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Hoje eu não quero voltar sozinho

Esta semana escolhi falar de um curta que já está mais do que conhecido...

Carlos Ferrari
Do Diário do Grande ABC
03/05/2014 | 07:00
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Esta semana escolhi falar de um curta que já está mais do que conhecido por aqueles que gostam de cinema, de garimpar no Youtube, ou mesmo que tiveram a sorte de receber a recomendação de alguém. O meu caso foi o terceiro. Já havia lido algo sobre o assunto, mas foi em uma conversa com um primo, em meio àquelas festas familiares, que acabei de fato sabendo detalhes e recebendo, após alguns dias, o link para assistir.

O feriado de 1º de maio caiu como uma luva para que eu, de fato, sentasse no sofá e pudesse, com tranquilidade, dar a atenção exata que a obra merece. Não vou me preocupar aqui com os riscos de dar spoiler – quando alguém revela o final do filme – já que depois do curta veio o longa e muita gente tem se utilizado do conteúdo do primeiro para escrever e/ou promover a divulgação do segundo.

Estamos falando de uma história leve: alunos do Ensino Médio que passam a interagir com um colega cego. Só por aí já vale a pena assistir. O garoto é retratado na história como um aluno qualquer. Por não enxergar, trabalha na sala de aula e fora dela com equipamentos e necessidades educacionais que se apontam diferentes.

Seguindo com a leveza característica da proposta, o garoto rapidamente passa a conviver com mais dois colegas, Giovana e Gabriel. A partir de então, vão juntos para casa, tratam de assuntos e trabalhos escolares e, sim, também vivem as experiências que todos nós já tivemos desde aqueles tempos de escola ao se surpreender com a paixão invadindo o coração sem mandar e-mail ou mesmo telefonar antes para avisar.

Sem qualquer preparação prévia, cuidados ou construções de cenários explicativos, o pequeno filme acontece como se nos dissesse: simples assim!

Creio que assim como eu, todo mundo que passar pelo Youtube para ver o curta vai ficar com muita vontade de assistir ao longa. Não só por conta da garota que se apaixona pelo colega independentemente da sua deficiência; ou pelo fato de em determinado momento o garoto cego e o colega Gabriel se perceberem apaixonados sem qualquer tipo de culpa ou trauma. Creio que a beleza da ideia está no jeito com que temas aparentemente espinhosos para muitos com os quais convivemos, se tornam leves, fáceis e presentes para a nossa e as futuras gerações.

Para mim, a cena mais marcante se dá no momento em que o garoto precisa voltar só para casa. A beleza da autonomia se apresenta de maneira concreta e, após uma pequena discussão com a amiga, Leonardo pega sua bengala e vai embora com a naturalidade e a normalidade que jamais vi em um conteúdo midiático antes.

Creio que quando decidi fazer esse texto, não foi apenas por ser cego ou mesmo por não ser gay. A motivação veio da constatação da possibilidade de podermos conversar sobre velhos assuntos mal trabalhados, por meio de novos olhares, totalmente ressignificados. O filme me sinalizou as infinitas e novas possibilidades do século 21.

Depois, rodando pela internet para procurar outros textos sobre aquilo que eu acabara de assistir, li uma coluna muito bacana de Mateus Pichonelli, publicada na revista Carta Capital, a qual compartilho com vocês: http://www.cartacapital.com.br/cultura/hoje-eu-quero-voltar-sozinho-o-mundo-possivel-e-sem-juizo-final-681.html.

Tenho sido recorrente em minhas reflexões que tentam problematizar as novas alternativas de relações e construções sociais de nosso tempo. Penso que dessa vez trago mais um belo exemplo que, recomendo, não demorarem como eu para parar e ver.

Também recomendo que se possível não assistam sós. Quando termina, dá uma vontade imensa de conversar, ouvir outras opiniões e, por fim, discordar ou concordar com elas.

Como eu já disse, em breve espero ver o filme. Já fiz uma pré-reserva no serviço de streaming que tenho em casa e, tão logo o filme esteja disponível, pretendo marcar uma boa noite de cinema com muitos amigos, pois não tenho dúvidas que teremos um monte de coisas para falar depois da sessão pipoca de Hoje eu Quero Voltar Sozinho.

* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 




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