Estabelecimentos registram queda de 20% no
número de clientes e de 15% no valor das contas
O restaurante pode ser o mesmo e a comida continuar agradando, mas a chance de conseguir “aquela” mesa especial ficou bem maior nos últimos meses no Grande ABC. Isso porque moradores da região estão mais cautelosos na hora de gastar dinheiro para comer fora por lazer. “As pessoas continuam saindo, mas houve redução em torno de 20% no número de clientes nos últimos três meses”, diz Carlos Roberto Moreira, presidente do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC). “Além da queda na frequência, os consumidores estão gastando menos. O tíquete médio teve retração entre 15% a 20%, no mínimo.”
As razões para a diminuição vão desde o fascínio que o sofá de casa exerce nos meses de inverno, passam pela Lei Seca, que pune quem bebe e dirige, e chegam ao beco sem saída que é o aumento da inflação, que torna os bolsos mais rasos. Isso sem falar no efeito psicológico que os 23 assaltos em bares e restaurantes ocorridos neste ano em São Paulo causaram também nos moradores da região. “Aqui não houve arrastão. Mesmo assim nos antecipamos e estamos nos movimentando junto à Polícia Militar para criar estratégias preventivas e aumentar a sensação de segurança da clientela.”
De todas as razões, o efeito corrosivo do aumento dos preços é o que mais afasta a clientela. De acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), nos últimos 12 meses, comer fora de casa ficou 10,3% mais caro. No mesmo período, a inflação oficial está em 6,7%. E os reajustes salariais tendem a ficar em um dígito.
DE OLHO NO BOLSO
A preocupação com a carestia, com as dívidas e com os custos em ascensão está impedindo que as pessoas tentem esfriar a cabeça tomando um choppinho. “Tivemos meses bem fracos no primeiro semestre. Aí, fizemos algumas promoções e o resultado foi imediato. Com mais movimento, inclusive, do que o esperado”, diz a auxiliar administrativa Shirley Barcello, do Bar Figueira, em Santo André. “As pessoas gostam de sair à noite, mas às vezes precisam de incentivo para esquecer do lado financeiro”, analisa.
“Os clientes estão com medo de gastar”, diagnostica o gerente da Fabuloso Mega Lanches, de São Bernardo, Patrício de Souza Castro. “De março para cá deu para sentir a queda, que foi entre 12% e 15%, localizada no movimento da noite e dos fins de semana”, diz Castro. “Durante o almoço, tudo normal”, completa.
EQUILIBRISTA
Segundo os empresários da região, embora os custos os pressionem, há temor em reajustar os preços do cardápio e provocar evasão ainda maior da clientela. “Mais de 80% dos nossos associados são empresas familiares, que preferem ver a lucratividade baixar que perder freguesia”, explica o presidente do Sehal. “Assim, justamente para não espantar o que resta da clientela, muitos estabelecimentos decidiram não repassar os custos da inflação para seus preços. E olha que a inflação nos alimentos foi bem alta”, destaca o representante do setor.
LUZ DO SOL
“O movimento na hora do almoço, quando as pessoas comem fora porque não têm como voltar para casa e muitas vezes pagam a conta com tíquete refeição, se manteve estável”, diz Moreira. “O que foi mais penalizado é o movimento à noite e nos fins de semana, quando o cliente escolhe sair para comer para se distrair”, completa.
Os shoppings percebem claramente os diferentes momentos de uso da sua praça de alimentação. Os que estão localizados em áreas onde há muitas empresas no seu entorno têm a frequência dos restaurantes nos dias úteis, na sua maioria, composta por profissionais em horário de almoço. Neste caso, o movimento segue sem alteração.
Mas, à noite e nos fins de semana, os frequentadores querem curtir momentos de lazer e descontração e combinam o jantar com outras atrações. O freio nos gastos deixa essa atividade em segundo plano.
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