O dia seguinte ao incêndio no alojamento no Jardim Silvina, em São Bernardo, foi marcado por protesto
O dia seguinte ao incêndio que consumiu o bloco J do alojamento no Jardim Silvina, em São Bernardo, foi marcado por desconsolo e protesto de moradores, que interditaram as duas pistas da Avenida José Fornari para protestar pela falta de apoio da Prefeitura. A administração recebeu críticas dos desabrigados e rebateu dizendo que o auxílio oferecido foi recusado pela população.
Parte das 11 famílias desalojadas pelo incêndio tentava comemorar o fato de ter escapado das chamas anteontem à noite e da água há quatro anos, quando foram removidas da favela do Montanhão para o alojamento. Mas a humilhação perseguia a todos. "Passei a noite na rua e não sobrou nada. Estou só com a roupa do corpo", disse Maria Gorete Rodrigues de Souza, que morava no local com cinco filhos.
Ao lado da neta, a dona-de-casa Maria do Socorro de Almeida, 47 anos, não escondia o choro, enquanto caminhava pelos destroços. "Não sei como vai ser a vida agora. É uma tristeza só", lamentava.
A menina de dois meses dormia tranqüilamente no colo, mas a mãe Luana Daniele Mello, 20, gritava ao microfone do carro de som emprestado por políticos da cidade. "É o abandono total, um caos. Ninguém resolve nada", disse.
A Polícia Militar foi chamada para conter possível tumulto, mas não ficou insensível ao cenário de desolação. Arranjou pães e água entre os comerciantes próximos, distribuindo para as crianças na hora do almoço.
A Prefeitura de São Bernardo nega que tenha abandonado os desalojados, como foi dito pelos manifestantes. Lote de cestas básicas teria sido oferecido duas vezes às pessoas, tanto anteontem à noite como na manhã de ontem. A recusa teria partido de líderes informais, rechaçando o que haviam chamado de "esmola", segundo a administração.
O secretário de Habitação e Meio Ambiente, Euclides Garrotti, recebeu comissão de moradores no meio da tarde, e ofereceu alternativas emergenciais. Acordo entre as duas partes definiu que as famílias permanecem na casa de amigos e parentes até que unidades em outros blocos do próprio alojamento serem preparadas pela Prefeitura, a partir de segunda-feira.
Garroti disse ainda que muitas famílias foram cadastradas em outubro para receber uma bolsa de até R$ 350 do Renda-Abrigo, mas recusaram a proposta. Ele reconheceu também a responsabilidade do poder público, lamentou a falta de infra-estrutura e de equipamentos contra incêndio, mas disse que inspeções periódicas têm sido feitas nos alojamentos da cidade. "Infelizmente, elas não chegaram a tempo no Jardim Silvina", explicou.
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