Economia Titulo Alta
Envio de lucros e dividendos dobra nos primeiros 6 meses
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29/07/2008 | 07:02
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O envio de lucros e dividendos do Brasil para o Exterior quase dobrou no primeiro semestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Dados divulgados na última segunda-feira pelo BC (Banco Central) mostram que as remessas somaram US$ 18,993 bilhões nos seis primeiros meses do ano. O valor é 93,67% maior que o registrado em igual período de 2007.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que os dados revelam mudança estrutural de perfil no balanço de pagamentos.

A mudança nas contas externas foi gerada por dois movimentos, explica Altamir. Aumento do peso das remessas no resultado geral e, ao mesmo tempo, a importância da despesa com juro tem diminuído.

No semestre, o gasto com juros somou US$ 3,356 bilhões, valor que equivale a 17,6% do montante de remessas. No primeiro semestre de 2007, os juros corresponderam a 46% das remessas.

Lopes observou que é mais fácil fazer um ajuste nas contas com o novo perfil, já "que lucro só se remete quando tem lucro". Ele lembrou que no perfil anterior o balanço de pagamentos tinha maior peso dos juros e que, com a economia em expansão ou não, essa despesa existia e era preciso pagar o compromisso.

Hoje, se a economia se desacelera, a lucratividade tende a cair, o que diminui as remessas e, conseqüentemente, o déficit em conta corrente. "Essa estrutura do balanço de pagamentos é positiva e financiável."

Outro ponto positivo da atual estrutura diz respeito ao comércio exterior. Altamir lembrou que a eventual desaceleração da economia repercute no ritmo das importações, outro fator que explica a deterioração das contas externas.

Sobre a compra de bens e serviços de outros países, Lopes acredita que deve ocorrer desaceleração no médio prazo.

Contas externas têm pior 1º semestre da história

O Brasil amargou no primeiro semestre o pior resultado das contas externas desde o início da série histórica, em 1947. De janeiro a junho, o conjunto das transações de comércio, serviços e rendas do País com o Exterior gerou déficit de US$ 17,4 bilhões.

Um volume recorde de dólares deixou o Brasil no período por meio dessas transações. Um dos fatores destacados pelo Banco Central para explicar o forte déficit externo foi o crescimento das remessas de lucros e dividendos das multinacionais para
suas sedes. De janeiro a junho, somaram US$ 18,99 bilhões, valor 93,6% maior que em igual período de 2007.

Além disso, a contribuição da balança comercial tem diminuído. No semestre, o saldo comercial ficou em US$ 11,34 bilhões, 44,8% inferior ao do mesmo período de 2007. Isso ocorre porque as importações têm crescido com o dólar fraco e a demanda interna aquecida. Para piorar, as viagens internacionais avançam e o déficit do turismo saltou 148,5%, para US$ 2,63 bilhões.

Apesar da forte deterioração nas contas externas, o Banco Central avalia que o resultado não preocupa porque a entrada de IED (Investimento Estrangeiro Direto) voltado para a produção, tem compensado os números negativos.

"O déficit é perfeitamente financiável", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Ele citou a entrada de US$ 30,43 bilhões de IED nos últimos 12 meses, suficientes para cobrir o déficit de US$ 18,1 bilhões do período.

Nos semestre, no entanto, o investimento somou US$ 16,7 bilhões e foi menor que o déficit de US$ 17,4 bilhões. Para o BC, o ideal é analisar o déficit na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto) e sua evolução em relação à média histórica. Dessa forma, o resultado dos 12 meses até junho soma 1,32% do PIB, longe do pior déficit da série: 4,82% em agosto de 1999.

Segundo Lopes, o déficit externo médio de 1970 a 2007 foi de 2,1% do PIB. Para reforçar a visão otimista, Lopes citou países com perfil de risco semelhante ao do Brasil, como Índia e Colômbia, que têm déficit maior. "Se compararmos com economias semelhantes, estamos bem abaixo."

O BC considera que a desaceleração da economia, prevista pelo mercado, deve colocar um freio na escalada do déficit externo.

Superávit já supera em 18% desempenho de julho passado

O desempenho das exportações melhorou em julho, o que ajudou o superávit comercial acumulado no ano. Enquanto no acumulado do ano o saldo mostra queda de 37,1% pela média diária em relação ao mesmo período de 2007, o superávit deste mês, até a quarta semana, já supera em 18,7% o de julho do ano passado.

Na semana passada, as exportações totalizaram US$ 5,43 bilhões, com média diária de US$ 1,08 bilhão - novo recorde para desempenhos semanais. As importações somaram US$ 3,99 bilhões, com média diária de US$ 798,6 milhões.

O resultado foi um superávit comercial de US$ 1,43 bilhão, o segundo melhor em 2008, atrás apenas do saldo da segunda semana de maio, de US$ 1,47 bilhão.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a média diária das exportações este mês, ante julho de 2007, cresceu 41,7% e das importações, 48,8%.

No acumulado do ano, entretanto, a alta das vendas externas é de 26,9% em relação ao mesmo período do ano passado, bastante inferior à alta das importações ( 51,3%).

As exportações totalizam em julho US$ 17,27 bilhões, com média diária de US$ 909,2 milhões, e as importações somam US$ 13,84 bilhões, com média diária de US$ 728,8 milhões.




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