Cultura & Lazer Titulo Palavrões
Desenho da MTV não faz concessões
Mauro Trindade
Da TV Press
20/05/2008 | 07:02
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Há uma idéia velha e moralista que insiste em condenar qualquer espécie de arte ou de entretenimento que utilize palavrões, violência e sexualidade. Essa cruzada cor-de-rosa é deliciosamente descartada em Fudêncio e seus Amigos, ótimo desenho animado nacional que a MTV apresenta de segunda a quinta, sempre à 0h.

Nada contra mensagens educativas. Mas tratar adolescentes como criaturas que devam ser mantidas em confinamento intelectual é mais do que conservadorismo. É inútil. De uma maneira ou de outra, certas informações sempre circulam. Além disso, o desenho animado sempre flertou com a ironia, o sarcasmo e o humor non-sense. Basta lembrar do sucesso que o insano Pica-pau fazia e continua a fazer.

Fudêncio e seus Amigos pertence à mesma linhagem temática de Beavis e Butthead e South Park, desenhos que se tornaram sucesso mundial pela maneira explícita como criticavam o ambiente político e cultural norte-americano.

CALVOS DO ABC
São violentos, não por exibir cenas sangrentas - por sinal, estilizadas demais para parecer realmente sangrentas - , mas pela veemência com que atacam instituições e comportamentos.

Fudêncio, um garoto de visual punk que só sabe falar "mi", é acompanhado pela gótica e entediada Funérea, a transexual lourinha Zé Maria, o frágil e doente Safeno e outros personagens, como os "calvos do ABC", sátira óbvia ao grupo neo-fascista da região, e o incompetente policial Kevin Costa.

O protagonista, porém, é Conrado, um garoto com cabeça de caqui. É um vilão às avessas, ou seja, o único com pensamentos éticos em todo o elenco. E que, por conta disso, é sistematicamente preso, espancado e roubado.

O desenho animado escracha quase tudo o que aparece nos meios de comunicação. Nada é perdoado.

Os criadores Thiago Martins, Pavão e Flávia Boggio - que antes fizeram a Megaliga de Vjs Paladinos - disparam seus personagens contra talk-shows, filmes de terror, programas e comerciais ecológicos, festivais de moda e outros personagens dos quadrinhos e dos desenhos animados, do Pato Donald até o soturno A Caverna do Dragão. É uma maneira franca e direta de exibir a fragilidade do bom-mocismo da maioria dos programas de TV, que defendem causas nobres de forma tão automática e convencional que mais servem como antipropaganda. Fingir boas intenções não salva ninguém. Fudêncio e seus Amigos mostra o quanto ainda existe de ignorância, preconceito e intolerância. O humor pode ser revelador.




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