Morador do Jardim Inamar desde 1982, José Odorico de Souza utiliza a tradição nordestina do cordel para lembrar origem da região
As histórias do Jardim Inamar, em Diadema, e do cotidiano de modo geral contadas em rimas. É assim, na forma de poesias populares, que elas são retratadas pelo cordelista José Odorico de Souza, 60 anos.
A origem dos cordéis está nas cantigas dos trovadores medievais, que comentavam as notícias da época usando versos que eles próprios cantavam. Com o tempo, as falas começaram a ser registradas em folhas soltas, conhecidas em Portugal como “volantes”. Os artistas as prendiam em torno do corpo em barbantes para que as recitassem e, ao mesmo tempo, garantissem as mãos livres para os movimentos. Os folhetos também eram presos em cordões para venda. Foi dessa prática, inclusive, que surgiu a origem do nome cordel.
Na metade do século 19, essa literatura surge no Nordeste do Brasil, com versos recitados acompanhados pelo som da viola. Nascido na pequena cidade de Agrestina, no Pernambuco, José Odorico, que mora no bairro desde 1982, trouxe na bagagem as raízes dessa cultura. “Sempre gostei de rima, cantoria de viola. Tenho mais dez irmãos, mas só eu tenho a vocação de escrever cordel”, ressalta ele, que trabalha como guarda patrimonial na sede do Conselho Tutelar do Jardim Inamar.
Os fatos vividos e observados na área onde reside há mais de três décadas resultaram, em 2003, na confecção do livro A História do Inamar, publicado com o apoio da Prefeitura. “Reuni o pessoal mais antigo do bairro, pesquisei e relatei tudo na rima.”
Quando não está trabalhando como guarda, o cordelista escreve sobre os mais variados assuntos. Os versos se transformam, muitas vezes, em mensagens de conscientização, que ele transmite em exposições e apresentações escolares.
“Por meio do cordel, podemos chamar a atenção das pessoas para importantes questões, como o problema das drogas e a preservação do meio ambiente”, fala ele, que escreveu um cordel especialmente para o Diário, no qual aborda um dos temas de maior preocupação da atualidade: a falta de água. Em um dos trechos da obra, intitulada Água, o Produto Mais Precioso do Planeta, faz a orientação e o alerta: “Sem ela não vivemos/Qual será a solução?/Vamos economizar/Não desperdice, irmão/Todos precisam cuidar/Ao contrário, vai faltar/Abraçamos esta missão.”
Associação atende 240 crianças
De uma missão pontual no Jardim Inamar para um trabalho que se consolidou. A Comunidade Inamar Educação e Assistência Social, no bairro há 43 anos, foi fundada por Franco Rigolli (morto em 2008), missionário xaveriano que deixou a Itália, sua terra natal, para atuar na área social do Brasil em 1957.
Em 1968, Rigolli iniciou um trabalho profissionalizante e de assistência social para adolescentes do Jardim Inamar, mas percebeu que era preciso estender a ação também para o público infantil. “Os adolescentes não tinham base escolar e era preciso fortalecer isso nos mais novos para acumular os conhecimentos que viriam depois”, fala a coordenadora técnica da entidade, Carolina Domingos, 34 anos. Em 1988, o atendimento passou a ser para crianças na faixa etária de 2 a 6 anos e suas famílias.
Além de Diadema, a instituição dirigiu núcleos de atendimento nos municípios de Santo André e Santos. Na sede do Jardim Inamar são atendidas, gratuitamente, 240 crianças de zero a 6 anos e 158 pessoas no Serviço de Vínculos Familiares, que abrange jovens até 15 anos. “No período contrário da escola, fazemos uma série de trabalhos e, no sábado, as famílias vêm à entidade para fazer atividades em conjunto, o que fortalece o vínculo familiar e comunitário”, explica Domingos.
A entidade se mantém com doações, parcerias e convênio com a Prefeitura. Em quatro décadas de atuação, a coordenadora técnica salienta o impacto do trabalho nessa trajetória. “Nossas atividades diminuem o risco de rompimento de vínculos, o que, consequentemente, diminui a violência e forma cidadãos mais conscientes e solidários.”
Time nascido na região é destaque no cenário esportivo
O futebol é destaque no Jardim Inamar. Em 27 de outubro de 1981 nascia no bairro o Esporte Clube Água Santa.
O que, inicialmente, era o meio de lazer de migrantes nortistas, nordestinos e mineiros que chegaram em terras diademenses em busca de trabalho, foi ficando sério e foi se desenvolvendo até se filiar à Federação Paulista de Futebol.
A determinação da diretoria e da equipe vem rendendo frutos. No ano passado, o Água Santa venceu oito de nove jogos e conquistou o acesso à Série A-3 do Paulista. Ainda em 2013, a Prefeitura transferiu a concessão do Estádio do Inamar para o time. Em contrapartida, o clube terá de expandir a capacidade do espaço, que já passa por reforma.
Em maio de 2014, mais uma conquista: ao vencer partida contra o São José B, garantiu o acesso à Série A-2, tornando mais próximo o sonho de integrar a Primeira Divisão do futebol paulista.
O presidente do Água Santa, Paulo Siqueira de Farias, ressalta o êxito da equipe em tão pouco tempo de atuação profissional. “Foram dois anos e dois acessos, pouquíssimos times conseguiram isso até hoje. Temos um elenco capacitado e um grupo unido, o que resultou nessas conquistas. Nosso desejo é que todo diademense sinta orgulho de ser torcedor do Água Santa”.
Jardim Botânico criado em 2000 é referência ambiental
Na Rua Ipitá, 193, Jardim Inamar, a natureza exala em variadas formas. Lá localiza-se o Jardim Botânico de Diadema, inaugurado no fim do ano 2000.
Com uma área de cerca de 26 mil m², possui vegetação com algumas espécies nativas da Mata Atlântica, com destaque para árvores como pau-brasil, paineira, jacarandá, palmeira juçara, angico, urucum e jatobá. Há também exemplares exóticos como plátanos, magnólia e palmeiras.
O local dispõe de um viveiro de produção de mudas, onde são cultivadas algumas espécies utilizadas no paisagismo da cidade, como pileia, grama amendoim e azaleias, onde são oferecidos cursos de jardinagem. Uma biblioteca ambiental, construída em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, garante material para pesquisas.
Em 2005, foi criado o borboletário, com quatro espécies de borboletas. Atualmente, há aproximadamente 1.000 insetos adultos e 800 em fase de lagarta. Há ainda duas trilhas pela mata, denominadas Trilha do Palmito e Trilha das Águas. Ambas devem ser acompanhada por monitores.
Informações sobre os horários de funcionamento e agendamento para visitas de escolas podem ser obtidas pelo telefone 4059-7619.
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