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Famílias são despejadas de área de manancial

Polícia de S.Bernardo precisou intervir em destruição de barracos

Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
18/07/2012 | 07:00
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Seis famílias que ocupavam terreno em área de preservação ambiental no Jardim Laura, em São Bernardo, tiveram seus barracos demolidos na manhã de ontem por funcionários da Prefeitura. Os desabrigados reclamam que os agentes foram truculentos e cometeram abuso de autoridade. Além disso, os moradores não teriam recebido notificação prévia para deixarem os imóveis. A administração municipal nega as informações. A Polícia Militar precisou intervir e o caso foi parar no 8º DP (Jardim Campestre).

"Foi tudo na covardia. Passaram há um mês, mas não avisaram que iam derrubar tudo, apenas que teríamos de sair. Mas nunca nos ofereceram nenhum tipo de ajuda", disse o ajudante Mario Gonçalves Soares, 46 anos.

Os moradores relatam que as casas demolidas foram erguidas há pouco mais de um ano. A Prefeitura diz que pela Lei Específica da Billings só são regularizadas construções nas áreas de manancial invadidas até 2006. E promete derrubar outras habitações impróprias recentes.

Sem saneamento básico e em condições precárias, os desabrigados dizem que a ação foi violenta. Segundo eles, os seis membros da brigada de controle de adensamento habitacional não quiseram sequer dialogar e foram logo derrubando as paredes de madeira, além de gritar ofensas, sem apoio da GCM (Guarda Civil Municipal) ou da polícia. A dona de casa Clariça Xavier de Freitas, 23, grávida de dois meses, chegou a machucar a mão ao tentar impedir o uso de pé de cabra por um dos agentes.

"Foi falta de respeito. Essas pessoas deveriam aprender a conviver com os outros. Foi muito estúpido da parte deles", disse Soares. As famílias reivindicavam mais tempo para a retirada dos pertences. Camas, fogões e geladeiras ficaram expostos à chuva. "Não temos para onde ir e ainda perdemos tudo o que tínhamos. Nem chorar adianta", resumiu o ajudante. A Prefeitura não informou para onde as famílias seriam removidas.

‘Não estamos aqui porque queremos', diz moradora

A auxiliar de limpeza Edivania dos Santos, 40, chora ao ver que apenas a geladeira ficou em pé. A filha, Michele, 11, é quem toma a iniciativa de juntar as poucas panelas e pertences que resistiram à demolição do barraco e à chuva enquanto esteve ausente.

"Queria apenas um dia, para poder tirar tudo. Vai anoitecer e vão roubar o que sobrou", disse. Ela vai dormir na casa da tia, em um bairro próximo. "Sei que estou errada por ter vindo aqui, mas você acha que se tivesse condições moraria aqui, sem nenhuma perspectiva para meus filhos?", questionou.Sem água encanada, luz ou saneamento, ela diz que o barraco apresentava infiltrações. "Sempre enchia de água. Ontem mesmo dormi na lama. Eles acham que estou aqui por que quero viver assim", reclamou.

Os moradores foram informados de que teriam reunião hoje com representantes da Prefeitura para tratar do futuro. Por enquanto, receberiam apenas cobertores e colchões. O poder municipal diz ter mapeado os assentamentos irregulares na cidade entre 2009 e 2010. E que o plano traçado prevê zerar a demanda de quase 38 mil moradias do município até 2028. "Não posso esperar até lá", disse Edivania.




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