As exportações do Grande ABC somaram no primeiro quadrimestre US$ 1,28 bilhão, o que representou um tombo de 39,85% em relação ao registrado no mesmo período do ano passado.

Os dados, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mostram que a região sente de forma mais intensa os efeitos da crise internacional do que todo o Estado de São Paulo e o Brasil - que apresentaram retração de 28,1% e 17,5%, respectivamente.

Isso se dá entre outros motivos pelo fato de que as vendas externas brasileiras têm sido impulsionadas por commodities (itens como minério de ferro e celulose), enquanto a demanda internacional por carros e autopeças - que dominam a pauta de exportações das sete cidades - têm se reduzido.

"Quem mais compra manufaturados (como automóveis) são os países ricos, que estão em recessão", observou o diretor titular da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Shotoku Yamamoto.

Essa diminuição do faturamento obtido com negócios no Exterior, na avaliação dos especialistas ouvidos pelo Diário, é especialmente preocupante em pólos industriais exportadores, como São Bernardo - que representa quase 70% do valor exportado pela região e que também observou redução de 39% nas encomendas no quadrimestre.

"Essa queda tem mais importância do que a retração do mercado interno; é um quadro grave, muito pior do que o do País", avaliou o professor de economia da Unicamp (Universidade de Campinas) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Gomes de Almeida.

Segundo a professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), há uma correlação, no Grande ABC, entre as vendas a outros países e a geração de postos de trabalho na indústria. "Estudos que fizemos apontam que a exportação é vital para o emprego na região", afirmou.

Almeida acrescentou que o cenário era ruim quando a crise estourou, no fim do ano passado, e pode se agravar ainda mais com a queda do câmbio - o dólar, que chegou a R$ 2,40 após as turbulências, baixaram neste mês para a faixa dos R$ 2,10. "Além da queda das exportações, reduz-se o valor das vendas ao Exterior", explicou.

Venda externa sobe em abril frente a março

Os dados do ministério mostram que houve uma ligeira alta de 5% nas vendas ao exterior das sete cidades em abril frente a março. É um ritmo de crescimento menor do que o observado nos meses anteriores.

Depois de desabar no fim de 2008, as exportações esboçavam reação no início deste ano e em março mostraram alta de 24% na comparação com o mês anterior.

O economista Sandro Maskio, do Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos da Prefeitura de Santo André, observou que, com essa recuperação, a região passou de um saldo comercial (exportações menos importações) negativo em janeiro para um resultado superávitário (positivo) de US$ 104,7 milhões em abril. "Foi quase o dobro do apresentado em março", citou.

No quadrimestre, o saldo, de US$ 192 milhões, ainda é 68% inferior ao registrado no mesmo período de 2008.

A leve melhora da balança comercial no mês a mês não se deu apenas com a elevação das vendas ao Exterior, mas também com a retração de 10% nas importações em abril.

Maskio avalia que a trajetória de retomada do comércio exterior dos sete municípios deve continuar nos próximos meses, "porque há uma tendência de estabilização" da situação internacional.

Há quem tenha uma avaliação mais pessimista. "Se acontecer alguma melhora, deverá ser no segundo semestre", previu Yamamoto. "A perspectiva não é boa; o governo reluta muito em atuar no câmbio (para valorizar o real)", afirmou Almeida.