Cultura & Lazer Titulo Santo André
Fôlego novo na orquestra

Carlos Moreno assume a batuta da Orquestra Sinfônica nesta temporada; anúncio será feito em 8 de abril

Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
28/03/2009 | 07:00
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Sua contratação ainda não é anunciada como oficial, mas a realidade nos bastidores da Orquestra Sinfônica de Santo André e o concerto deste fim de semana, que se coloca como preâmbulo de um possível futuro promissor para o grupo, confirmam o que já existe na prática: Carlos Moreno é o novo regente titular e diretor artístico da sinfônica da cidade. Ele adianta alguns de seus planos para após sua provável efetivação no cargo. A Prefeitura pretende fazer o anúncio no dia do aniversário da cidade, 8 de abril.

Aos 41 anos, Moreno é dono de um currículo respeitável e ocupa o pódio do Teatro Municipal de Santo André com a bagagem de quem foi responsável por um salto de qualidade na Osusp (Orquestra Sinfônica da USP) durante sua gestão (2002-2008) e de quem já tem proximidade com a realidade do Grande ABC, como regente desde 2008 da Orquestra Filarmônica de São Bernardo.

Mais que isso, ele encabeçou a lista tríplice elaborada pelos próprios músicos de possíveis sucessores de Flavio Florence. Wagner Polistchuk e Abel Rocha completavam o time.

Acolhedor, aparentemente calmo e dono de uma certa informalidade que contrasta com o estereótipo de maestro, Moreno se revela firme e obstinado ao falar de seus propósitos para a orquestra. Seu alvo máximo: promover um salto de R$ 1 milhão, aproximadamente, do atual orçamento da sinfônica, para R$ 18 milhões.

Se for levado em conta que o orçamento previa cerca de R$ 27 milhões para a Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer em 2009, é fácil entender o abismo que separa a realidade atual da pretendida.

A estratégia parece percorrer um caminho bem delineado no qual Moreno toma o case de sucesso da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) como principal referência. Na sua opinião, o sucesso se deve sobretudo à vontade política e à adesão da sociedade à orquestra.

Moreno se mostra empolgado com o poder público: "A receptividade que tive do secretário Edson Salvo de Melo e do diretor Pedro Botaro, de Cultura, foi surpreendente. São os dois jovens que gostam de música e isso é tão difícil...eu quase me ajoelhei e levantei as mãos aos céus!"

Se existe a simpatia do poder público, há também planos para a sinfônica ganhar mais público. "Visitei alguns parques da cidade, como o Regional da Criança, o Central, a Chácara Pignatari e pretendo levar concertos populares específicos para esses lugares. Espero que a orquestra abrace os cidadãos e os cidadãos abracem a orquestra".

O projeto artístico mantém as diretrizes de Florence, sobretudo nos concertos de repertório, que continuarão com obras de grande apuro técnico. "Queremos uma orquestra de primeira linha, que faça turnês pelo Brasil e, por que não, internacionais", vislumbra.

O maestro pretende manter as parcerias criadas por Florence, com instituições como a Aliança Francesa e o Instituto Martius Staden e Sociedade Cultural Ítalo-Brasileira. Além da Sociedade Pró-Música, que promoveu importantes concertos, como o do pianista Nelson Freire. "Por que não retomar esse braço forte em prol da orquestra?"

TEMPORADA - A novidade deste ano é que ele pretende integrar aos concertos outras linguagens desenvolvidas na cidade, como o teatro e as artes plásticas. A dança pode ser a primeira experiência. "Teremos Bolero, de Ravel; Sagração da Primavera, de Stravinsky, e Batuque, de Lorenzo Fernandes, coreografados", adianta. Nos dias 12 e 13, o plano é executar a Nona de Beethoven com o Coral da Cidade de Santo André.

"Estou fazendo um estudo junto com a associação dos músicos. Esse projeto não é meu, faço parte dele. E esse desapego me dá muita força", diz Moreno.

VERBAS - Não será o caminho da iniciativa privada a solução pata chegar ao orçamento pretendido. "A Osesp tem R$ 54 milhões anuais, mas a captação de recursos responde por apenas 10%. Não creio que tem de ser assim, ‘a orquestra é um produto, então vocês vão lá e se virem'. A minha expectativa de aporte financeiro é direcionada ao gabinete do prefeito, que é o órgão máximo. Qual seria a verba ideal? R$ 18 milhões. É um trabalho de longo prazo, mas não vou esperar mais 20 anos."

Sobre seu próprio salário, diz: "Desde o primeiro dia, trouxe um valor, mas tenho esse pacto até o final do ano. Assumi com alegria". E continua: " Mas se nada mudar na orquestra, não tenho o que fazer aqui. Estou sendo bem direto."

Homenagem a Florence

Se o concerto deste fim de semana pudesse sinalizar o futuro da orquestra, a peça que abre o programa já seria mais que sugestiva. É a vigorosa abertura Vittória, composta pelo próprio Moreno que dá as boas-vindas à temporada. As apresentações gratuitas, que ocorrem hoje e amanhã, às 20h, no Teatro Municipal de Santo André (Praça 4º Centenário) trazem ainda duas obras famosas e convidativas: o Concerto para Piano e Orquestra em Lá Menor, op. 16, de Edvard Grieg, e Sinfonia nº 4, em Fá Menor, op. 36, de Piotr I. Tchaikovsky.

O solista convidado é Sérgio Monteiro, radicado na Suiça e vencedor do 2º Concurso Internacional Martha Argerich. "Esta obra de Grieg é uma das mais bonitas e conhecidas. Ela é romântica por excelência".

Monteiro vem também por outra razão: ele participou do último concerto regido por Flavio Florence, no Rio, com a Orquestra Sinfônica Brasileira. "Foi um trabalho extenuante para ele, quase um milagre. Essa chama que ele tinha, só os artistas de verdade têm", diz. Os concertos são uma homenagem a Florence, que transformou a orquestra num símbolo da cidade.




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