Automóveis Titulo Homenagem
Parabéns para os mecânicos!
Lukas Kenji
Especial para o Diário
19/12/2012 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


A graxa é espécie de segunda pele. Por toda parte do corpo ela está. Reflexo do trabalho de curar os males que agridem a paixão de todo brasileiro, o carro. A função deste sujeito curandeiro é tão importante que lhe rendeu um dia especial: 20 de dezembro. Importante honraria ao mecânico, profissional pouco valorizado por muitos.

Não é o caso de Valdomiro Albino da Silva, 57 anos, que tem nesta função o pão de cada dia desde 1989, quando decidiu largar o ofício de metalúrgico para abrir uma oficina na Vila Luzita, em Santo André. "Eu gostava de fuçar no meu carro. Quebrava o galho de alguns amigos também no fim de semana", explica o mecânico, que fazia tudo de bom grado, ou melhor, por paixão.

"Sempre tive o sonho de ser mecânico. De ver o cliente sair feliz da oficina porque sua máquina estava nos conformes. Mas fiz outros caminhos e demorei a chegar à mecânica. Quando tive a oportunidade, não pensei duas vezes", enaltece Miro, como é chamado pelos clientes. Estes têm no coração do mecânico o mesmo espaço e importância de um ente querido.

"A gente cria vínculos. Já arrumei carro de três gerações diferentes de uma família e é isso que torna minha profissão tão gratificante", explica Miro, com a voz embargada de quem parecia recordar de cada cliente.

E esta família só tende a aumentar. De indicação em indicação, a oficina de Miro está sempre cheia. "Acho que é porque gosto de fazer a coisa benfeita. Gosto de mostrar peças pro cliente, indicar onde está o problema e ele percebe que não é enrolação", justifica Miro, que não hesita em levantar da cama de madrugada para ajudar seus clientes.

A generosidade e eficiência são os trunfos do mecânico para driblar a falta de conhecimento proveniente das salas de aula. Miro aprendeu na raça identificar todos os órgãos que compõem um carro. Cursos técnicos vieram a atualizar e aperfeiçoar o dom já existente no mecânico. Assim é com tantos outros Miros, que têm nas ferramentas seus instrumentos de trabalho e na graxa seu combustível para continuar fazendo soar os roncos dos nossos amados e companheiros automóveis.

Dr. House de automóveis

Ele atende seu paciente e deixa o consultório com o jaleco repleto de graxa. Sua missão era diagnosticar de que mal sofria o Opala 1992, que já não andava muito bem das pernas há um bom tempo. Sua conclusão soa aos preocupados ouvidos do cliente mais ou menos assim: "O problema está na rebimboca da parafuseta". Como se não tivesse para onde ir, o aflito cliente deixa o filho que dorme em sua garagem na oficina, já não vendo as horas para contar novamente com seu parceiro de estrada.

Esta é cena repetida na oficina mecânica de ‘Dr. House', ou melhor, Marcelo Santos, 50 anos, que atende seus pacientes no bairro Cerâmica, em São Caetano. O apelido referente ao personagem principal da série norte-americana de nome homônimo foi dado pelos clientes e amigos. "Eles dizem que eu tenho talento para detectar problemas sem mexer em nenhum parafuso", explica Santos, sem pretensão de se gabar.

Apesar do status de doutor, o mecânico concluiu apenas o Ensino Médio. No entanto, seus 35 certificados de cursos técnicos compensam qualquer faculdade. "Mas minha maior escola foi trabalhar em oficina já com 14 anos. Foi lá que aprendi que o mecânico é um médico de carros", lembra Santos, que prima pela organização. Seu local de trabalho não lembra nem de perto aqueles recintos com pôster de mulher pelada e ferramentas por todos os cantos. Os funcionários andam uniformizados, todos de vermelho, a mesma cor da geladeira.

Especialista em pesados

Ele trocou o lápis pela chave de roda. Seu berço foi a oficina, era ali que se sentia bem - era ela o destino de suas fugas da sala de aula. Aos 3 anos já admirava a profissão do pai, que tomou por sua já aos 12. A fragilidade, no entanto, o impedia de manejar caminhões e ônibus. Nada de carros, é com os grandalhões que o mecânico Celso José da Silva se dá bem.

"Carro de passeio nunca foi meu forte. Quanto maior o automóvel, melhor. Acho mais fácil por terem componentes grandes", explica o mecânico de 47 anos, que não se arrepende de ter largado a escola cedo, a contragosto do pai. "Completei o Ensino Médio depois, com 30 anos. Talvez eu poderia ter melhores oportunidades se tivesse estudado direitinho. Mas não me arrependo porque alcancei tudo o que queria. Não sou rico, mas pude dar uma boa vida para meus (dois) filhos e é isso que me deixa realizado."

Hoje, Silva trabalha na concessionária da Sinotruck do bairro Jordanópolis, em São Bernardo. Se sente bem vestindo uniforme e não sente vergonha de sair às ruas com a vestimenta cheia de graxa. "É como se trajasse paletó", explica o homem, que quando pequeno se divertia ao tomar banho de óleo queimado.

É desta forma que acredita dar orgulho ao pai, de 85 anos, que fora mecânico até os 75. Foi com ele que Silva aprendeu tudo o que sabe. Cursos técnicos em grandes montadoras foram apenas complementos, que serviram para minimizar as dificuldades que tem até hoje com sistemas eletrônicos. "Mexo com caminhão chinês, a maioria com câmbio semiautomático, então tenho sempre que me atualizar para não ficar parado no tempo", justifica o mecânico, que é exemplo das dificuldades que rodeiam a profissão, mas que nem por isso deixa de amá-la.




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