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Após dez dias na UTI, Lucas morre

Por volta das 22h40 de ontem, menino tímido, de olhos
escuros e sorriso fácil de Ribeirão Pires deixou a vida

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
07/12/2011 | 07:00
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André Henriques/DGABC


A luta chegou ao fim. Por volta das 22h40 de ontem, o estudante de Ribeirão Pires Lucas Guizzardi, 10 anos, deixou a vida. O menino tímido, de olhos escuros e sorriso fácil, torcedor fanático do Santos e fã do jogador Paulo Henrique Ganso, estava há dez dias internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Camilo, na Capital. Ele sofreu complicações decorrentes do transplante de medula óssea, realizado no dia 16. O procedimento era a única chance de cura para a leucemia linfoide aguda, tipo de câncer no sangue que Lucas tinha desde os 5 anos.

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A medula doada começou a produzir células no dia 29, 13 dias após o transplante, mas Lucas já estava na UTI. Ele contraiu pneumonia e infecção de ouvido e o funcionamento renal foi prejudicado. Segundo especialistas, os rins podem ter falhado devido à radioterapia e quimioterapia às quais Lucas se submeteu para destruir sua medula antiga antes de receber a nova. As infecções se devem ao fato de que o menino estava sem sistema imunológico antes da ‘pega' da nova medula, o que o deixou mais suscetível a doenças. 

O início do funcionamento da medula trouxe esperança à família, já que Lucas voltou a produzir glóbulos brancos, células sanguíneas responsáveis pelo combate às enfermidades. Mesmo assim, não houve melhora do quadro de saúde de Lucas, que veio a óbito.

No hospital, a família ficou todo o tempo confiante e contou com o apoio de rede de amigos, que faziam orações diárias pelo menino na rede social Facebook. Lucas conquistou muitos seguidores: cerca de 800 pessoas deram seu adeus virtual ao menino na noite de ontem.

O enterro será hoje, às 10h, no Cemitério Parque Vale dos Pinheirais, no Jardim Primavera, em Mauá. 

LUTA - A luta de Lucas contra a leucemia começou aos 5 anos, quando foi descoberta a doença. Lucas passou pelo tratamento com quimioterapia, chamado de primeiro protocolo. Quase 90% das crianças que têm a doença se curam nessa fase, mas no caso do menino de Ribeirão Pires a leucemia voltou após dois anos. A única opção de Lucas era ganhar nova medula, tão difícil quanto acertar na loteria: a chance de haver compatibilidade é de uma para cada 100 mil pessoas.

Em 14 de maio, a família de Lucas e da menina Isabela de Deus, 3, realizaram campanha em Ribeirão Pires para cadastrar potenciais doadores no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, quando exatas 1.726 pessoas participaram da iniciativa.

O menino encontrou doador 100% compatível em junho. O transplante foi adiado pelos médicos por conta do frio, quando as chances de infecções são maiores, o que deu a oportunidade ao estudante de conhecer os jogadores do seu time do coração, o Santos. 

DIA MAIS FELIZ - A convite do Diário, Lucas acompanhou o treino do Peixe na Baixada Santista e conheceu os ídolos Neymar e Paulo Henrique Ganso. "Foi o dia mais feliz da minha vida." 

Do goleiro reserva Aranha, ganhou admiração e de sua mulher, Juliana Aquino, o notebook com o qual se comunicava com os amigos e conhecidos quando foi internado, no dia 1º. Foram cinco meses de espera pelo procedimento que poderia salvar sua vida.

Como Lucas, cerca de 1.200 pessoas aguardam na fila por transplante de medula no Brasil. São adultos e crianças que buscam uma chance de sobreviver. Mas os riscos do procedimento são enormes. Nesse sentido, a medicina ainda tem muito o que avançar. 

Clique aqui e relembre a visita de Lucas ao Santos.

O menino que queria ser jogador de futebol

“Posso te chamar de tia?” Foi assim que Lucas agradeceu pelo dia mais feliz de sua vida: a visita ao Centro de Treinamento do Santos, na Baixada Santista. Um dia cheio de altos e baixos no qual só uma coisa me interessava: realizar o sonho desse menino tímido, sorridente e que confiava na vida, acima de tudo.

Quando o visitei um dia antes do transplante, levei duas revistas do time a pedido de um advogado da região. Ele olhava as fotos fascinado. Seu sonho era ser jogador de futebol. Casar e ter filhos. Lucas queria uma vida normal.

Mesmo tão novo, ele foi guerreiro. Lutou por sua vida até o último minuto e, embora debilitado, não deixava de sorrir. Passava confiança ver seu rosto tranquilo mesmo diante de procedimentos que causariam medo em adultos. Por outro lado, ele sabia o que enfrentaria. Ele estava preparado. Era um ninja. Era um menino capaz de conquistar qualquer um que conversasse com ele.

Fica o desejo de que o transplante tivesse dado certo. De que eu pudesse escrever agora uma história com um final feliz. Mas a vida é feita de começos e fins, sejam eles felizes ou não.

Lucas foi exemplo na minha vida e na de muita gente. Reclamar dos problemas? Pensarei duas vezes antes de fazer isso. Ele tinha tantos e jamais deixou de brincar com o cãozinho Spike, frequentar a escola, bater bola com os amigos no campinho ao lado de casa ou simplesmente sorrir.

Lucas, vá em paz. Tenho certeza que Deus recebe você de braços abertos do outro lado da vida.

 




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