Política Titulo Inusitado
Professora é sócia
de filho de Paulo Skaf

Danira Pereira integra consultoria que tem
participação direta na construção de aeroporto

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
07/09/2014 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Professora aposentada da rede pública integra grupo seleto de projeto bilionário encabeçado por André Skaf, filho do candidato ao governo do Estado pelo PMDB, Paulo Skaf. Coordenadora de creche particular em Santos, a educadora Danira Pereira é sócia da SD Consultoria e Projetos, empresa que participa de conjunto de companhias que ganhou concessão do empreendimento, sob responsabilidade da Harpia Logística. Com previsão de investimento de R$ 1 bilhão em dez anos, a proposta engloba a construção do aeroporto de Parelheiros, na Zona Sul da Capital.
 
A equipe do Diário esteve sexta-feira na sede da SD, no bairro Gonzaga, em Santos, local onde reside Danira e seu marido, Silvio Pereira, dono igualitário na companhia, que tem capital de giro no valor de R$ 6.000 (R$ 3.000 de cada). A SD injetou R$ 134 mil na Skaf Infra Participações (confira arte ao lado), de André, incluindo representatividade no negócio, denominado de Aeródromo Privado Rodoanel. A professora trabalhou por 23 anos na EE Júlio Conceição, em Cubatão, e atuou por três anos na Diretoria de Ensino na Baixada.
 
Danira aparece na lista de inativos no sistema de servidores públicos de São Paulo. No rol oficial do Estado, ela consta com o cargo de assistente de diretoria de escola, com vencimentos de R$ 4.300 ao mês. Embora aposentada, a professora atua ainda na área de Educação. Justifica que necessita compor a renda familiar. “Sei que o pessoal (outros sócios) deve ter dinheiro, mas continuo trabalhando. Se tivesse com a vida mansa já estaria aposentada (sem exercer função).”
 
Se por um lado há casal simples, o projeto de André Skaf tramita em conjunto com Fernando Botelho, herdeiro da Camargo Corrêa, uma das maiores empreiteiras do País e grande doadora de campanhas eleitorais. Postulante a cargo de chefe do Palácio dos Bandeirantes, Paulo Skaf defendeu no dia 12 a proposta do filho e implantação do terceiro aeroporto na Capital. Na ocasião, o peemedebista afirmou que a região precisa de investimento para gerar emprego e renda.
 
O aeroporto ocuparia área de 4 milhões de metros quadrados ao lado da Represa do Guarapiranga. O local tende a receber serviços de táxi aéreo e helicópteros particulares. A pista teria 1.830 metros, 230 a mais que a do Campo de Marte, na Zona Norte, também destinado à aviação privada. A projeção é ter fluxo de ao menos 1.000 pessoas por dia.
 
Aposentado, Silvio Pereira é engenheiro civil e ex-funcionário da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), entidade presidida por Skaf por dez anos. Segundo ele, seus sócios “já investiram bastante” no empreendimento e a SD entrará com “capital intelectual”. “Quanto vale a ideia de fazer negócio deste tamanho e ter noção de aeroporto? Esse ‘recurso’ é fruto de anos de experiência e estudo. No grupo é necessário pessoas especializadas.”
 

André Skaf não foi localizado para comentar o assunto.

‘Odeio avião, tenho até medo, não gosto’, sinaliza aposentada

Moradora do Litoral paulista, Danira Pereira afirmou que tem conhecimento superficial sobre o aeródromo de Parelheiros. “Odeio avião, tenho até medo, não gosto”, sinalizou, ao ironizar que prefere se locomover de carroça. “Sou do interior de São Paulo. Nascida em Paraguaçu Paulista”, disse, referindo-se à cidade natal, localizada a 420 quilômetros da Capital. “Tenho pavor de andar de avião. Aliás, aqui perto caiu um recentemente, a cerca de 500 metros”, alegou, lembrando do trágico acidente aéreo com o jatinho do presidenciável Eduardo Campos (PSB), no dia 13.
 
A professora frisou que abriu a SD (sigla com as iniciais do casal) ao lado de Silvio Pereira, com quem é casada há 40 anos. Segundo Danira, há trabalho sazonal de sua parte na empresa de consultoria e chegou a pegar nove meses de licença para auxiliar nos trabalhos. “Somos só nós dois na firma. Fico secretariando. Assessoro às vezes (contratos), mas confio os negócios nas mãos do Silvio e assino a papelada”, disse, concluindo que não se envolve com profundidade. “Quando estamos indo para São Paulo, ele (marido) aponta: ‘É lá, naquela região, que será o aeroporto’”.
 

Silvio mencionou que a mulher sabe pouco do projeto. Por outro lado, logo quando abordado pela reportagem, estranhamente, ele citou que Danira “aparece bastante (falando sobre avião) na internet porque gosta de dar curtir (ferramenta do Facebook) nas redes sociais”. Para o sócio da SD, a proposta “é bem pensada” e está sendo planejada sem pressa ou pressão. “Sou amigo do André (Skaf) há muitos anos. Fiz parte do comitê da cadeira produtiva da aeronáutica. A minha empresa tem participação mínima.”

Proposta foi aprovada em tempo recorde em Brasília

O projeto do aeroporto em Parelheiros teve aval recorde na Sac (Secretaria de Aviação Civil), órgão ligado ao governo federal. A liberação final da proposta se deu em agosto de 2013, depois de apenas cinco meses do protocolo em Brasília, firmado pela empresa Harpia Logística, que lidera o grupo no empreendimento aeroviário. A Pasta é chefiada pelo ex-deputado Wellington Moreira Franco, inserido dentro na cota do PMDB, partido de Paulo Skaf, pai de um dos maiores interessados no negócio.
 
Moreira Franco assumiu o cargo comissionado no dia 20 de março do ano passado. Um dia após a posse do peemedebista na secretaria, a Harpia Logística entrou com o pedido de solicitação para erguer o aeroporto. À época, a empresa tinha somente sete meses de fundação – iniciou suas atividades no dia 13 de agosto de 2012. A outorga, portanto, foi cedida à companhia, na oportunidade com um ano de abertura das portas, mesmo sem haver histórico de atuação no setor.
 

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) concedeu à empresa licença de uso do espaço aéreo. O aeroporto, por sua vez, continua vetado pela prefeitura de São Paulo, sob a alegação de estar localizado em área de preservação ambiental. “Não conseguimos mexer em nada”, atestou Silvio Pereira, sócio no projeto. “Ideia é fazer parque ao lado do aeródromo, como compensação. Terá zero de impacto”, concluiu.

A Justiça de São Paulo negou o pedido da Harpia para obter a certificação de uso e ocupação do solo. Sem a licença, recusada pelo Paço paulistano, a empresa não pode começar o projeto.   




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