O setor registrou uma redução de 0,4% nos ganhos no mês passado, na comparação com setembro
A atividade industrial no Estado de São Paulo já sentiu em outubro os impactos da crise financeira internacional - ou seja, os problemas originados no setor hipotecário nos EUA que afetaram o sistema bancário daquele país, com efeitos irradiados para todo o mundo -, segundo dados de um indicador da FGV (Fundação Getulio Vargas) e especialistas.
O Sinalizador da Produção Industrial, da FGV em parceria com a AES Eletropaulo, registrou uma redução de 0,4% no mês passado na comparação com setembro, e nos 12 meses terminados em outubro último, a indústria paulista desacelerou, ao marcar 8% de alta, frente a 8,8% no período até setembro.
Na avaliação de Paulo Picchetti, economista da fundação, trata-se de uma queda brusca de um mês para o outro, que mostra que as turbulências no Exterior já atingiram o lado real da economia (o setor produtivo).
Esse indicador, que é um modelo de previsão estatística, que toma como base o nível de utilização de energia elétrica pelas empresas, antecipa em quase um mês a PIM (Pesquisa Industrial Mensal), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
REFLEXOS
Representantes do setor industrial do Grande ABC se dividem em relação às perspectivas. Para o diretor do departamento de Economia da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Roberto Gianinni, a retração em outubro se deveu sobretudo a ajustes de estoques.
"Foi uma adequação, não vejo isso como uma tendência. A produção tende a crescer menos e o aperto do crédito deve impactar no final do ano mas não vejo um problema mais sério no curto prazo", afirmou o dirigente.
Já o diretor titular da regional do Ciesp de Santo André, Shotoku Yamamoto, considera que a tendência é cair mais, devido à elevação dos juros e a falta de crédito. "Muita gente está com receio de comprar bens duráveis (como automóveis) e quem quer comprar não consegue", disse. Ele acrescenta que mesmo a vantagem propiciada pela valorização do dólar não tem revertido em aumento das exportações, já que a demanda externa se retraiu.
Yamamoto cita ainda que muitas pequenas fabricantes da região têm sido afetadas pela retração do volume de encomendas no País e no Exterior.
Retração nas encomendas leva empresas a fazerem ajustes
Empresas do setor de autopeças da região estão fazendo ajustes e, em alguns casos, já reduzem o quadro de funcionários, devido à diminuição do volume de encomendas propiciada pela retração nas vendas de veículos.
A Dura Automotive, de Rio Grande da Serra, por exemplo, observa uma redução de 20% a 25% nas encomendas neste mês e, por conta disso, passou a utilizar instrumentos como banco de horas e férias normais.
"Muita gente tinha férias acumuludas, já que estávamos num ritmo forte", disse o presidente, Mário Henrique Buttino.
O executivo acredita que em dezembro a retração será ainda mais intensa, podendo chegar a 50%, em função das férias coletivas programadas pelas montadoras. Apesar disso, ele se mostra confiante em uma melhora no ano que vem. A Dura projeta crescer 10% neste ano e estima uma queda de 5% em 2009, o que ainda seria uma expansão de 5% sobre 2007.
ENXUGAMENTO - Outras fabricantes, de pequeno porte, já iniciam processo de demissões. É o caso da MRS, de Mauá, que reduziu o quadro de funcionários em 10% desde outubro - passou de 220 para 200 empregados.
O diretor da empresa, Fausto Cestari Filho, relata que houve uma redução das encomendas para os próximos três meses e os pedidos feitos estão sujeitos à confirmação.
Outra pequena, a Resiplastic, também de Mauá, tinha quadro de 170 empregados em setembro. Já demitiu 12 e neste mês cortará mais 17. O empresário José Jaime Salgueiro afirma que muitos clientes empresariais não conseguem obter crédito. "Só estou vendendo com pagamento à vista ou antecipado. Falta dinheiro e os bancos liberam muito pouco", disse.
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