Fausto Silva não fala com a imprensa. Mas em comemoração ao programa de número 1.000 na Globo, aceitou conversar com os jornalistas. E falou bastante, atropelando algumas perguntas, como faz com os convidados que recebe no Domingão. Simpático, não se esquivou de questões sobre sua vida pessoal, mas logo justificou porque não vive dando entrevistas por aí. "Não bebo, não fumo, não sou arroz de festa. A única droga com que mexo é o programa e não gosto de badalação", brinca o apresentador.
Você estreou na Globo em março de 1989, foi o primeiro apresentador a superar a audiência de Silvio Santos no SBT e é líder nos domingos. Mesmo assim sempre sofreu críticas em relação ao Domingão. Que balanço você faz desses 19 anos?
FAUSTO SILVA - No domingo a programação não é segmentada como durante a semana. Você tem público de todas as idades e classes sociais vendo TV e tem de falar com todas essas pessoas. Não é fácil fazer isso. Já trabalhei no Estadão, sei falar bonitinho, mas tenho de usar uma linguagem mais coloquial. A questão é que no Brasil todo mundo dá palpite sobre televisão e isso aconteceu muito comigo também. Não é que eu não leve crítica a sério, mas sei de onde ela vem, se é bem informada ou bem intencionada. A gente vê audiência como causa e não como conseqüência. Senão, caso um cantor fizesse sucesso, deixaríamos ele cantando o programa inteiro. Tentamos criar, surpreender. E, se alcançamos a marca dos 1.000, acho que mais acertamos do que erramos.
Em todos esses anos você já teve vontade de fazer um outro tipo de programa?
FAUSTO SILVA - Lógico que tive. Qualquer pessoa que faz por 20 anos o mesmo tipo de coisa tem o desejo de fazer outra coisa. Mas agora não dá. É difícil sair desse esquema. E o público está agüentando. Se você pegar a média de ibope em todo esse tempo, só tivemos problemas durante dois anos e apenas em São Paulo, na capital. Domingo virou sinônimo de Domingão do Faustão. Até por isso eu faço TV aos domingos, para não ter de ficar em casa assistindo.
Mesmo com esses bons resultados, você já manifestou o seu desejo de apresentar o Domingão apenas depois do futebol e não em duas partes, como acontece hoje. Por quê?
FAUSTO SILVA - Porque na hora em que você esquenta a platéia o programa pára e depois é preciso começar tudo de novo. É como se fossem dois programas diferentes. Mas tenho de rever isso porque a Globo não tem um produto para colocar antes do futebol. É difícil. Você tem de sair de um público específico que acompanha o filme e levar para outro público específico que vê futebol. Então eu quebro um galho. Fazer um programa de cinco horas seguido é fácil. Mas quando ele é interrompido, é complicado.
Depois das novelas, o seu programa é o que tem maior faturamento na emissora. Encurtá-lo também não dificultaria a relação com os anunciantes?
FAUSTO SILVA - Não seria tão complicado porque muitos até preferem que tudo seja feito na segunda parte. O que importa é o índice de televisores ligados. E eu sou o único artista que faz reuniões com o departamento comercial da Globo. Porque é um tipo de programa que tenho de estar por dentro do que o anunciante quer. Querem que eu use a minha linguagem, e não um texto preparado. A relação custo-benefício do programa é a melhor que tem.
Todo mundo diz que no programa você fala demais e não deixa ninguém falar...
FAUSTO SILVA - Todo apresentador fala mais do que o entrevistado. Se você perguntar para uma Gloria Menezes, uma Eva Wilma ou um Francisco Cuoco, que já foram ao programa e são meus amigos, eles vão dizer que deixei o microfone na mão deles para falarem o tempo todo. Mas chega uma hora que eles questionam: ‘o que o Faustão perguntou mesmo?'. É muito comum as pessoas se perderem, saírem do assunto. Então tenho de impor o ritmo. E é claro que às vezes o programa atrasa e preciso dar uma acelerada.
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