D+ Titulo Martírio para os dois
Desconstruindo as vítimas da TPM
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
08/03/2009 | 07:00
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Eu ouviria com prazer as constantes broncas do síndico ranzinza do prédio onde moro e percorreria pelo menos uns três quilômetros ajoelhado com uma cruz sobre os ombros para não ter de aturar a TPM de minha mulher. Quem ousou pensar que estou exagerando deveria antes conhecer o temperamento da patroa, pessoa dulcíssima e atenciosa que, no período imediatamente anterior à menstruação, torna-se capaz de debulhar-se em lágrimas diante de um comercial de TV e perder completamente as estribeiras porque eu preferi usar uma velha blusa preta em vez da camisa vermelha que ela considera ‘a minha cara'.

Sei que há explicações científicas para essas alterações no comportamento dela que transformam nosso apartamento em um campo de guerra em determinado período de cada mês. Conhecida clinicamente como desordem neuropsicoendócrina pré-menstrual, a TPM é uma síndrome provocada por influências hormonais normais do ciclo menstrual que interferem no sistema nervoso central, provocando um conjunto de sintomas biológicos.

Atinge todas as mulheres, entretanto, menos de 10% delas apresentam sintomas muito intensos. Além da irritabilidade e da hipersensibilidade, há outros sintomas comuns, como fadiga, aumento do apetite, palpitações e tonturas.

Por isso, compreendo minha amada e sei que o melhor mesmo é não contrariá-la, mesmo quando se mostra insuportavelmente intolerante. Às vezes acho que, se ela fosse presidente dos Estados Unidos, e em um ensolarado dia acordasse com TPM, seria capaz de declarar guerra contra a Coréia do Norte.

Quando suas reações são desproporcionais, tento fazê-la observar a situação com leveza e bom humor. É assim desde o início do relacionamento, há 10 anos. Ou seja: tenho pelo menos uma década de experiência com o assunto, que atormenta a maioria dos homens.

Lembro a ela que o infortúnio vai passar, o sistema de governo não vai mudar no Brasil, a crise econômica não vai cessar e o mundo não vai perder a razão de existir só porque eu não joguei fora aquela embalagem com um restinho de iogurte.

Muitas das discussões que tivemos e foram turbinadas por variações hormonais, começaram como típicas cenas de folhetins mexicanos e acabaram em gargalhadas. Afinal, qual é o sentido de permanecer irritado por uma razão que nos obrigará a discutir no próximo mês?

Apesar dos percalços e das incontáveis ocasiões em que perdi a paciência, admito que não há nada melhor que fazer as pazes após essas briguinhas, que até acabam temperando nosso cotidiano.




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