Desde 1999, os Lemes abdicam de sua própria ceia para oferecer solidariedade a quem necessita
Há 14 anos, os moradores do Parque São Bernardo vivenciam no dia 25 o mais belo exemplo do espírito natalino com o almoço oferecido pela família Lemes aos necessitados do carente bairro são-bernardense.
A tradição vem desde 1999, quando José Lemes, hoje com 50 anos, pensou em ajudar quem não tinha nada para comemorar o Natal. Situação essa que ele conhecia bem, quando chegou ao Grande ABC com 3 meses de idade, junto de seus pais e os outros sete irmãos.
“A gente não tinha nada. Quando não passava fome, comia o que sobrava da mesa dos outros. E a gente não queria aquilo”, disse.
Por isso Zé, como é conhecido no bairro, decidiu que mudaria para melhor a comemoração de muita gente. O almoço de sua família já virou parte do calendário oficial da região e abriga milhares de pessoas. Se no início a festa era feita na rua, hoje uma escola do bairro cede as instalações para a recepção das 4.000 pessoas esperadas hoje. Mas uma coisa não mudou: o preparo da refeição é feito no fogão a lenha, sob comando de Dona Cotinha, a matriarca dos Lemes, e com a ajuda das mais experientes, como Dona Maria.
O celebração dos Lemes ficou conhecida. Desde janeiro, a família arrecada os alimentos que são doados. Fardos de arroz, feijão, macarrão, enlatados, congelados e refrigerantes dividem espaço na modesta casa com os cerca de 30 mil brinquedos que serão distribuídos.
Os presentes, aliás, garantem a comoção de Zé. Mesmo após todo esse tempo, ele garante se emocionar ao ver uma criança sorrir ao escolher um brinquedo.
“Muitos pais não têm tempo para conviver com seus filhos porque precisam trabalhar”, disse. “Um único dia juntos, no almoço, pode fazer toda a diferença no futuro.”
E faz, segundo Zé. Das simples bolas de plásticos que eram distribuídas na década de 1990, ele se alegra ao ver que muitos daqueles pequenos se formaram no Ensino Superior, conseguiram alcançar o objetivo de vida melhor.
Justamente por isso, uma das novidades no almoço de hoje será o painel com fotos das edições anteriores para que as pessoas se reconheçam.
Zé está feliz com o crescimento de seu evento beneficente. Orgulha-se dos feitos de sua família humilde, mas que tem o direito de sonhar.
“Queria muito que um helicóptero passasse com o Papai Noel jogando balas às crianças”, disse. A explicação é simples. E comovente. “Aqui é um bairro perigoso. Quando passa helicóptero é só polícia caçando bandido ou TV mostrando tragédia. Queria que eles, quando escutassem o barulho, relacionassem com algo bom.”
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