A Galeria Berenice Arvani, em São Paulo, oferece a partir de hoje, às 20h, uma boa oportunidade para contextualizar o trabalho do pintor andreense Luiz Sacilotto (1924-2003) ao lado de seus contemporâneos. A exposição gratuita Ruptura, Frente e Ressonâncias, reúne cerca de 50 obras de outros 19 artistas que fizeram parte do movimento construtivo.
Na prática, o período artístico é representado pelos grupos Ruptura (do qual Sacilotto foi um dos expoentes), de São Paulo, e Frente, do Rio de Janeiro, ambos criados nos anos 1950. A curadoria é do jornalista Celso Fioravante e a mostra segue até 30 de maio.
“O mercado de arte está carente da produção dessa década e tem havido muita procura. Pretendemos também dar uma relevância maior ao Frente, já que em São Paulo os cariocas tiveram menor visibilidade”, diz Fioravante.
Embora tenha como referência os dois coletivos, a mostra não ignora nomes importantes que não se enquadraram a eles, como o italiano radicado em São Paulo Alfredo Volpi (1896-1988). A mostra também acompanha o trabalho dos artistas ao longo das décadas seguintes à dissolução das associações – obras que equivalem ao Ressonâncias do título escolhido para a reunião das obras.
O resultado é um apanhado de aquarelas, desenhos, guaches, tapeçarias, colagens e fotografias. A obra mais recente é do alagoano Rubem Ludolf (do Frente) finalizada este ano. Apesar da diversidade, a exposição não se propõe a fazer retrospectiva completa dos movimento, já que nem todos os artistas que dele fizeram parte estão presentes na mostra.
A pesquisa de Fioravante e da organizadora, a marchand Berenice Arvani, demandou cerca de seis meses. Alguns trabalhos já faziam parte do acervo da galeria, especializada em arte concreta, outros foram conseguidos junto a colecionadores dispostos a comercializá-las.
De acordo com o curador, o mais trabalhoso foi reunir pinturas produzidas no início do movimento. “Mas conseguimos exemplos belíssimos como quadros de Hermelindo Fiaminghi (1920-2004), Judith Lauand e Ivan Serpa (1923-1973)”, afirma Fioravante. Volpi, um dos artistas da época mais demandados atualmente, também deu trabalho na garimpagem. Outros nomes são Décio Vieira (1922-1988) e Lothar Charoux (1912-1987).
CONTEXTO
Apesar de desenvolverem a mesma linguagem na mesma época, Ruptura e Frente apresentavam diferenças estruturais que atrapalharam o diálogo entre paulistas e fluminenses. A não ser por participações de um artista ou outro em exposições no Estado vizinho, poucos intercâmbios fizeram.
“O Ruptura, liderado pelo Waldemar Cordeiro (1925-1973) era muito rígido. Para fazer parte dele, era necessário que o artista seguisse várias exigências. Já no Frente, que tinha à frente Ivan Serpa, um professor muito generoso, tinha-se toda liberdade para experiências” afirma o curador.
O conjunto do qual Sacilotto fez parte inaugurou a chamada arte concreta no Brasil em uma exposição em dezembro de 1952, no MAM (Museu de Arte Moderna). Seus integrantes, explica Fioravante, tinham de se preocupar exclusivamente com a linguagem, sem dar margem a devaneios, a ponto de quase não se diferenciar um artista do outro a princípio. No fim da década, houve a dispersão. “O País já não vivia a febre da industrialização e o grupo perdeu o vigor”.
Ruptura, Frente e Ressonâncias. Exposição. Na Galeria Berenice Arvani – Rua Oscar Freire, 540, São Paulo. Tel.: 3082-1927. Até 30 de maio. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Grátis.Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.