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Velhas táticas de campanha continuam

Mesmo com a internet, candidatos não deixam de lado o corpo a corpo e as caminhadas durante campanha

Rita Donato
Do Diário do Grande ABC
15/06/2008 | 07:00
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Caminhadas, comícios, reuniões em bairros, distribuição de santinhos pessoalmente, parada para um cafezinho na padaria ou para um pastel na feira da periferia. Em plena era digital, os políticos não abandonaram as antigas táticas de campanha para aderir às novas tecnologias por um motivo simples: as técnicas usuais, não ultrapassadas, são fundamentais para garantir a vitória nas urnas.

O especialista em marketing político e presidente da ABCOP (Associação Brasileira dos Consultores Políticos e Assessores Eleitorais), Carlos Manhanelli, garante que os "velhos truques" nunca sairão de cena. "As formas antigas de se fazer campanha nunca desaparecerão. O contato físico é fundamental, independentemente do rádio ou da TV. Por esse motivo, políticos mais experientes sempre ganham a eleição", observa.

Segundo o marquetólogo, a internet não pode ser considerada veículo de comunicação de massa, portanto, não é essencial na divulgação do nome do candidato. "O ideal é unir as duas linguagens (táticas antigas e atuais), mas a internet é um meio elitista, serve apenas para militantes partidários ou já eleitores. Nenhum pobre, que precisa acessar a internet da lan house, vai pagar uma hora para ver propaganda política", pondera o especialista.

CANDIDATOS MARCANTES - Pioneiro em estratégias para aumentar o número de eleitores, o ex-presidente Jânio Quadros entrou para a história por popularizar as caminhadas e encontros com a população de baixa renda. Entre os truques, não faltava o sanduíche de mortadela que tirava de dentro do paletó, os sapatos trocados e o talco na roupa, para dizer que tinha caspa.

A tática, a qual Manhanelli caracteriza como "política do teatro", não perdurou. "A diferença é que a enganação não funciona mais. O que existe hoje é o respeito às tradições. Dependendo da região, os candidatos vestem-se a caráter, se necessário usam quimono, chapéu de couro etc."

Atualmente, o desafio dos marquetólogos é atrelar a imagem dos candidatos às figuras do "herói, homem simples, grande pai ou líder charmoso". "Um sociólogo francês publicou um estudo afirmando que tais conceitos se consagram nos países democráticos. Uma vez que já sabemos o que o eleitor espera de um candidato, fica mais fácil trabalhar uma imagem já percebida pelo eleitor", afirma o especialista.

O ex-chefe de Estado Getúlio Vargas se encaixa no perfil do grande pai. "Ele usava o populismo através das ações trabalhistas", conta Manhanelli. "Juscelino Kubitschek era o sedutor, o líder charme. Fernando Collor de Mello se apresentava como marajá, que lutava caratê, ele era a imagem do herói e quando partiu para a campanha reforçou a imagem."

O presidente Lula representa a imagem do povo brasileiro. Isso explica sua reeleição. "É a figura do homem simples, que emergiu da classe trabalhadora, ele se caracteriza como uma pessoa capaz de entender os problemas da população."

Prefeituráveis apostam nas antigas estratégias

Os principais pré-candidatos à sucessão das sete cidades do Grande ABC são unânimes ao afirmar que não deixarão de lado as "táticas de guerra" nas eleições de outubro.

Com uma experiência política de mais de 40 anos, o prefeiturável de Santo André Newton Brandão (PSDB), candidato a prefeito pela primeira vez em 1967, aposta no contato com os eleitores. "Vamos ir de casa em casa, fazer as caminhadas." Mas o médico afirma estar antenado às novas tecnologias.

Novato na eleição majoritária andreense, o deputado estadual Vanderlei Siraque (PT) também assegura apostar nas duas linguagens. "É uma soma de fatores. A preferência é apresentar propostas e falar com a sociedade por diversos meios de comunicação. Particularmente, tenho trabalhado na rua há 20 anos, mas a internet veio para ajudar. "

Os pré-candidatos mais jovens da região, deputados estaduais Alex Manente (PPS) e Orlando Morando (PSDB), disputarão o Paço de São Bernardo. Adeptos da tecnologia digital, os rivais insistem nas técnicas tradicionais.

"O contato direto com o eleitor é a possibilidade de apresentar as propostas. É fundamental", avalia Manente. "A internet está cheia de restrição, representa a modernidade, mas não se compara ao contato direto", completa Morando.

A realidade é a mesma em São Caetano: apresentar o projeto direto aos eleitores é a melhor tática. "Vamos fazer comícios, caminhadas e passar pelos principais colégios. Essas ainda são as formas mais eficientes para se conversar com a população", considera o petista Jayme Tortorello.

Pré-candidato à reeleição, José Auricchio Júnior (PTB) tem o mesmo posicionamento do adversário. "A aproximação com o eleitor, o contato verbal, andar pelas ruas são as melhores formas de transmitir a mensagem ao morador."

Em Diadema, o candidato Mário Reali (PT), também manterá a visita porta a porta, reuniões com lideranças e carro de som, "táticas que sempre funcionaram e são fundamentais durante a campanha".

Um dos prefeituráveis de Mauá, Francisco Carneiro, o Chiquinho do Zaíra (PSB), compartilha da mesma opinião. "Os meios tradicionais que ganham a campanha."

Em Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV) tentará a reeleição fazendo a tradicional campanha de rua. "O olho no olho, o aperto de mão e a conversa aumentam a confiança. Desde que me tornei político, em 1982, faço este tipo de campanha."

O prefeito de Rio Grande da Serra, que tentará a reeleição, Adler Kiko Teixeira (PSDB), segue o mesmo discurso. "O contato pessoal, principalmente em cidades menores, é a forma mais direta de atingir o eleitor."




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