Economia Titulo Reajuste
Preço da carne sobe até 55% no Grande ABC

Especialistas justificam alta com queda na exportação, devido à crise; substituição deve ser estudada

Michele Loureiro
Do Diário do Grande ABC
15/01/2009 | 07:00
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Há cerca de dois meses, consumidores do Grande ABC encontram o preço da carne mais alto. Segundo especialistas, o reajuste chega a 55% em alguns casos, como o quilo da picanha, por exemplo, que em novembro era encontrado por R$ 19,90 e agora chega a R$ 35,90 na região.

Para o gerenciador de perecíveis da Coop (Cooperativa de Consumo), a alta pode ser justificada pela queda nas exportações. "Nossos fornecedores alegam que em decorrência da crise econômica a produção foi reduzida, consequentemente a quantidade de carne diminuiu no mercado e teve reajuste no valor", diz Oduvaldo Tozzei.

Segundo o gerente, para economizar, a Coop realiza compras grandes, pois fornece carne para as 15 unidades. "Além disso, compramos a carne semipronta e finalizamos o processo", conta.

Mesmo com as negociações em grande escala, a Coop já repassou cerca de 10% de aumento para os consumidores. "O quilo da picanha passou a custar R$ 22,90 no último mês", diz Tozzei.

Para os estabelecimentos de menor porte, as negociações são mais complicadas e o repasse ao consumidor é maior. "Não gostamos de encarecer preços, mas tendo em vista que os fornecedores aumentam o preço de custo, não podemos arcar com o prejuízo", diz o encarregado da Casa de Carnes Vila Pires, Paulo Reis.

O técnico agrícola da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), Fábio Vezzá de Benedetto explica que a alta aconteceu o ano todo. "Comparado com 2007, houve aumento de 33,42% na carne em 2008", conta. "Mas não há razões palpáveis para isso é mais especulação em torno dos rumores de crise. Retomar patamares estáveis será complicado e demorado", finaliza.

Os frigoríficos da região alegam que a crise econômica barrou as exportações e bloqueios como o da Rússia foram decisivos para o descontrole dos preços, porém esperam retomar fôlego e estabilizar os preços depois do Carnaval.

O economista Silvio Bartollini chama atenção para a postura dos consumidores. "Aumentos abusivos devem ser boicotados. Mesmo sendo um item de primeira necessidade, precisamos nos acostumar a substituir a carne por frango e peixe, por exemplo, até que a situação volte ao normal", diz.

Mas é preciso ter cautela na escolha. Segundo a Craisa, a alta da carne impulsionou a venda de frango, que teve reajuste de 23,17% em 2008.

PREVISÃO - Em entrevistas com entidades do setor de frigoríficos há sete meses, o Diário informou ao consumidor que a alta do preço da carne era prevista. Na ocasião, o presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), Péricles Salazar, explicou que o problema do aumento estava no início da cadeia produtiva. "Há uma escassez de animais para abate. Como a oferta é menor que a procura, os preços tendem a subir", disse.

Açougues registram redução de 40% no movimento

Com o aumento do preço da carne, os açougues da região registram queda de até 40% no movimento.

"Os consumidores estão comprando menos e optando por carnes mais baratas. O problema é que esse movimento de alta no valor da carne não tem data certa para acabar, por isso a situação é preocupante", conta Paulo Reis, encarregado da Casa de Carnes Vila Pires, em Santo André.

Para o gerente do Açougue Boa Carne, em Diadema, o movimento despencou 30% no último mês. "O pior é que não temos justificativas para este aumento, mas precisamos repassar aos consumidores porque nossos fornecedores nos vendem mais caro", conta.

A aposentada Thereza Torres se assustou com o valor do produto. "Minha filha costuma comprar tudo, me surpreendi com o valor da carne e vou ter de diminuir a quantidade, pois o dinheiro não vai dar", conta.

A dona de casa Dinalva Rufino optou por mudar o tipo de carne. "Temos que nos adaptar, se antes comprávamos contrafilé, hoje compramos coxão mole", conta.

Para o morador de Santo André Eugênio Popi, o aumento é abusivo. "Tenho certeza de que não subiu tudo isso, mas quem sempre paga é o consumidor".




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