Economia Titulo Indústria
Desindustrialização afeta autopeças

As indústrias da cadeia automotiva sofrem com importação e
queda de 13,9% no faturamento frente a igual período de 2011

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
03/09/2012 | 07:15
Compartilhar notícia


Enquanto as montadoras vivem, desde junho, cenário de recuperação nas vendas, o panorama na indústria brasileira de autopeças está cada vez mais crítico. Se não houver incentivo ao setor, a tendência é o desaparecimento das pequenas empresas do ramo, por causa da crescente presença de peças importadas no mercado nacional, segundo o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Peças e Componentes para Veículos Automotores).

O segmento, neste ano até junho, registrou retração de 13,9% no faturamento frente a igual período de 2011. As vendas menores, por sua vez, levam as companhias a demitir para seguir operando. Em junho, a retração nos postos de trabalho chegava a 6% na comparação com 12 meses antes. Dados do Ministério do Trabalho apontam que, só no primeiro semestre, foram fechadas 7.800 vagas no setor.

O faturamento dos fabricantes nacionais caiu e a importação de componentes automotivos cresceu 6% neste ano, até agora, o que significa que os itens importados estão ganhando espaço no mercado interno. "As montadoras estão importando como nunca", assinala Mario Milani, que é conselheiro do Sindipeças e executivo de empresa de ramo em São Bernardo.

Se o mercado interno está ruim, as exportações também não são a saída. As vendas ao Exterior caíram 2% no primeiro semestre frente a igual período de 2011. Com isso, o saldo comercial (diferença entre exportações e importações) ficou negativo em US$ 5,4 bilhões no período de 12 meses até junho. O Sindipeças projeta que esse deficit chegará a US$ 6,5 bilhões no fechamento do ano.

CONTEÚDO LOCAL

A atual exigência de que os carros tenham 65% de conteúdo local - contida nas regras do Regime Automotivo estabelecidas pelo governo - não trouxe alívio ao setor. O percentual é sobre o preço final do carro e inclui o lucro das montadoras, gastos com propaganda, com segurança, com a folha de pagamento dos funcionários etc. "Com 10% a 15% de peças (nacionais) já se atinge a fórmula do conteúdo", explica Milani.

E enquanto as montadoras são beneficiadas pelo fato de o governo taxar com 35% de imposto de importação e acréscimo de 30 pontos percentuais no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre os carros importados, as indústrias de autopeças não tiveram aumento da proteção contra os itens do Exterior - no segmento o imposto de importação é, no máximo, de 18%.

O Sindipeças defende que o governo eleve a taxação para os importados ou então desvalorize mais o real, para que o dólar chegue a R$ 2,60 a R$ 2,70, para melhorar a competitividade do setor. "O dólar está defasado", afirma o dirigente.

A situação é particularmente crítica no Grande ABC, em que há mais de 600 indústrias de autopeças, relata o empresário Emanuel Teixeira, que é diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André. Ele cita que grande número de empresas do setor está endividada, por causa da perda de encomendas, diante das condições desvantajosas no País - carga tributária e encargos elevados e insumos caros, por exemplo.

Para tentar fazer frente aos itens importados, quem tem condições, traz matéria-prima ou componentes do Exterior. É o caso da MRS, de Mauá, que está comprando rolamentos da China. Mesmo assim, a empresa, que fornece para o segmento de caminhões, está registrando queda de 12% nas vendas neste ano. E reduziu o quadro de funcionários. Eram 200 no ano passado. Agora são 170.

 

MÁQUINAS

O processo de desindustrialização, ou seja, a substituição da produção local pela importação, não é exclusividade do setor de autopeças. A área de máquinas e equipamentos vive situação semelhante.

O setor de maquinários, desde outubro, já perdeu quase 10 mil postos de trabalho, com a forte entrada de produtos do Exterior. Enquanto as vendas das fabricantes nacionais caiu 7,6% no País, a importação cresceu 6,1%, segundo dados da Abimaq (Associação Nacional da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

"O mercado caiu bastante. Hoje é mais barato importar da França ou da Itália algumas peças do que produzir aqui", diz o diretor da fabricante TM Bevo, de São Bernardo, Evandro Orsi. Sua empresa já teve quadro com 100 funcionários há dois anos. Hoje está com 60.

O vice-presidente da Abimaq Carlos Pastoriza afirma que seriam necessárias reformas, mas, diante do cenário, é preciso medidas emergenciais. A associação também defende a correção do câmbio (a desvalorização do real), entre outras ações.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;