Setecidades Titulo Saúde
Grande ABC pretende
ampliar Saúde da Família

Ao todo, o programa beneficia 894 mil pessoas,
acompanhadas por 298 equipes em 96 unidades

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
30/06/2014 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Pelo menos quatro das sete cidades do Grande ABC pretendem ampliar o Programa Saúde da Família, que oferece atendimentos em domicílios. Cerca de 894 mil pessoas são acompanhadas em Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires por 298 equipes multiprofissionais em 96 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) ou USFs (Unidades de Saúde da Família). Diadema e Rio Grande da Serra não forneceram informações.

O programa é responsável pelo atendimento primário da população, incluindo crianças, adultos, idosos e gestantes. Mauá é a cidade da região com maior percentual de cobertura: 76% dos moradores. Para isso, conta com 85 equipes formadas por, no mínimo, sete profissionais: um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e quatro agentes de Saúde. A meta da administração é atingir 100% dos munícipes até 2016, com a implantação de outras 15 equipes.

Em São Bernardo, a atuação de 125 grupos alcança 55,14% da população. A previsão é que sejam criadas mais 25 equipes até 2017, conforme cronograma de reforma e ampliação das UBSs da cidade.

São Caetano conta atualmente com 24 grupos, que proporcionam atendimento de 50% da população. A proposta é cobrir 60% dos munícipes até 2016, com outras cinco equipes.

Santo André beneficia apenas 27% da população com o trabalho de 51 equipes de estratégia Saúde da Família e uma de agentes comunitários de Saúde. Está prevista a criação de outros quatro grupos, sendo dois no Sítio dos Vianas e no Jardim Alzira Franco. No entanto, não foi informado o prazo para que isso seja realizado.

Ribeirão Pires tem sete equipes credenciadas e 13 em processo de credenciamento, o que garante atendimento de 21% da população. A cidade não tem planos de ampliação do serviço.

Nos últimos dez anos, o número de famílias atendidas pelo programa teve alta de 350%, de acordo com o Siab (Sistema de Informação de Atenção Básica) do Ministério da Saúde. Em janeiro de 2004, 64,1 mil famílias eram beneficiadas; já no primeiro mês deste ano, a quantidade saltou para 288,7 mil. Entretanto, a principal dificuldade das administrações ainda é a manutenção das equipes completas. Isso se dá pela dificuldade na contratação de médicos generalistas.

Há um ano, a região tinha deficit de 150 profissionais para integrar equipes das UBSs das sete cidades. O problema foi parcialmente suprido pela adesão de seis prefeituras ao programa Mais Médicos. Foram encaminhados 147 profissionais para o Grande ABC.

Atualmente, apenas São Caetano, que não aderiu ao projeto, conta com duas vagas para médicos em aberto. “Temos facilidade em contratar profissionais, talvez pela rede, pela proximidade com a Capital e o alto IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)”, afirma o coordenador da Atenção Básica de São Caetano, Luciano Xavier.


Estratégia garante criação de vínculo

O vínculo criado entre paciente e equipe de Saúde da Família é o principal diferencial da estratégia adotada na rede básica. A médica especializada em Medicina da Família da USF (Unidade de Saúde da Família) Valparaíso, em Santo André, Fernanda Monteiro, 33 anos, define seu trabalho como a tarefa de olhar o paciente como um todo, sem esquecer de prestar atenção para o entorno da comunidade em que ele está inserido.

Por recomendação do Ministério da Saúde, cada equipe de Saúde da Família atende até 4.000 pessoas. Além das consultas de rotina, coleta de exames e encaminhamentos para especialistas, são responsáveis pela promoção de Saúde com, por exemplo, palestras e atividades para prevenção e esclarecimento de dúvidas sobre diversos tipos de doenças.

“Tenho o sonho de mudar o mundo e, por isso, acabo olhando para quem precisa na tentativa de ajudar”, afirma Fernanda, enquanto se prepara para manhã de visitas domiciliares. O grupo, formado pela médica e outros três agentes de Saúde, caminha pelo bairro Valparaíso até a casa da paciente Xênia Dimov, 65 anos, que ficou acamada após ter amputado a perna esquerda há um ano.

O percurso, que levaria cerca de dez minutos até a residência, demora um pouco mais por causa das paradas para o cumprimento e conversas rápidas com outros pacientes com quem cruzam pelo trajeto.

A visita dura pouco mais de 20 minutos, o suficiente para verificar a situação da paciente e escutar algumas histórias da simpática senhora de origem russa. Depois de perder a perna por complicações decorrentes de artrite e artrose, dona Xênia foi diagnosticada com Alzheimer. “Geralmente, são visitas mensais e, quando há necessidade de coleta de exames, a gente também faz em casa. Mas, em muitos casos, o mais importante é a presença e a conversa”, destaca Fernanda.

Dentro da equipe, o trabalho dos agentes comunitários de Saúde, caso de Maria Lucia Lain Pupo, 56, é circular pelo bairro em busca de informações e pacientes. “Eles são nossos olhos e pés”, considera a médica. Esses profissionais precisam morar na área de trabalho há pelo menos dois anos, o que, de acordo com a diretora do Departamento de Assistência à Saúde de Santo André, Noêmia Gil, facilita a prevenção dos problemas de modo mais eficiente.


Proposta é diminuir procura nos PAs

O principal impacto da rede organizada é a diminuição da demanda de pacientes nos PAs (Pronto Atendimentos) dos hospitais e nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), ainda tidos como gargalos das administrações, tanto pela falta de médicos quanto pela grande procura.

“Quando o indivíduo passa a cuidar da saúde rotineiramente, tem diabetes e hipertensão controlados, por exemplo, e tende a não passar mal com frequência”, destaca o coordenador da Atenção Básica de São Caetano, Luciano Xavier.

Isso pode ser observado na cidade de São Bernardo, com a dona de casa Maria Dulcineia Gomes Santos, 60 anos. Depois que passou a tratar a diabetes e a hipertensão periodicamente na UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Marchi, a moradora do bairro deixou de se sentir mal constantemente. “Procuro participar dos grupos de promoção de Saúde para saber o que posso ou não comer e entender mais sobre as doenças”, afirma.

Há cerca de nove meses, Maria Dulcineia passou a ter nova médica, a cubana Rafaela Solis Calles, 46, uma das profissionais que chegaram ao município por meio do programa Mais Médicos. A especialista em Medicina da Família há 21 anos destaca que a principal proposta é evitar e controlar os males na comunidade, sendo diabetes e hipertensão os mais comuns.

“A atenção que ela tem é impressionante. Geralmente, o médico não olha para a gente e não investiga os problemas”, ressalta a paciente ao se referir à profissional, já considerada amiga. 




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