Quem trabalha direto no sol, com roupas pesadas
ou material quente, sofre neste verão fora do comum
Temperaturas acima dos 34°C, diariamente, clima seco e abafado. Não está sendo fácil aguentar o verão neste início de 2014. Se a tarefa é árdua até para quem passa boa parte do tempo no ar-condicionado, imagine a situação enfrentada pelos profissionais que atuam expostos ao sol, utilizam roupas e equipamentos pesados ou com material quente. A equipe do Diário percorreu as ruas da região para acompanhar a rotina desses trabalhadores que sofrem ainda mais com este calor fora do comum.
É o caso de Felipe Alecssandro Teixeira de Souza, 29 anos, que atua na manutenção de rede elétrica. Ele fica o dia todo na rua fazendo reparos em fios de alta-tensão. Para se proteger de possível descarga elétrica, é preciso estar paramentado com roupas especiais que cobrem todo o corpo, luva grossa e capacete. Quando tira o equipamento, chega a jorrar suor de dentro das vestimentas.
“A empresa obriga a gente trabalhar com essa roupa e, neste calor, é insuportável. Mas temos de passar por isso, porque é padrão. Temos de utilizá-la por questão de segurança. É sofrido. Nunca passei por tanto calor como neste verão, está quente demais”, comenta o profissional.
Para o operário César Augusto de Campos, 57, que faz reparos em asfalto, a situação é mais complicada. Além dos trajes robustos, ele manuseia material quente: o piche colocado nas vias de Santo André. “Está complicado não só por causa do calor, mas também pela caloria do material que a gente trabalha. Fico suando demais. Trabalho com isso há 23 anos e nunca peguei um clima tão insuportável como está agora. Não tem o que fazer, a gente sofre um pouco mais mesmo, mas pedimos força a Deus para aguentar.”
Ficar dentro de um buraco também não é tarefa fácil. Neste verão, é como estar num forno. Pois é exatamente esse o trabalho de Jacinto Antônio de Paula, 57, que atua na manutenção na rede de esgoto. “Essa é nossa batalha. Não é moleza, não. Mas é nosso ganha-pão, que leva comida para dentro de casa. Alguém tem de fazer o serviço, então, não tem como fugir”, afirma. Ele até brinca com a situação. “Com este calor, chego em casa bronzeado e minha mulher pergunta se fui à praia.”
SAÚDE
De acordo com o médico Marcelo Ferreira, diretor do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Mauá, a exposição a períodos de calor intenso constitui agressão para o organismo, podendo conduzir ao agravamento de doenças crônicas, originar cãibras, desidratação ou até o esgotamento.
O especialista recomenda que sejam feitas refeições leves e mais frequentes, utilização de protetor solar e tomar bastante água.
Alta temperatura prossegue até início da próxima semana
Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a onda de calor nas regiões Sul e Sudeste do País vai prosseguir até o início da próxima semana. “Deve continuar abafado de quinta-feira até domingo, mas, na semana que vem, voltaremos a ter chuva de verão nos fins de tarde, com pancadas na maior parte dos dias”, comenta o meteorologista do instituto Marcelo Schneider.
Enquanto isso, funcionários de fábrica de sorvete se refrescam
Se para quem trabalha exposto ao sol ou com roupas e equipamentos quentes está ruim, para os funcionários de uma fábrica de sorvetes no Centreville, em Santo André, a situação é diferente. Com climatização de ambiente entre 10°C e 15°C para não comprometer a produção do produto, o contraste entre a temperatura interna e externa é imensa. “Neste calor não dá vontade de sair daqui para nada. Às vezes, precisamos buscar o almoço, mas evitamos ir para não enfrentar esse bafo quente lá fora. Está demais”, comentou o dono da empresa, Rogério Sabatini, 49 anos.
Atuando na área há cerca de 20 anos, o tempo quente incomoda o proprietário, já que convive constantemente com o frio. Uma prova disso é que, quando precisa entrar na câmara fria, onde os sorvetes são estocados e a temperatura fica em torno de 23° a 25° negativos, ele entra de camiseta regata sem problemas, enquanto os funcionários vestem jaqueta para adentrar o espaço. “Já estou acostumado, mas sei que isso não é bom, precisa ter proteção para entrar aqui.”
O forte calor tem feito Sabatini suar a camisa mesmo em ambiente frio. Ele relatou que tem trabalhado das 5h à 0h, sem parar. “Estamos produzindo além do nosso limite, as máquinas estão sobrecarregadas e quebrando. O calor veio forte demais e me complica. Não estamos dando conta de tanto serviço”, disse Sabatini. Durante os 40 minutos em que a equipe do Diário esteve na fábrica, dezenas de clientes passaram pelo estabelecimento em busca do produto para se refrescar.
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