A instituição, guardiã da zona do euro, vai lançar um programa de recompra de dívidas privadas com o objetivo de apoiar o mercado de crédito e estimular a atividade econômica. Além disso, a taxa básica de juros da instituição foi reduzida a 0,05%, a mais baixa da história.
As medidas foram anunciadas em uma esperada entrevista coletiva realizada na sede do BCE. A primeira informação foi a queda da taxa, rebaixada pela sexta vez desde 2012. Em junho, quando da última deliberação, o índice era de 0,15%.
O objetivo direto da queda nos juros é enfrentar a baixa inflação, que em julho foi de 0,4% e em agosto de 0,3%, longe do centro da meta, de 2%. Trata-se do 11º mês consecutivo abaixo de 1% e do índice mais reduzido desde outubro de 2009.
Sobre o tema, Draghi reconheceu as adversidades. "Será muito difícil atingir o objetivo de uma inflação próxima de 2% sobre a base da política monetária. É preciso crescimento, políticas fiscais, é preciso reformas estruturais antes de mais nada", pregou a autoridade monetária, em uma declaração interpretada na Europa como uma crítica indireta ao excesso de austeridade fiscal. "A política monetária sozinha não pode fazer a inflação voltar a subir", justificou.
Mas a medida mais impactante anunciada pelo BCE foi a decisão de passar "instrumentos não convencionais" para combater o risco de deflação e debelar a estagnação econômica da zona do euro.
Entre as ações previstas estão planos para compra de bônus cobertos e títulos amparados em ativos - os asset-backed securities, ou ABS. Compõem esses títulos empréstimos corporativos, hipotecas, empréstimos ao consumo, cartão de crédito e outros.
Com isso, a instituição tenta flexibilizar o crédito no interior da União Europeia. O volume de recursos a ser empregado na iniciativa não foi divulgado, mas deve chegar a centenas de bilhões de euros. De acordo com a agência de notícias Reuters o valor estimado é de 500 bilhões de euros em três anos.
Juros negativos
Segundo Draghi, essa iniciativa vai permitir que o crédito à economia real cresça nos próximos meses, estimulando o consumo e o crescimento, com impacto positivo sobre a inflação. Para o presidente do BCE, a decisão é necessária para "completar e reforçar as medidas tomadas no mês de junho".
Um dos efeitos colaterais da política expansionista do BCE é o fato de que títulos das dívidas soberanas de países considerados confiáveis no mercado financeiro, como Alemanha, França ou Áustria, estão pagando juros negativos, o que na prática significa que os credores estão tendo prejuízo em curto prazo em tais títulos. Com isso, o peso das dívidas públicas para os Estados cai, facilitando operações de refinanciamento.
A repercussão das medidas nas bolsas de valores foi imediata. Logo após a entrevista, o euro caiu ao seu menor valor em relação ao dólar em 13 meses, sendo negociado a US$ 1,3037, quase 1% mais barato.
O movimento já era esperado por analistas - na manhã de ontem, o banco Société Générale chegou a anunciar que, "o que quer que o BCE venha a fazer, o euro cairá" -, mas o resultado surpreendeu analistas, já que a divisa chegou a ser vendida abaixo da marca "psicológica" de US$ 1,30.
Os principais índices dos mercados financeiros europeus registraram fortes altas: o DAX, de Frankfurt, subiu 1,02%, o CAC 40, de Paris, 1,65%, e o Euro Stoxx 50, 1,81%. Já o índice FTSE 100, de Londres - fora da área do euro -, fechou estável, em 0,06%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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