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'Não há milagre para eliminar dívidas'

Basta um deslize para que a organização financeira de uma família seja substituída pelo temido endividamento

Bárbara Ladeia
Do Diário do Grande ABC
07/12/2008 | 07:03
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Basta um deslize para que a organização financeira de uma família seja substituída pelo temido endividamento. Situações críticas, como a demissão de um dos provedores de renda da casa, se não forem bem administradas, podem criar condições financeiras catastróficas.

Esse é o caso de Marlei Rodrigues. A funcionária pública de 65 anos, após 14 anos de salários defasados, acumula uma dívida de R$ 60 mil entre cartões de crédito e cheque especial. "Não tenho dinheiro para pagar o mínimo dos cartões", lamenta a mãe de família, que sustenta a filha, atualmente impossibilitada de trabalhar, e o neto estudante com os R$ 4 mil que recebe mensalmente. Nem o veículo adaptado para deficientes físicos serve como pagamento. A dificuldade financeira impedia o pagamento de um seguro e o carro foi roubado.

Atualmente ela tenta negociar corte dos juros com as instituições às quais deve, por meio da Andif, ONG especializada em defesa do consumidor do sistema financeiro. "Eu quero pagar o que devo mas, com esses juros, não consigo. "

Para colaborar na solução de seu problema, o Diário procurou o consultor de finanças pessoais Francis Hesse, em busca de alternativas para a reorganização.

"Ela está no caminho certo buscando a negociação", comenta o especialista que valoriza a estabilidade profissional como argumento para barganha. "É preciso que ela se conscientize que o aperto das contas será forte." Deverão ser cortados não só os gastos supérfluos, como algumas das despesas essenciais. Entre as possibilidades, está a substituição dos produtos consumidos por similares mais baratos.

Marlei deverá listar todos os gastos essenciais e subtraí-los do seu rendimento líquido. Além disso, Hesse sugere o mapeamento de bens disponíveis para a venda. "O montante é muito superior ao valor do salário, por isso, um bem de alto valor como um carro ou um apartamento na praia podem funcionar com um lance para quitação da dívida em um prazo um pouco menor". O consultor calcula ao menos 4 anos para eliminação do saldo devedor da funcionária pública. "Não tem milagre, para se reorganizar ela tem de colocar o seu fluxo de caixa no papel", explica Hesse.

Para quem não pretende ser pego pelo endividamento, vale a pena investir em planejamento. "Um ano de poupança é suficiente para sustentar um momento de desemprego ou outros complicadores", explica o consultor. "O aperto e a organização incomodam, mas nada é tão compensador quanto a tranquilidade da família."

ONG propõe negociação com instituições

Os altos juros cobrados pelo mercado financeiro são os principais vilões dos endividados e os principais alvos da Andif (Instituto Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro). Dados do Serasa apontam para 22 milhões de inadimplentes no País.

"As pessoas nunca sabem o que está sendo cobrado delas", afirma o presidente do instituto, o advogado Donizét Piton. Tal desconhecimento leva, em alguns casos, à cobrança de juros abusivos e diversas taxas que nem sempre precisam ser pagas pelo devedor.

"Nós discutimos tudo que é cobrado abusivamente. A evolução do débito é tão descolada do custo real do dinheiro que não há como não haver inadimplência", defende o advogado. A organização orienta o consumidor e, em casos onde não há resolução em negociação, dá orientação jurídica durante o processo contra a instituição financeira. "Já movemos cerca 35 mil ações, com poucas perdas", afirma.

Foi com esse objetivo que a secretária Andréa dos Reis buscou a instituição. Após uma demissão inesperada, Andréa perdeu sua única fonte de renda e caiu no desemprego, acumulando dívidas. Atualmente, ganha metade do salário anterior e busca uma solução para não aumentar o montante de sua dívida. "Sempre acho que vai dar e nunca consigo pagar o valor, por conta dos juros."

A dívida da secretária já chega a 10 vezes o valor do seu salário, que ela prefere não divulgar. Retirados os juros abusivos e taxas indevidas, o montante não ultrapassa dois salários. "Eu não sei onde eles encontram tantos juros. Vamos negociar para chegar o mais perto possível desse valor calculado", conta. Com isso, Andréa espera escapar dos constrangimentos. "Não consigo mais nem fazer compras em lojas populares."




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