido pelo júri popular.

"Ele (Verduraz) sempre foi bem-visto. Fiquei surpreso", admitiu Ariel de Castro Alves, representante do Grupo Tortura Nunca Mais na região e integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na época.

"Durante sua passagem por São Bernardo, sempre respeitou os direitos, foi ético e comprometido. Não sei o que o processo aponta, mas em casos de violência policial ele sempre agiu de forma firme", disse.
Segundo Alves, o delegado participava constantemente de palestra em entidades em defesa da paz. "O que eu conheço da conduta dele, não tenho o que falar", completou.

"Foi uma decisão rigorosa do governo, uma tentativa de tratar como caso exemplar e dando o recado de que não vai aceitar qualquer denúncia relacionada à tortura. Pode vir a ser um exemplo aos agentes", disse.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;