Vários moldes e tamanhos adotados pelas confecções são sinônimo de dor de cabeça a muitos consumidores
Que manequim você veste? Esta nem sempre é uma pergunta fácil de ser respondida, já que uma mesma pessoa pode ter no armário roupas de variados tamanhos em razão dos diferentes moldes adotados pelas confecções. Para muitos, este desencontro de medidas acaba transformando uma simples saída às compras numa árdua tarefa.
Até existem regras relacionadas à padronização do vestuário, definidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), mas a adesão a elas é voluntária e não há punição para as confecções que não seguirem os padrões estabelecidos. Tais regras, inclusive, estão em processo de atualização por conta da mudança do biotipo brasileiro de alguns anos para cá.
A estudante Patrícia Bascoy, 20 anos, é uma das muitas consumidoras que encontram dificuldades em acertar a numeração na hora da compra. "Nunca uso um mesmo número. Sempre sou obrigada a provar", afirma. "Fico nervosa, ainda mais quando a loja é de departamento. Se não serve, tenho que sair do provador, pegar outra peça, entrar de novo... Ou então tenho que entrar com várias calças de uma vez só, de tamanhos diferentes", relata.
Muito mais do que transtornos, Patrícia já passou por uma situação constrangedora quando foi presentear uma amiga. "Perguntei à mãe dela a numeração de calça que ela usa, mas quando minha amiga foi provar, não passou nem pelo joelho".
Carolinne Machado, 19 anos, também já passou pela mesma situação, mas na condição de presenteada. "Uma vez ganhei um short da minha madrinha, mas quando fui experimentar, ele não subiu. Na verdade, isso já aconteceu mais de uma vez, e eu sempre fico com vergonha de dizer que o presente ficou pequeno", revela.
A mãe de Carolinne, a consultora pedagógica Sandra Machado, 43 anos, também tem reclamações semelhantes. "Quando compro alguma roupa para uma adolescente por volta dos 16 anos, por exemplo, peço PP. Mas às vezes fica grande. Aí a pessoa vai trocar e nem sempre tem a mesma peça, ou a mesma cor. Ou seja, eu dou uma blusa e a pessoa acaba ficando com um pijama", brinca.
Padrão - Por mais que cada confecção tenha seu próprio corte, existe uma padronização estabelecida pela ABNT desde 1995, de acordo com as medidas referenciais do corpo humano. O que acontece é que a adesão à norma não é obrigatória, e por isso há tanta diferença entre as peças.
Natália Montoro, da Nathalis Malharia e Confecções, em Santo André, é uma das poucas que seguem a padronização da ABNT. "Acredito que outras confecções têm tamanhos distintos por uma questão de perfil de mercado", afirma. "Depende de quem se quer atingir. Os corpos são diferentes conforme a idade, por exemplo".
Isaura Gusman, da Malcon Malharias Confecções, concorda com Natália. "É difícil seguir um padrão porque existe uma infinidade de modelos, de perfis", aponta.
Já Silmara Cristiane de Matteo, da Krispian Confecções, atenta para outra questão que não pode ser esquecida: a interferência de outras culturas na moda brasileira. "O Brás (bairro paulistano conhecido pelo comércio na área de vestuário, principalmente na forma de atacado), por exemplo, segue o padrão coreano, cujos moldes são pequenos".
Esses moldes "minúsculos" são a principal insatisfação de Neide Soares, 39 anos. "Me sinto enganada, e o pior é que não tem nem pra quem reclamar", afirma a manicure. "As confecções fazem peças muito pequenas. São roupas que não servem em ninguém". A reclamação não pára por aí. "Às vezes parece que as lojas de marca acham que pessoas de porte maior não podem vestir suas roupas. Parece que essas pessoas têm que vestir roupa feia", completa.
No entanto, mesmo sendo a minoria, existem confecções que seguem na contramão da tendência coreana. A Top GG é uma delas. "O nosso tamanho P é o M de outras confecções", afirma a representante da marca, Maria Mouron.
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