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Vida dedicada a eles: os carros
Do Diário do Grande ABC
09/12/2009 | 07:00
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Trabalhar com automóveis é fantástico. A cada dia aprendemos algo novo. Testamos os mais diferentes veículos. Conhecemos as mais diversas pessoas. Muitas, diga-se de passagem, especiais. E fazendo esta edição de Automóveis tivemos a honra de conhecer Joel Soares da Silva, 71 anos, técnico em mecânica e desenho mecânico - 50 só de experiência em testes de rodagem -, morador de Santo André. Sua virtude? Bem, ele participou do desenvolvimento de alguns dos carros mais importantes do Brasil: Brasília, Kombi, Passat, Santana, SP1 e SP2, Zé do Caixão, além do mais vendido do País há 22 anos, o Gol.

Nascido em São Paulo, Soares iniciou sua caminhada na Volkswagen em 1958, na área de produção. "Fui à Volks com um amigo que iria trabalhar na funilaria. Estava na sala de espera lendo uma Gazeta Esportiva, quando o rapaz da seleção me perguntou: ‘Quer trabalhar aqui?'. Na hora respondi que ‘sim'", relembra.

E bastaram apenas sete anos para ele adentrar o grupo de testes da Volks. "Em 1965, tínhamos apenas quatro Kombis para teste", revela. "Dois anos depois, realizamos a primeira viagem de Kombi até a Bahia, já com motores 1.500 e 1.600", completa.

Naquele mesmo ano, ocorreu a fusão com a VMAG e a engenharia foi transferida para a fábrica 2. "Desenvolvemos o F102, substituto na época do DKW, mas o projeto não vingou", diz.

Na sequência, Soares trabalhou no famoso Zé do Caixão. "O carro veio da Alemanha só com duas portas. Nós que o transformamos em quatro portas", conta Soares, exaltando que o modelo sofreu diversas alterações mecânicas em relação à versão europeia.

Posteriormente veio a Brasília, carro que, para nosso ilustre personagem, foi um dos desenvolvimentos mais fantásticos. "Foi algo fora de série. Viajamos por todo o Brasil. Ele foi totalmente concebido no País,"

Sobre a Brasília, Soares tem boas histórias... "Uma vez, em Baependi (MG), tivemos um problema com a polícia. Testávamos os carros com lastro - sacos de areia - e os oficiais pensavam que a gente ia montar trincheiras. Um dia chegou uma Kombi lotada de policiais e um dos oficiais, tremendo, apontava uma carabina para nós", lembra com riqueza de detalhes. "Fomos para a delegacia. Tive os documentos apreendidos, mas tudo se acertou. O problema é que tivemos que mudar de local, afinal, no quadro do DP estava escrito: ‘Volkswagen em teste na região'. Como andávamos com os veículos disfarçados, tivemos que sair de lá."

Sobre o Gol, Joel lembra que o mais vendido do País nasceu fraquinho. "Após a primeira viagem para São Borja (RS), meu relato foi o seguinte: ‘Até caminhão me passa na estrada'. O motorzinho era horrível", relembra. A impressão de Soares fez com que a Volks trabalhasse com um motor 1.600 em vez do 1.300 inicial.

"Fiz também o primeiro teste do carro a álcool, em Interlagos. Levamos dois Passats e obtivemos os melhores índices de consumo. Depois, levamos os dois carros inteiros para ‘casa', exalta orgulhoso.

Divorciado, pai de quatro filhos e avô de seis netos, Soares participou também do desenvolvimento da tração dianteira. "Nós éramos contrários, mas depois dos testes do Audi 80, que tinha tração dianteira e foi melhor nas avaliações, mudamos de ideia", reconhece. "Logo em seguida veio o Passat."

Durante a entrevista, em que se ouviu ao fundo um DVD de Ray Conniff, Soares nos falou sobre o desenvolvimento do Santana e das gerações dois e três do Gol. "Quando sai da Volks, achei que iria me aposentar. Mas não", sorri Soares, que logo em seguida participou da homologação do Mercedes-Benz CLC, trabalhou pela Ford um ano e ainda teve uma última passagem pela Volks.

Atualmente, Soares trabalha para uma empresa que presta serviços para a Fiat de testes de durabilidade e de homologação de rastreadores. "Enquanto Deus me der saúde, te garanto que vou continuar testando carros."




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