A exemplo da retomada do mercado internacional de captações, os bancos também começaram a abrir os cofres para emprestar às empresas. Mas as condições impostas não tem empolgado muito o setor produtivo.
Com custos exorbitantes e pedidos de garantias elevadas, boa parte das operações tem se limitado a rolagem de dívidas, especialmente de grandes empresas. No caso de capital de giro e recursos para investimentos, as concessões continuam retraídas.
Apesar disso, especialistas avaliam o movimento como um sinal positivo. Em janeiro e fevereiro, o estoque de crédito recuou para os níveis de outubro, quando a crise estourou no Brasil. "A partir de abril, o mercado voltou a ficar propenso a emprestar, mas com restrições. Isso tem feito com que a retomada do crédito seja mais lenta e fique abaixo das expectativas do tomador", explica o vice-presidente do Banco Fibra, Maércio Soncini.
Segundo o executivo, para as companhias que passaram bem pela crise, o crédito está praticamente normalizado. Nos demais casos, a principal restrição é o risco de inadimplência, o que eleva os custos dos empréstimos e aumenta as exigências de garantias.
Segundo balanço do Banco Central, os atrasos no pagamento das empresas subiram para 2,6% em março ante 1,8% de igual período de 2008. Consequentemente, as taxas médias de juros avançaram de 37,6% para 39,2% ao ano.
Nesse cenário, quem mais tem sofrido são as empresas de menor porte, diz o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Júlio de Almeida, professor da Unicamp (Universidade de Campinas). Ele explica que nos dois últimos trimestres, as companhias resolveram o problema de falta de crédito reduzindo a atividade.
"Hoje o crédito está estupidamente mais caro. Se as condições não melhorarem, elas terão de cortar, mais uma vez, o nível de produção no segundo semestre", acredita o professor da Unicamp.
O sócio da KPMG, Alan Riddell, diretor de estruturação de projetos financeiros, corrobora a informação de Almeida. "Muitas empresas adiaram investimentos por causa das condições do crédito. A demanda maior por empréstimos tem sido para rolar dívidas."
Ainda assim, a retomada do crédito não tem sido linear. Há grupos que têm tentando alongar seu endividamento, mas não tem tido sucesso porque a rentabilidade dos negócios diminuiu. "Temos tentando analisar cliente a cliente", diz o vice-presidente de corporate e empresas do Santander, Eduardo Dacache. Ele argumenta que nos últimos meses houve avanço expressivo da inadimplência e de renegociações judiciais. "Não se trata de ser seletivo, mas de entender o problema do cliente."
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