Candidato do PSDB ao Senado, o ex-governador José Serra garante que a gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) vem atrasando o desenvolvimento do País em várias áreas, mas destaca que o setor da Saúde é o que mais recuou desde a saída de sua legenda à frente da Presidência da República, em dezembro de 2002. Para Serra, que foi ministro da Pasta durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, entre 1995 e 2002), os erros da administração petista vão desde o encolhimento no Orçamento até a nomeação inadequada de seus gestores.
O tucano classificou a principal bandeira de Dilma na Saúde, o Programa Mais Médicos, como “esparadrapo”, que não trará os resultados que o País necessita. “O que precisa haver na Saúde é alto investimento no Orçamento. No último ano em que fui ministro, a fatia (de recursos da União para o setor) era de 53%. Hoje, é de 44%. Em dinheiro são em torno de R$ 29 bilhões a menos”, argumenta.
Líder nas pesquisas de intenções de voto, o ex-governador é cético e garante que só vai comemorar ao fim da eleição. Como bandeira no Senado, promete, se eleito, trabalhar para “melhorar na repartição de recursos”.
O candidato evita falar sobre as campanhas de seus adversários diretos pela cadeira do Senado, porém não poupa críticas aos senadores do Estado, os petistas Eduardo Suplicy e Marta Suplicy. “Existe falta de conhecimento deles em muitos aspectos”, alega.
Sobre a ascensão eleitoral da ex-senadora Marina Silva (PSB), que deixou o presidenciável tucano, o senador Aécio Neves, para trás, Serra acredita que o retrato é precoce. “O período é ainda de comoção pela morte do candidato Eduardo Campos”, explica.
Como legado, Serra exaltou seus feitos nas realizações do trechos Sul e Leste do Rodoanel.
Por que o sr. quer ser senador?
O Estado precisa de atuação mais incisiva no Senado, principalmente por toda a sua representatividade, perante o território nacional.
O sr. aparece em primeiro nas pesquisas de intenções ao Senado. Como avalia essa posição?
São só pesquisas. Eu só irei comemorar depois do dia da eleição. Eu desconfio sempre de pesquisa, não na honestidade, mas porque tem tanta pesquisa e ninguém consegue enganar ninguém. Um instituto faz, o concorrente também, e acabam não fugindo muito da linha, porque pega mal. As atuais pesquisas estão boas para mim e tenho de trabalhar para mantê-las e ampliá-las, inclusive aqui no Grande ABC.
No cenário presidencial, como sr. avalia a entrada da Marina Silva na disputa?
Acho que ainda é precoce avaliar, pois ainda estamos na comoção pela morte do Eduardo Campos (no dia 13). O que acredito é que haverá segundo turno e que a rejeição da Dilma (Rousseff, PT, atual presidente da República) está grande. Dos três, avalio que o Aécio (Neves, PSDB) é o mais preparado e vai crescer na hora certa.
O que sr. tem achado dos discursos do seus adversários do Senado?
Vou confessar uma coisa: eu não vejo os programas dos outros. Eu só vejo o meu e muito a posteriori.
Entre os seus adversários diretos está Gilberto Kassab (PSD), que foi seu vice na prefeitura de São Paulo e de grande afinidade política. Como será enfrentá-lo?
O Kassab saiu candidato, tem direito de fazê-lo. Ele foi meu sucessor na prefeitura, seguiu aquilo que eu estava fazendo à frente da prefeitura, tanto que se reelegeu e é do direito dele sair candidato. Não tenho nada a observar.
No Senado, o que sr. vai tentar trazer de conquistas ao Estado?
Tem todo o problema na repartição de recursos. Quando se repartiram os royalties futuros de petróleo do pré-sal para Estados e municípios, São Paulo não ficou com nada. O fundo de participação dos Estados é formado por 21% do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do IR (Imposto de Renda). Por sua vez, São Paulo é responsável por 42% da arrecadação do IPI e do IR. É como se o Estado financiasse o esse fundo. E só volta 1% para São Paulo. É isso que o senador precisa fazer. Não que o Estado vá deixar de contribuir, mas não é possível que, em cada questão que aparece, nós fiquemos para trás, como nos royalties do petróleo.
Não faltou à bancada de senadores de São Paulo trabalhar no Senado de maneira apartidária? Essa repartição de cadeiras por Estado não teria de ser modificada?
Não há uma disputa nesse sentido, apenas falta de conhecimento. Se você pegar o senador (Eduardo) Suplicy e a Marta (Suplicy, ambos do PT), eles não têm muita ideia a respeito dessas questões. Por exemplo, esse dado da disparidade de arrecadação em São Paulo fui eu mesmo quem calculei.
Faltou, de alguma maneira, a atuação deles para brigar mais pelo Estado?
Não estou lá para avaliar a atuação deles no cotidiano. Estou dizendo apenas que não possuem conhecimento para esses assuntos.
Quais credenciais o sr. tem para que o eleitor do Grande ABC possa votá-lo ao Senado?
