Foi tudo muito rápido: a atriz e cantora Cláudia Netto interpretava a personagem Japaneuza, uma terapeuta ranzinza, quando percebeu um homem na plateia fazendo um gesto obsceno (levantou o dedo médio), saindo em seguida. "Foi inusitado mas, pensando bem, foi também uma vitória do texto que estávamos encenando", conta ela, divertindo-se com as diversas reações provocadas pelo musical "Avenida Q" que, depois de uma temporada de sucesso no Rio de Janeiro, estreia hoje em São Paulo para convidados - sábado para o público.
De fato, desde que se tornou a sensação na entrega do Tony (prêmio aos melhores do teatro nos Estados Unidos) de 2004, quando foi eleito o melhor musical da Broadway, "Avenida Q" tem despertado (muita) admiração e (pouca) ira por apresentar uma combinação original e explosiva: uma história marcada por incorreções contra gays, judeus, negros, minorias, imigrantes e desempregados, que são amenizadas ao serem proferidas por bonecos semelhantes aos que fizeram sucesso em programas de TV como Vila Sésamo e Muppet Show.
"Seria um espetáculo pesado se os oito atores não dividissem a cena com 16 bonecos, manipulados por eles", comenta Charles Möeller que, ao lado de Claudio Botelho, responde pela produção geral do espetáculo.
Novamente, foi o apurado faro da dupla para musicais que garantiu a montagem nacional. "Assistimos na Broadway e ficamos maravilhados com a engenhosidade dos criadores (Robert Lopez e Jeff Marx) em descobrir um caminho que permitisse exibir todos os preconceitos que marcam a sociedade moderna, mas que são, às vezes de forma hipócrita, escondidos", conta Möeller.
"Avenida Q" acompanha a trajetória de Princeton (um dos bonecos) que, recém-formado, pretende começar a vida em um bairro de Nova York. Busca espaço na "Avenida A", região de bacanas cujo preço do aluguel é incompatível ao dinheiro que carrega no bolso, até chegar a um reduto de perdedores - ali, conhece vizinhos peculiares.
"Apesar de a graça do espetáculo estar na presença dos bonecos, a expressividade deles só é possível por conta dos atores", acredita André Dias, que manipula os bonecos Princeton e Rod, realizando um trabalho tão espantoso a ponto de o júri do Prêmio Shell do Rio, onde o espetáculo estreou em março, tê-lo indicado na categoria de melhor ator - e Sabrina Korgut, que manipula Kate Monstra e Lucy De Vassa, como melhor atriz.
O espetáculo, cujas canções são interpretadas por uma orquestra ao vivo, ataca o politicamente correto com músicas como Se Ele For Gay e Todo Mundo é Meio Racista, além de cenas raras, como uma relação carnal entre bonecos.
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