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Renato Borghi: 50 anos no palco
Por Natane Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
23/05/2008 | 07:02
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Cinqüenta anos a serviço do teatro não poderiam ser comemorados de outra forma: Renato Borghi estréia neste sábado Cadela de Vison, no teatro do Sesc Santana, em São Paulo.

Além do espetáculo que marca o cinqüentenário da carreira do premiado ator, o Sesc também abriga uma exposição fotográfica com imagens de momentos marcantes de sua trajetória.

Nada de autobiografia. A nova montagem, escrita e protagonizada por Borghi, e que traz à cena também sua sobrinha, Luciana Borghi, faz parte de uma trilogia, iniciada pela peça O Lobo de Ray-Ban, que lhe valeu todos os prêmios de autor na ocasião de sua estréia.

Assim como em O Lobo, o teatro também é tema de A Cadela de Vison. Ou um dos temas. Na primeira, um ator de 50 anos, em crise causada pela separação conjugal e pela paixão por um jovem ator, questiona sua relação com o palco e a vida. Apesar do título, também é um ator, batizado de Sandro e vivido por Borghi, o protagonista. Porém, não exatamente o mesmo lobo. Há semelhanças e muitas diferenças.

Mais uma vez a ação se passa num palco. Mas, desta vez, o cenário é um teatro antigo, decadente, prestes a ser demolido. Num ato de resistência, Sandro recusa-se a abandonar o palco. Por que o teatro será demolido, a peça não explica. "Talvez para que um shopping center seja construído em seu lugar", especula o autor.

Para dar ar de algo velho, usado, com muita história, o recentemente construído tablado do Sesc Santana ganhou estruturas circulares, semelhantes a altares, sobre os quais repousam flores, fotos, estatuetas de prêmios, objetos de cena. "Queria que cheirasse a camarim há muito fechado.", conta o diretor do espetáculo, Elcio Nogueira Seixas.

Mistério - Logo na primeira cena, o ator recebe a visita de uma dama, interpreta por Luciana. Logo o público perceberá que trata-se de uma cantora morta há alguns anos. Por um motivo ainda misterioso está ali, em carne e osso. "Pode ser apenas delírio dele, eles podem até ser a mesma pessoa. Essa peça dá muitas pistas falsas. Começa como se fosse tratar só de um tema, o teatro, mas subitamente fala de afeto, sexualidade, é labiríntica", diz Seixas.

Borghi conta que um quadro do pintor Edwar Munch, visto numa exposição, foi sua primeira fonte de inspiração. "Era um auto-retrato com o título A Cantora e isso me inquietou profundamente. Por que ‘cantora' se era a imagem dele? Aquela pintura ficou na minha cabeça. Era como se ele e ela fossem um só".

E é esta idéia, a retrata no palco. "Sandro não é um alter ego meu, mas temos em comum a admiração pelas cantoras. Eu me dei conta que todos os meus mitos são femininos: Dalva de Oliveira, Cacilda Becker, Vivien Leigh, Elis Regina", explica o ator.

Mona, a misteriosa personagem, é claramente uma síntese de muitas estrelas, sobretudo da década de 1940 e 1950, época de ouro da Rádio Nacional e do Teatro de Revista.

Uma cantora já morta, um ator que busca a morte num teatro prestes a sumir do mapa, um assassinato em meio a tudo isso. Mas que ninguém se engane, Borghi não é homem de desistências. "Quem jamais pensou na morte, não pode valorizar a vida. Esta é, sim, uma peça sobre o fim. A gente de teatro está vivendo momentos difíceis. Há um grito que me fere a carne na submissão do teatro ao mundo corporativo", desabafa.

Renato Borghi assume que nunca pensou nas peças como trilogia, mas que, percebendo semelhanças entre O Lobo de Ray-Ban e seu novo texto, decidiu comprar a idéia. A próxima montagem ainda não está escrita, mas ele adianta: "Quem não pensou em morte não renasce. O renascimento, esse grito, vai vir na próxima peça da trilogia. Palavra de ator." (com AE)

A Cadela de Vison - Teatro. Sexta-feira e sábado, às 21h; domingo, às 19h. No teatro do Sesc Santana - Av. Luiz Dumont Villares, 579. Tel.: 2971-8700. Ingr.: R$ 4 a R$ 16. Até 22 de junho.




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