Encontrar beleza onde todos só enxergam lixo não é tarefa para qualquer um. É preciso ter uma visão diferente e a alma aberta para as possibilidades positivas da vida. Na medida em que recolhia material reciclado nas ruas de Diadema, o trabalhador Helenildo Domingos da Silva, mais conhecido como Zé Pretinho, começou a perceber que muitos elementos, principalmente os bonecos descartados, poderiam ganhar uma sobrevida.

Aos 61 anos, ele é a atração principal da Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, no Jardim Eldorado, com um inusitado muro artístico tomado por frases aleatórias e personagens que representam figuras de diversas áreas, da televisão à política. O estilo nada convencional do artista plástico das ruas agita a programação cultural do Sesc São Caetano (Rua Piauí, 554. Tel.: 4223-8800) com o projeto A Arte Urbana de Zé Pretinho, cuja abertura ocorre hoje à noite, às 20h. Entre as ações gratuitas estão bate-papos, oficinas e uma instalação especial.

“Parece que tudo é material reciclado, mas o trabalho que o Zé faz é bem maior. Sua arte tem um viés social muito intenso. Em cada personagem que ele monta há algum tipo de grito de reclamação ou questionamento. É a voz do oprimido criando uma resposta para a camada social mais privilegiada”, explica a curadora Brenda Gottlieb, que se encantou com as obras que viu e hoje trabalha para divulgar ao máximo o talento do amigo.

O destaque da agenda fica por conta de reprodução em plotagem do famoso muro montado por Zé em Diadema, incluindo uma réplica do portão que dá acesso ao seu humilde ateliê. Diversas imagens que flagram o cotidiano do artista e alguns dos itens elaborados por eles complementam a atração, além de sons e ruídos da região. A montagem fica exposta até dia 20 de abril de segunda a sexta, das 7h às 21h30, e nos sábados e feriados, das 8h às 17h30.

Segundo Brenda, o objetivo maior é fazer com que as pessoas consigam compreender essa linguagem urbana. “Como eu fui tocada por essa arte, acho que as outras pessoas também podem ter esse sentimento. O Zé tem a necessidade de ser reconhecido por esse lado artista e filosófico. O diálogo tenta fechar um ciclo para que todas as camadas sociais possam interagir.”

Uma série de troca de ideias com o autor promete revelar suas visões em torno de temas como o processo criativo (no dia 19) e a relação de sua trajetória com as outras manifestações urbanas (dia 9). Ele também irá ministrar workshops sobre a confecção de brinquedos (quarta), instrumentos musicais (dia 9) e vasos (16 de abril), entre outros itens, com material reciclado.

O convidado Cauê Novaes será responsável por oficinas de estêncil e lambe-lambe (como são conhecidos os cartazes poéticos espalhados pelas ruas), cujas aulas irão ocorrer nas noites de terça-feira, sempre às 19h, a partir de amanhã.

A programação completa de A Arte Urbana de Zé Pretinho e mais informações estão na página da unidade local no site do Sesc (www.sescsp.org.br).