Cultura & Lazer Titulo
Stênio Garcia contra o racismo
Márcio Maio
Da TV Press
03/01/2008 | 07:01
Compartilhar notícia


Depois de 50 anos de carreira, Stênio Garcia já se sente no direito de comandar sua carreira na televisão. Mas, como o próprio ator gosta de dizer, tem certas horas em que é impossível dizer não. Foi esse o caso de Duas Caras. Quando foi informado pela emissora de que estaria no elenco da novela, Stênio não imaginou que poderia ser seduzido pela história de Aguinaldo Silva. “O meu ‘xodó’ é o Carga Pesada, mas devo confessar que o Barreto está me surpreendendo. Estou adorando levantar essa questão do preconceito no horário nobre”, afirma. Mesmo sem confirmação da próxima temporada do seriado, Stênio já se prepara para emendar as gravações da trama de Aguinaldo com as aventuras dos caminhoneiros. Sua maior esperança está na possível renovação do contrato com o patrocinador.

Desde O Clone, em 2001, o senhor estava afastado das novelas em função do Carga Pesada. Esse retorno foi a contragosto?

STÊNIO GARCIA – Não imaginava que poderia ser tão bom. Uma das coisas que me prendia muito ao Carga Pesada era o fato de lidar com as classes mais populares em cena. E, de repente, vem uma novela que me coloca na pele de uma advogado de caráter duvidoso, totalmente preconceituoso, com uma filha que namora um negro favelado. É um papel que motiva uma reflexão não só no telespectador, mas na própria equipe. Estou muito surpreso com as manifestações populares em relação ao núcleo do Barreto na novela.

Como são essas manifestações?

GARCIA – As pessoas questionam muito o preconceito. E, infelizmente, ele persiste na sociedade. Só que enrustido. As pessoas costumam adotar uma posição de ficar em cima do muro, sem se manifestar contra ou a favor. É mais cômodo. Mas o Brasil é um país de misturas, o que deveria fazer esse tipo de idéia ser abolida de vez. Até já brinquei com o Lázaro Ramos sobre isso. Disse que quando o Barreto estiver xingando ele de negro ou tição, ele deve chamá-lo de caboclo. Porque é isso que eu sou, e não dá para disfarçar em cena. Sou uma mistura de índio, português e italiano, e com certeza tem negro na minha árvore genealógica.

Pela sinopse original, o motivo do preconceito do Barreto seria explicado ao longo dos capítulos. O senhor sabe qual é?

GARCIA – A idéia original, a princípio, não deve mais ser trabalhada. E, sinceramente, acho melhor assim. Essa raiva toda dele pela relação da filha estaria ligada ao homossexualismo enrustido. Mas aí ficaria justificando uma coisa na outra, como se a gente tivesse que dar uma desculpa para essa maldade. É melhor que venha de uma falha na personalidade dele ou no caráter mesmo. Aparentemente, ele até é um cara do bem. Mas tudo isso pode mudar. A grande defesa do Barreto é a família. Existe um posicionamento familiar muito grande ali e não seria legal usar algo que pudesse desmontar esses valores assim tão de repente.

Nos últimos anos, sua carreira está totalmente focada na televisão. O senhor não sente falta de fazer teatro e cinema de novo?

GARCIA – Teatro eu não penso em fazer tão cedo. Por acaso, vou fazer um filme este ano, o Quincas Berro D'Água. Vou protagonizar, então tem um outro gostinho. Mas tento matar a saudade do teatro e do cinema assistindo às produções. Aproveito que eu e o Fagundes temos uma agenda parecida e nós dois combinamos e vamos juntos. Estou mais espectador do que atuante, e isso também é muito bom.

O senhor está com 75 anos de idade e comemora 50 anos de carreira. Nunca teve vontade de parar de trabalhar?

GARCIA – Por mim, ainda quero mais uns 15 ou 20 anos para experimentar personagens novos ou tipos que não explorei tanto. Quero um que misture vários palhaços e ícones do humor clown, um pouco de Charles Chaplin, Oscarito e Grande Othelo. Fiz um curso específico de palhaço e há tempos espero para colocar isso em prática. Já experimentei um pouco há 18 anos, quando fiz Que Rei Sou Eu?. Ainda existe muita coisa que quero fazer, estou na minha melhor forma.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;