O Bom-Velhinho passou a noite trabalhando e há 30 dias não
tem descanso, portanto hoje é dia de folga para curtir família
Quem passa distraído pelo shopping às vésperas do Natal não imagina os sacrifícios empenhados pelo Bom-Velhinho. São 200 fotos por dia e oito horas seguidas distribuindo abraços. Muitas vezes a maratona se estende sete dias por semana.
Netos, filhos e mulheres ficam temporariamente em segundo plano a partir do fim de novembro. A prioridade é estar com as crianças, receber cartinhas e ouvir os desejos alimentados durante o ano. "Quase não fico em casa. A família entende. Depois, almoço com todos", disse Sérgio de Almeida, 73 anos, o Papai-Noel de fala mansa do Shopping ABC, em Santo André.
A atividade começa às 10h e se estende até 16h. É preciso apenas meia hora para travestir o Papai-Noel. Um dos pré-requisitos é ter barba e cabelo naturais. Ao todo, são 20 anos de profissão. "Não considero trabalho. Não preciso do dinheiro. Deveria ser Natal o ano inteiro só para vermos tantas crianças realizadas."
E a odisséia não termina no shopping ao despedir da garotada na noite do dia 24. A tradicional ceia natalina em família é substituída pelas visitas agendadas nas casas de outras pessoas, que, quase sempre, comprometem a madrugada. Uma agência especializada é responsável por selecionar e contratar os candidatos a papais-noéis. As visitas duram até meia hora e são realizadas em pelo menos seis casas. "Tenho que lutar contra o cansaço. Faço as entregas e só depois eu paro", revela o Bom-Velhinho, que mora na Paulicéia, em São Bernardo. Ele já participou do Natal de centenas de crianças em shoppings da Capital e Baixada Santista.
A mesma paixão pelas crianças é partilhada pelo colega de profissão Dorival Batista dos Santos, 64, que mora na Capital e trabalhava como pintor. Seu local de trabalho, há uma semana, é o recém-inaugurado São Bernardo Plaza Shopping, na Avenida Rotary, onde atende pacientemente crianças e adultos. No sábado pela manhã, em menos de meia hora, Dorival posou para 13 fotos na companhia da molecada. Desconfiadas, algumas crianças olhavam para os pais, em sinal de pedido, antes de abrirem os braços em direção ao Papai-Noel. Por fim, declararam pedidos ao ouvido. "Hoje eles só pedem", brincou. Outras, mais resistentes, eram abordadas pelo próprio personagem já próximas ao corredor. A cena se repete dezenas de vezes durante o dia. "Quando você gosta do que faz, o cansaço é diferente. É recompensador levar alegria às pessoas oferecendo apenas um pouco de atenção", disse, emocionado, entre um ‘atendimento' e outro.
FAMÍLIA
Definitivamente, todo mundo é filho de Papai-Noel. Timidamente, depois de observarem a decoração, adolescentes, adultos e idosos também se rendem ao abraço dele. Risonhos, se espremem na poltrona para registrar o momento em uma fotografia. A iniciativa tem adeptos. "O que me move é a família. Não tiro fotos apenas com as crianças. Faço questão de chamar os pais, irmãos e avôs. É importante essa união que o Natal simboliza. Existe magia em cima da nossa figura que nenhum preço paga. Mas, tirando a roupa, somos barbudos, velhos e carecas", brincou Richard Kloppe, 63, que participou do primeiro Natal do ParkShopping São Caetano, situado no Espaço Cerâmica.
Diferentemente dos outros dois personagens citados na reportagem, Kloppe passará o dia 25 empunhando seu saco de pano vermelho. "Meu Natal é entregar presentes. Terei tempo para descansar depois." As remunerações dos papais-noéis não foram reveladas.
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