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Bonde imperdível

Livro compila 36 reportagens históricas publicadas nos anos 1970 na revista 'Bondinho'

Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
21/01/2009 | 07:00
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No período mais obscuro do regime militar, quando centenas de perseguidos políticos desapareciam ‘em meio a tantos gases lacrimogêneos', a revista quinzenal Bondinho demarcou espaço no cenário cultural brasileiro. Organizado por Miguel Jost e Sérgio Cohn, o recém-lançado livro Entrevistas Bondinho (Azougue Editorial, 352 págs, R$ 79) reúne 36 reportagens históricas produzidas entre janeiro e maio de 1972 com grandes nomes da MPB, entre eles Tom Zé e Milton Nascimento, além de personalidades do universo teatral, casos de Zé Celso Martinez Corrêa e Mauro Rasi.

Antes de abordar temas artísticos, o veículo - que durou apenas dois anos - foi um guia de informações sobre São Paulo, distribuído a partir de 1970 por uma tradicional rede de supermercados. "A Bondinho é um importante documento da época e estava totalmente esquecida. Há cerca de três anos, comecei a pôr em prática o desejo de resgatá-la", explica Sérgio Cohn, 34, que conheceu a revista por influência do pai.

Apesar de a publicação ter atingido a significativa tiragem de 100 mil exemplares, o organizador conta que enfrentou dificuldades para obter edições. "Segundo o Sérgio de Souza (editor da revista, morto em 2008), os leitores eram hippies que não tinham casa ou guerrilheiros que não podiam ter uma. Então, ninguém guardava".

DESTAQUES - Entre os destaques do livro, estão as entrevistas de Gilberto Gil e Caetano Veloso (apelidado à época de Caretano, por não consumir drogas e ter uma vida pacata), que recordam os tempos de melancolia e falta de perspectivas do exílio em Londres imposto pelos militares. O grupo Novos Baianos explica a influência fundamental do mestre da bossa nova João Gilberto, que culminou na produção do álbum Acabou Chorare, pioneiro na mistura de rock e música popular brasileira.

Chico Buarque revela que as proibições do governo às suas músicas o fizeram pensar em mudar de profissão ou, no mínimo, parar de gravar discos. Nu e sentado em um vaso sanitário, o ator Walmor Chagas fala ao repórter Roberto Benevides sobre homossexualismo e Complexo de Édipo.

"Quando ia sair a entrevista em que o Walmor diz coisas pesadíssimas sobre sexualidade, o Renato Pompeu (repórter) alertou o Sérgio de Souza de que aquilo iria ser censurado e eles seriam presos. O Sérgio disse: ‘Tudo bem, seremos presos. Mas não serei o meu censor'. Essa postura era de muita coragem".




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