Sinônimo de irreverência e boa forma intelectual, o cantor e compositor baiano Tom Zé lança o CD Estudando a Bossa - Nordeste Plaza (Biscoito Fino, R$ 28 em média), em que presta tributo aos 50 anos do gênero que celebrou "o amor, o sorriso e a flor". Inventivo como sempre, o músico disseca à sua maneira os maneirismos do estilo, sem permitir que a reverência limite sua criatividade. Repete, assim, a postura adotada em Estudando o Samba (1976) e Estudando o Pagode - Segregamulher e Amor (2005).
Em sua mais recente empreitada, traduz os clichês melódicos, estéticos e temáticos da turma do ‘banquinho e violão' para a linguagem anárquica da Tropicália. Não faltam pontos de interseção entre os movimentos: no fim da década de 1960, o tropicalismo, que teve Tom Zé como um de seus principais representantes, sucedeu os bossanovistas na redefinição de parâmetros da MPB.
Cantoras - Para ressaltar uma das características da bossa nova, a exaltação da figura feminina, o autor convidou cantoras das mais diversas vertentes para participar do disco, em uma típica atitude tropicalista de defesa da pluralidade.
As exceções masculinas entre os convidados são o cantor e violonista Daniel Maia (em Salvador, Bahia de Caymmi) e o cantor e compositor escocês David Byrne, grande responsável pela revalorização da obra de Tom Zé no Brasil e no Exterior (em Outra Insensatez, Poe!).
Na faixa Rio Arrepio (Badá-Badi), instigante parceria do tropicalista com o ex-titã Arnaldo Antunes, a batida sincopada de violão criada por João Gilberto acompanha a delicada voz de Mariana Aydar. Aliás, é fato que as sutilezas harmônicas da bossa tornaram o canto de Tom Zé mais melodioso e menos estridente que em trabalhos anteriores.
Em Mulher de Música, outra dobradinha do compositor baiano com Antunes, é a vez de Fabiana Cozza interpretar as desventuras de Doralice (título de um clássico de Dorival Caymmi, reverenciado pela bossa nova) e Gal Costa, diva da trupe de Caetano Veloso e Gilberto Gil.
‘Brazil' - Outro destaque do álbum é a faixa Brazil, Capital Buenos Aires, que conta com a participação da vocalista do Pato Fu, Fernanda Takai. Trata-se de um samba nada ortodoxo, repleto de mudanças de andamento e uma letra que frisa, com uma boa dose de ironia, a importância da bossa nova na formação da identidade cultural brasileira.
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