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De volta ao mar em nova expedição

A combinação de viagem em família, laboratório científico e volta ao mundo começa domingo

Andréa Ciaffone
Do Diário do Grande ABC
18/09/2014 | 07:00
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No domingo (21), véspera do equinócio da primavera, a Família Schurmann embarca para mais uma expedição de volta ao mundo. Desta vez, Heloísa e Vilfredo terão dez pessoas – entre filho, neto e profissionais – no veleiro Kat e a missão de refazer a rota de circunavegação da Terra que o chineses fizeram no século 15 descrita pelo livro 1421: O Ano em que a China Descobriu o Mundo, do inglês Gavin Menzies, publicado em 2002.

Foram cinco anos de preparação, busca de patrocinadores e seleção da tripulação para chegar no momento de levantar as velas e partir. Cuidando dos últimos detalhes, Heloísa tirou alguns minutos para conversar com o Diário e contar alguns dos seus segredos de mãe, avó, mulher, viajante e agente de investigação científica.

“Disciplina, paciência e bom humor são fundamentais tanto para fazer o barco funcionar quanto para manter o astral a bordo”, diz Heloísa com a autoridade de quem faz grandes viagens desde 1984, quando partiu com o marido e os filhos Pierre, David e Wilhem, de, respectivamente, 15, 10 e 7 anos, para uma volta ao mundo que durou dez anos. Naquele tempo, os meninos estudaram a bordo, inclusive.

“O desafio primário é realizar nossos projetos de viagem com nossos filhos e, desta vez, com um neto também, o Emmanuel, 23 anos, filho do Pierre”, diz Heloísa, que deixou claro que mesmo sendo avó zelosa e apaixonada, não dá moleza para o neto. “Para participar da expedição, ele teve de se preparar, fez curso de mergulho e desenvolveu habilidades úteis para a vida a bordo.” Heloísa também é disciplinada. Ela mantém um ritual de todas as quintas-feiras, pessoalmente ou pelo computador, colocar os netos mais novos para dormir, com direito a contar histórias, cantar musiquinhas e rezar o Santo Anjo.

“Já temos programado que os pequenos devem ir nos visitar ao longo da viagem”, diz a vovó que, aos 66 anos, dá show de disposição graças a uma rotina de saúde e beleza que inclui caminhadas, ioga e tai chi chuan, além de alimentação balanceada e generosas doses de protetor solar. “Quando partimos para a primeira viagem, em 1984, o dermatologista me disse que não queria que eu voltasse com pele de pescador, toda encarquilhada e me recomendou usar protetor solar de alto fator de proteção sempre”, revela. A velejadora hoje utiliza uma formulação feita especificamente para suas necessidades e que utiliza apenas elementos naturais. O produto leva o nome da família. “Em três coisas eu não tenho dó de gastar dinheiro: sapatos, que têm de ser confortáveis; óculos, tanto de leitura como de sol devem ter lentes de alta qualidade; e na proteção solar, inclusive na maquiagem.”

No papel de grande gestora da vida a bordo, Heloísa diz que faz um planejamento muito detalhado das refeições que inclui a logística dos ingredientes. “Teremos uma horta orgânica a bordo, o que garante alimentos frescos no mar. Temos uma agenda de preparo. Faremos seis pães a cada três dias no mar, por exemplo. Isso garante o frescor do alimento e o bom humor de quem está a bordo”, diz Heloísa, que vai receber um vegetariano e dois que não tomam leite. “Mas em relação ao que está no menu, não tem frescura. Se não gostar ou não quiser comer, não come, mas não vão ter preparos especiais.”

Heloísa esclarece que valoriza a disciplina acima de tudo. “Seguir as regras e regulamentos de bordo é fundamental para garantir a boa convivência em um espaço pequeno como o de um barco e também a segurança de todo mundo. A tripulação tem uniforme, temos regras para utilização de equipamentos de segurança, horários rígidos e até alguns detalhes que acabam ficando bem significativos, como o de ninguém poder usar desodorante ou perfume forte para não incomodar os outros. Mas, dentro das regras, todo mundo tem toda a liberdade do mundo.” Heloísa lembra que um barco funciona como uma empresa. As pessoas têm de querer fazer parte da tripulação e também passar uma avaliação para ver se são aptas. Em contrapartida, recebem remuneração por suas atividades a bordo, que vaira conforme o cargo.

Enquanto o capitão Vilfredo tem como seu imediato o filho Wilhelm, que é campeão mundial de Windsurf. Sua noiva, Natalie Acieta, vai cuidar de logística e bem-estar e estará encarregada de monitorar a saúde da equipe. Heloísa tem no cozinheiro e velejador ‘nota 10’ Den Lidertaun, o seu braço- direito. A mulher dele, Gabriela Chindo, cuida do administrativo e financeiro, que inclui a parte burocrática de passaportes, vistos, permissões de navegação. Heitor Cavalieri, Guga Millet e Eduardo Talley cuidam dos registros da viagem em fotos e vídeo. Fernando Horn supervisiona a elétrica e mecânica.

Todos, incluindo o neto mergulhador Emmanuel, terão participação na coleta de água do mar para um projeto que os Schurmann estão desenvolvendo em parceria com pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) que medirá a pureza da água do mar ao longo da viagem. Isso só é possível porque o veleiro Kat é o único do Brasil 100% não poluente, com tratamento total de esgoto. Trata-se de verdadeiro laboratório de estratégias sustentáveis com hidrogeradores, que utilizam energia eólica e solar. A viagem terá 46 paradas até a sua chegada ao porto de Itajaí, Santa Catarina, programada para o solstício de verão, no dia 22 de dezembro de 2016, depois de percorrer 31.377 milhas náuticas.

Bons ventos inspiraram aventuras bem-sucedidas
A primeira grande viagem de circunavegação da Terra empreendida pela Família Schumann começou em 14 de abril de 1984 no porto de Florianópolis, Santa Catarina, e terminou em 28 de maio de 1994 no mesmo lugar. Na bagagem, trouxeram o sonho de viver no mar. No trajeto, o filho mais velho, Pierre, saltou nos Estados Unidos para estudar Administração. David, ficou na Nova Zelândia para estudar Cinema, e Wilhelm se tornou campeão mundial de windsurf.

Depois, entre 23 de novembro de 1997 e 22 de abril de 2000, a família fez a rota do navegador português Fernando do Magalhães, chegando a tempo de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Em 2009, a família partiu em busca do submarino alemão U-513 afundado no litoral Sul brasileiro. Depois de cinco anos de pesquisas e dois de buscas com 18 incursões em mar, os Schurmann acharam os tais destroços em 14 de julho de 2011.




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