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Consorte, paixão pela arte
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
28/01/2009 | 07:00
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Um homem que viveu intensamente as paixões pelos palcos e sets de filmagem, refletidas no extenso currículo de bons serviços prestados à classe artística. Assim era o ator paulistano Renato Consorte, que morreu na segunda-feira, em decorrência de um câncer de próstata, aos 84 anos, no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo. O artista deixou dois filhos, quatro netos e a esposa, a antropóloga Josideth Gomes Consorte, com quem completaria 50 anos de casamento. O enterro estava marcado para a tarde dessa terça-feira no Cemitério de Congonhas, em São Paulo.

Carreira - Filho de italianos nascidos na região do Abruzzo, Consorte percorreu um longo caminho antes de dedicar-se às artes cênicas. Na juventude, planejou seguir a carreira de médico, mas acabou estudando na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, na Capital.

O interesse pelos holofotes começou nos tempos de acadêmico, quando participou da Caravana Artística 11 de Agosto, que percorreu o interior do Estado na década de 1950.

Em 58 anos de carreira cinematográfica, Consorte estrelou 40 filmes - 18 deles na lendária Companhia Cinematográfica Vera Cruz, fundada em São Bernardo. Ele cuidou do acervo do estúdio para a Secretaria de Estado da Cultura.

Entre os filmes dos quais participou estão clássicos como "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla, "Eles não Usam Black-Tie", adaptação do diretor Leon Hirszman da peça de Gianfrancesco Guarnieri, e "Rio 40 Graus", de Nelson Pereira dos Santos.

Na televisão, interpretou personagens memoráveis como Chalita, da novela "Tieta" (1989). Foi produtor do programa "Sessão Coruja", em que a atriz Célia Biar apresentava, ao lado de um gato angorá, uma série de filmes estrangeiros.

Também participou do humorístico "A Família Trapo", nos anos 1960, exibido pela Record, e minisséries globais como "O Tempo e o Vento" (1985) e "O Primo Basílio" (1988). Seu último trabalho na TV foi o padre Jeremy Hacker, no folhetim global "Bang Bang" (2005).

Rio - Consorte tinha adoração pelo Rio, onde desembarcou pela primeira vez em 1954, com duas montagens do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia): "Assim é se lhe Parece" e "Seis Personagens à Procura de um Autor", ambas de Luigi Pirandello. Cinco anos depois, celebrou as cinco décadas de funcionamento do Teatro Municipal do Rio com a encenação do histórico espetáculo "O Mambembe", dirigido por Gianni Ratto.

Ele costumava dizer que tinha vivido a época romântica do Rio, em que circulavam pelos bares artistas como Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Em 1963, aos 39 anos, o ator foi um dos dois sobreviventes de um acidente com o avião da ponte aérea Rio-São Paulo, no qual morreram 48 pessoas. Após o trágico episódio, ficou um ano e dois meses internado, mas não deixou de visitar a Cidade Maravilhosa, nem gostava de comentar o ocorrido.

"Sou um sobrevivente da ponte área. Não é bom para a família dos que morreram ficar ouvindo eu falar sobre aquilo tudo", declarou em uma entrevista a um jornal carioca, em 2004.

Entretanto, nessa mesma época, revelou-se melancólico em relação aos rumos da cidade. "Hoje, quando olho, lembro-me daquela música de Ataulfo Alves: ‘Laranja madura na beira da estrada. Tá bichada, Zé, ou tem marimbondo no pé'. Me dá dó".




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