Aqui já pudemos contribuir bem. Vou citar as obras que fizemos em Mauá e São Bernardo pelo impacto do Rodoanel. O Trecho Leste do Rodoanel, responsável pela ligação de Guarulhos para o Litoral, passa por aqui. O (governador Geraldo) Alckmin (PSDB) inaugurou recentemente, de maneira prévia. De fato, nós fizemos o projeto básico durante o meu mandato de governador. Fiz uma concessão do Trecho Sul e uma das cláusulas era para quem ganhasse também fizesse o Trecho Leste. A obra aconteceu. A empresa privada fez e gastou R$ 3,6 bilhões, sem nenhum centavo do governo. Isso é a prova de que saber governar é muito importante. O governo federal não foi capaz de fazer nenhuma coisa nesse sentido, com todo o patrimônio de estradas que possui.
O sr. acha que é o Rodoanel é seu principal legado?
Não acho que é legado isolado. Primeiro, há as contas. Nós deixamos o Estado com R$ 13 bilhões em caixa. E o mesmo valor deixamos no caixa das empresas governamentais. Segundo, deixamos todos os projetos financiados para o futuro. Exemplo é o Trecho Norte do Rodoanel, que possui o financiamento conquistado no meu mandato. Em Metrô e CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) deixamos todos os grandes projetos feitos ou com concorrência (licitação encaminhada). E com dinheiro para pagar. Como legado principal diria triplicar os investimentos do Estado, paralelamente deixar para o sucessor uma herança benigna.
Daqui a dois anos tem eleição municipal e o seu nome sempre aparece como eventual candidato. O sr. será candidato à prefeitura da Capital?
Não. Desta vez não vou ser candidato. Na outra oportunidade acabei deixando a prefeitura porque não tínhamos como ganhar a eleição no Estado, em 2006. E foi bom, porque fiz muitas coisas como governador, que poucos fizeram.
O sr. tem defendido leis mais rígidas para a maioridade penal. Será uma das bandeiras caso eleito ao Senado?
Acho que mexer na maioridade penal não dá, porque tem gente que diz que todo trâmite será arrastado, com votação na Câmara e no Senado. Não tem certeza se o Judiciário depois aplicará. Existe um problema de quadrilhas alugarem menores para cometer assassinatos. Outros de menores que são psicóticos. Um sujeito com 15 anos pode ser um. E matar por matar. O caso do Champinha é um desse (Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, foi condenado à prisão por assassinar o casal Liana Friedenbach e Felipe Caffé, em 2005). Ele é um psicopata. O Champinha nós não soltamos. A Justiça mandou soltar, não deixamos. Esse menino é doente. Provamos isso e colocamos tem uma prisão só para ele. Ele solto vai matar de novo.
Qual é a alternativa?
Deixar (o menor) preso por dez anos. E fazer exames criminológicos. Mas o PT acabou com a obrigatoriedade desse exame. Agora é facultativo. O juiz quem determina quem tem de fazer.
O sr. foi ministro da Saúde e como avalia o setor?
Tem muitos problemas, mas tem dois essenciais. Primeiro é o encolhimento da fatia do governo federal nos gastos. No último ano que fui ministro (em 2002), a fatia (da União no custeio da Saúde no País) era de 53%. Hoje, é de 44%. Em dinheiro são em torno de R$ 29 bilhões a menos. Então, (o governo federal) jogou nas costas dos Estados e Municípios. Esse encolhimento foi fatal. E segundo: a piora na gestão, com loteamento, corrupção e inépcia. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), na minha época, aprovava genéricos em cinco meses. Hoje a demora é de 30 meses. Quando fiz a diretoria da Anvisa, coloquei pessoas técnicas. Ninguém ousou sugerir (indicações apadrinhadas), nenhum deputado nada. Agora, é o inverso. Primeiro foi o PCdoB a comandar e cuidar de medicamentos. Tem cabimento? Não é preconceito com o partido, poderia ser qualquer outro. O resultado é que atualmente a Anvisa tem cinco diretores: um é farmacêutico, peixinho de deputado de São Carlos, que foi pilhado numa reunião para pedir financiamento de campanha para deputado (o diretor citado é Dirceu Barbano, afiliado do deputado federal Newton Lima, do PT, ex-prefeito de São Carlos). Os outros são advogados e economistas. Não tem médico na direção da Anvisa. O osso para quem entrar na Presidência é colocar mais dinheiro na Saúde. Melhorar a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde), como se fala, é caríssimo, não é pouca coisa, mas precisa ser feita. Nas outras Pastas dá para enxugar, na Saúde não.
Qual avaliação o sr. faz do Programa Mais Médicos?
É um esparadrapo, porque eu tinha feito um programa que tinha médicos nos municípios. A gente pagava uns R$ 10 mil a R$ 12 mil (por profissional). Chegamos a colocar uns 300 médicos, mas quando o PT ganhou, desativou o programa. Não resolveu o problema e isso aconteceu porque são ineptos.
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