Política Titulo Haiti
Sto.André está melhor
que S.Paulo, diz haitiano

Embora grande parte desempregados, 650
estrangeiros vivem na favela dos Ciganos

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
17/05/2014 | 09:14
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Andréa Iseki/DGABC


Buscar melhores condições de vida. Essa é frase que resume a expectativa de imigrantes do Haiti, que desembarcaram em massa em Santo André. Cerca de 650 haitianos vivem hoje na favela dos Ciganos, no bairro Utinga, próximo à linha do trem. Apesar de grande parte desempregados e sem documentação regular, há consenso de que as condições são mais satisfatórias do que as encaradas no país de origem. E explicam a rota para o Grande ABC: “Santo André está melhor para viver do que São Paulo”, alega Licares Donacien, 30 anos.

Santo André tornou-se o terceiro principal destino brasileiro dos haitianos, segundo a Prefeitura, atrás apenas da cidade de Brasileia, no Acre, e São Paulo. Questionado sobre a escolha, especialmente de evasão da Capital paulista, Donacien argumenta que a região tem bastante campo de trabalho e custo de vida mais baixo. “Lá (Capital) é muito caro”, disse. Após meses de negociações, o governo Carlos Grana (PT) vai se encontrar na quinta-feira (leia mais abaixo) com integrantes da Associação Clube de Mães, localizada dentro da comunidade, na qual 584 estão cadastrados.

A equipe do Diário passou a manhã de ontem no local e encontrou diversos haitianos – aproximadamente 30 pessoas – espalhados pelo comércio do entorno e na praça, que fica perto da entrada do núcleo. Em sua maioria, homens, religiosos, que se estabeleceram em casas de amigos e parentes. Algumas residências chegam a acolher dez estrangeiros e desses apenas dois com emprego registrado. Entre si, eles conversam em crioulo, baseado na língua francesa, natural do país. Porém, parcela significativa sabe falar francês e inglês. Muitos, na convivência com brasileiros, aprenderam o Português.

Conforme informações do Palácio do Planalto, cerca de 21 mil haitianos entraram legalmente no Brasil entre 2010 – ano do terremoto que matou mais de 300 mil pessoas no país caribenho – e 2013. Presidente da associação, Rose Sampaio afirma que a primeira remessa de estrangeiros chegou em Utinga há um ano e meio. Sua filha Jade, que também compõe os quadros da entidade assistencial, menciona que haitianos consideram o Brasil como “terra abençoada”. “Eles gostam daqui. Estamos ajudando no que é possível”, frisa ela.

Carpinteiro, Donacien pisou no município há quatro meses. Tem atuado no ramo da construção civil. “No Haiti não tem trabalho. Aqui no Brasil há muita gente, mas tem também muito serviço”, acrescenta o haitiano, que vive numa casa de dois cômodos com a irmã, cunhado, sobrinha e um colega. Ele paga R$ 300 de aluguel. “Em São Paulo, o preço era de R$ 350.” Contrariando as estatísticas de conterrâneos que enfrentam as fronteiras pelo Equador e o Peru, o estrangeiro veio de avião. “Vendi tudo, carro, moradia. Gastei R$ 6.000 para vir para cá.”

Parte deles tem dificuldade na comunicação e é explorado no trabalho, recebendo salários abaixo do mercado. Na comunidade, há haitianos formados em Medicina, Engenharia, Enfermagem, Letras e Jornalismo. Apesar das especialidades, eles não conseguem exercer a profissão no Brasil. Isso porque a maioria ainda não possui validação do diploma e busca apoio governamental. “Um é médico, formado na Espanha, com curso de especialização em Cuba e está trabalhando de caixa no supermercado. Não consegue inserção na profissão de origem”, explicou Jade. 




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