Leilah Assumpção senta-se pela primeira vez na platéia do Teatro Jaraguá onde estréia hoje seu mais novo texto, Ilustríssimo Filho da Mãe, cuja montagem tem direção de Márcio Aurélio e, no elenco, Miriam Mehler, Jairo Mattos e Renata Imbriani em participação especial. Não que Leilah não tenha acompanhado ensaios, pelo contrário, foram quase todos feitos em sua casa. Mas no Brasil os atores só ocupam o palco muito próximo de iniciar temporada.
Às vésperas da estréia, burilam-se pequenos detalhes no cenário, afina-se a iluminação. Enquanto o ensaio não começa, Leilah conta que o texto fora escrito há dois anos, mas o sucesso de Intimidade Indecente adiou a montagem.
“Preferi esperar. Mudo palavras durante toda a temporada, fico voltada para a peça que está em cartaz. No próximo ano, quando comemoro 40 anos de carreira, vou lançar um volume com 13 textos. E já estou incomodada como o fato de que então será definitivo, não poderei mudar nada.”
No palco, Miriam Mehler é uma mulher de cerca de 70 anos, bonita, independente, alegre que, sabemos por um telefonema, está arrumada para sair de casa para encontrar com um homem.
O diálogo, ao telefone, sugere ser um namorado, mas não há expectativa especial, como se já houvesse intimidade. Subitamente, entra na sala seu filho de 40 anos, de malinha em punho. Acaba de brigar com a mulher. O que se passa a partir daí deve arrancar gargalhada da platéia em alguns momentos, olhos marejados em outros. Ambos vão ‘discutir relações’, não necessariamente a deles dois.
Desde o título, a peça sugere um protagonista masculino. Pode parecer novidade, afinal, diferentes estudos apontam o ângulo feminino como importante singularidade na dramaturgia de Leilah. “A partir da mulher, ela analisa a sociedade e a própria condição humana”, escreveu o crítico Sábato Magaldi.
COR-DE-ROSA
Leilah não só assume a temática como prefere a palavra feminista para definir sua obra. “Feminina para mim é coisa cor-de-rosa. Embora o Sábato também tenha dito que eu não era feminista, no sentido de ser panfletária, foi esse movimento que lutou por igualdade de oportunidades, para que então pudéssemos exercer nossas deliciosas diferenças, que são enormes e profundas.”
Mas se o foco no masculino já existia, muda a abordagem. “Repare que há uma inversão no comportamento do personagem Jorge Araújo: a esposa é inteligente, bem-sucedida, independente. A amante é a mulherzinha gostosa. Ele é o Jorginho, o Machão, peça de 1971, que já mudou. Jorginho era arquiteto, queria ser artista, mas opta pelo dinheiro e pelo casamento com a menina do interior. Jorge fez opções mais maduras em sua vida. Mesmo assim, agora está em conflito. Não vou estragar a surpresa, mas posso dizer que opta pela transcendência.”
Há sempre algo de imponderável diante de um espetáculo. Mas a julgar pelo ensaio, tudo indica que vem aí outro sucesso de Leilah Assumpção.
Ilustríssimo Filho da Mãe – Teatro. Texto de Leilah Assumpção; direção de Márcio Aurélio. Com Miriam Mehler, Jairo Mattos e Renata Imbriani. Estréia hoje, às 21h. No Teatro Jaraguá – Rua Martins Fontes, 71, São Paulo. Tel.: 3255-4380. Sexta-feira e sábado, às 21 h; domingo, às 19h. Ingr.: R$ 60 e R$ 30 (meia entrada).Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.