Em entrevista exclusiva ao Diário na sexta-feira, ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, destacou investimentos na região
DIÁRIO - Como se dá a parceria entre governo federal e Prefeitura de Santo André para o combate ao crack?
ALEXANDRE PADILHA - Assim que o prefeito Carlos Grana assumiu o cargo, o secretário de Saúde, Homero Nepomuceno, apresentou projeto que, inclusive, já foi aprovado pelo colegiado regional e pelo Ministério da Saúde.
DIÁRIO - O que o projeto prevê para a cidade?
São recursos para a construção de dois Caps AD (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), duas unidades de acolhimento e instalação do consultório de rua.
DIÁRIO - Qual o valor da verba disponível?
PADILHA - O Ministério da Saúde disponibilizou no fim de 2011, para todo o Estado, R$ 500 milhões com o objetivo de montar rede que cuide dos dependentes. Para Santo André, os repasses serão definidos a partir de março.[/24.TXT_RESP]
DIÁRIO - Além dos investimentos, o que é necessário para solucionar o problema das drogas?
PADILHA - Toda a sociedade deve se unir. Esporte, Cultura e religião podem oferecer aos dependentes o caminho da saúde. Junto a isso, são necessárias ações contra o tráfico e trabalhos de prevenção, tornando a capacidade de vencer o crack maior.
DIÁRIO - No ano passado, o senhor anunciou repasse de R$ 153 milhões para a região, destinados à rede de urgência e emergência. Quanto desses recursos foi liberado até agora?
PADILHA - O recurso já está disponível para os municípios, mas a distribuição da verba depende do esforço das cidades em apresentar projetos e planos de melhorias. Fazemos isso porque queremos que o recurso se transforme em atendimento de qualidade.
DIÁRIO - As nossas cidades já apresentaram propostas para a área de urgência e emergência?
PADILHA - Os projetos para melhorias devem começar a ser apresentados pelas prefeituras em março. O Consórcio Intermunicipal se reunirá para fechar a proposta da região na área da Saúde.
DIÁRIO - Qual a importância do Consórcio para a Saúde do Grande ABC?
PADILHA - O Consórcio tem papel de liderança. Só será possível resolver os problemas referentes à Saúde na região se as demandas forem discutidas em conjunto. Uma Prefeitura sozinha não será capaz de cuidar de tantas questões.
DIÁRIO - E quanto às posições e ideologias partidárias tão divergentes entre si? Podem atrapalhar o andamento dos projetos?
PADILHA - Acredito que a Saúde está à frente de qualquer questão partidária. Nosso esforço é de aproximar não só os prefeitos, mas também trazer a Secretaria Estadual da Saúde para o papel que ela deve cumprir.
DIÁRIO - A falta de médicos nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) da região são um dos principais problemas enfrentados pela população do Grande ABC. O que o governo federal propõe para melhorar essa situação?
PADILHA - O maior desafio para consolidar o SUS (Sistema Único de Saúde) é a oferta de médicos. Não só a quantidade, mas a qualidade e a especialidade são necessárias, o que requer investimento na formação. Para formar um médico, são necessários de seis a oito anos. Hoje o Brasil tem 1,8 médicos por 1.000 habitantes. Na Inglaterra são 2,7 médicos. Portugal tem quatro. Espanha tem 3,9. Cuba tem 6,7, e a Argentina tem mais de três.
DIÁRIO - O que fazer para ampliar e melhorar a qualidade do ensino da Medicina no País?
PADILHA - O Brasil precisa de um plano estratégico de formação de médicos. Recentemente saiu uma portaria do MEC (Ministério da Educação) que estabelece critérios. Por muito tempo, a instituição de ensino apresentava o projeto e dizia que queria construir uma faculdade em determinado lugar. Agora as novas regras determinam que onde existem poucas vagas por habitantes devem ser instaladas faculdades de Medicina. Por exemplo, o Grande ABC pode e deve ter mais cursos, pelo tamanho da população. Paralelo a isso, devem existir medidas que induzam os médicos a estarem onde são mais necessários, que é na atenção básica.
DIÁRIO - E qual seria o papel do Consórcio na formação desses profissionais e no incentivo para que permaneçam onde são mais necessários?
PADILHA - Pesquisamos as experiências de outros países e todos conseguiram alcançar esse objetivo de duas formas: remuneração e plano de carreira. Sendo assim, o Ministério da Saúde apoia o Consórcio a montar um plano de carreira regional voltado para a atenção básica. Você teria que ter uma carreira vinculada ao órgão, na qual o profissional possa ficar um período em Mauá, outro em São Bernardo, e por aí vai. O Consórcio apresentou proposta em 2011 e o ministério está estudando o modelo da carreira. A ideia é que o profissional vá progredindo de acordo com as avaliações de qualidade do atendimento por ele prestado.
DIÁRIO - Dessa forma, a ascensão na carreira estaria ligada à qualidade da Saúde na região como um todo?
PADILHA - No Ministério da Saúde, criamos uma regra chamada Programação de Qualidade na Atenção Básica, na qual podemos dobrar os repasses para cada equipe de acordo com a qualidade do atendimento. Um dos critérios é ter uma carreira estável. A carreira regional é muito bem-vista pelo Ministério da Saúde. Na pontuação de qualidade entram indicadores de Saúde, frequência, se o médico comparece ao trabalho no horário certo, além, é claro, da satisfação do usuário.
DIÁRIO - Hoje qual a meta do Brasil em número de profissionais de Medicina?
PADILHA - Hoje temos 1,8 médicos por 1.000 habitantes. Trabalhamos para chegar a 2,7 médicos para cada 1.000 habitantes.
DIÁRIO - O maior problema, porém, é a distribuição de profissionais em grandes centros urbanos e carência nos locais mais afastados. Aumentando o número de profissionais, esse quadro não irá se agravar?
PADILHA - Nós temos menos médicos por habitantes que em outros países e eles são mal distribuídos. Brasília tem quatro para cada 1.000 habitantes e o Maranhão tem 0,6. Precisamos formar mais e distribuir melhor. São Paulo tem 2,4 médicos para cada 1.000 pessoas. mas a Região Metropolitana tem menos de dois. Precisamos encontrar maneiras de fixar os médicos aqui.
DIÁRIO - Quais especialistas estão mais em falta?
PADILHA - Pediatra, neurocirurgião e anestesiologista. São as grandes demandas das cidades, médicos imprescindíveis para garantir o atendimento de urgência e emergência.
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