Uma comunidade com estilo de vida que une elementos rurais e urbanos. Assim pode ser definido o Parque América, bairro que concentra 5.500 habitantes de Rio Grande da Serra. Ao caminhar pelas ruas de terra, as casas em construção se misturam às árvores da área de manancial e às crianças brincando livremente pelo local, cercadas por cães, cavalos e até mesmo vacas.
Localizado em área de divisa entre Rio Grande da Serra e Santo André, o vilarejo sofre com a falta de infraestrutura e indefinição quanto à posse dos terrenos. O bairro foi loteado por uma imobiliária da cidade na década de 1980 e hoje corre disputa judicial sobre a área, que está embargada.
São apenas quatro vias de paralelepípedo: Estrada Marechal Rondon e ruas Birigui, Marília e Lins. As demais são de terra. Além dos buracos e sujeira, há esgoto a céu aberto em alguns pontos. "As melhorias estão chegando a passos de tartaruga", considera a dona de casa Sandra Morais Cardoso, 30 anos. A moradora do bairro há 20 anos aguardava - junto com dezenas de outras mães - a chegada dos dois litros de leite cedidos pelo governo do Estado duas vezes por semana às famílias carentes da comunidade. Enquanto isso, a criançada corria e brincava em uma área onde antes havia um campinho.
A dona de casa Tatiane Ezequiel, 27, acredita que uma das principais dificuldades da população do Parque América é em relação ao atendimento médico oferecido pela Unidade Básica de Saúde instalada no local. "Dependendo da gravidade, a gente tem de buscar atendimento em Ribeirão Pires ou Santo André, porque aqui só tem clínico geral", conta. Há dificuldade ainda quando se precisa pagar alguma conta ou ir ao banco. "No Centro da cidade só tem uma agência", diz.
O deslocamento até o Centro de Rio Grande da Serra demora cerca de dez minutos, em transporte público, mas o tempo de espera nos pontos de ônibus chega a ser de até uma hora, garantem os moradores. "Só tem duas linhas: uma municipal e uma que vai até Ribeirão Pires. Tem de sentar e esperar", destaca Tatiane.
Na área da Educação, duas escolas atendem o bairro com cerca de um quilômetro quadrado de extensão: a EE Cora Coralina, que oferece ensinos Fundamental e Médio e a recém-inaugurada Emeb Recanto Infantil Madre Maria de Jesus, para crianças de zero a 5 anos.
Apesar de toda dificuldade, não há quem deseje sair dali. A tranquilidade e o contato com a natureza fazem novos e antigos fãs. "Quando cheguei aqui era só barro, vivia escorregando e me sujando toda", conta, aos risos, a aposentada Maria Sabrita, 67. Moradora do local há 19 anos, a viúva considera a falta de esgoto encanado o único contratempo. "Aos poucos foram chegando os vizinhos, mas isso não afastou a característica interiorana do Parque América", avalia.
Coleta de lixo e manutenção de vias desagradam
"A Associação União e Luta dos Moradores do Parque América está voltando à ativa", anuncia a presidente da entidade há um ano, Iraci Ramos Gabriel da Silva. Segundo a moradora do bairro, a falta de estrutura financeira e de recursos humanos ainda impedem a realização de mais atividades com a comunidade.
Hoje, dois trabalhos são desenvolvidos no espaço, destinados às crianças. Além de atividades culturais, os pequenos recebem aulas de taekwondo e outros esportes. Tudo feito a partir do voluntariado. "Precisamos organizar mais eventos para angariar verbas, mas pouca gente colabora", diz Iraci.
A comunidade carente também padece de atenção social, já que é comum observar jovens com mais de um filho pelo local. "Além de políticas públicas, também falta estrutura familiar. Estamos vendo aumentar a cada dia a quantidade de jovens que faz uso de drogas", comenta a presidente da associação de bairro, que tem 17 integrantes, mas apenas seis ativos.
Contudo, a violência ainda não é preocupação dos moradores do Parque América. "Claro que a gente já não se sente à vontade para deixar as crianças na rua até tarde, como antigamente, mas graças a Deus não temos tido altos índices de roubos", conta Iraci.
A manutenção das vias públicas e coleta de lixo realizadas pela Prefeitura também desagradam. "Tem muito lugar onde os próprios moradores se unem para limpar o mato que está crescendo", destaca Iraci. Quanto aos resíduos sólidos, a coleta acontece às terças e sextas-feiras, mas alguns moradores não respeitam o cronograma e colocam seu lixo para fora antes ou depois do período correto, o que favorece a ação dos cães, sujando as vias públicas. NF
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.