De olho no transito Titulo
Prioridade equivocada

Na Grande São Paulo, o total de carros cresce oito vezes mais rápido que a população. Em fevereiro, a frota paulistana ultrapassou os 6 milhões

Por Cristina Baddini
16/10/2009 | 00:00
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Na Grande São Paulo, o total de carros cresce oito vezes mais rápido que a população. Em fevereiro, a frota paulistana ultrapassou os 6 milhões de veículos, um para cada dois moradores. Os congestionamentos chegam a mais de 200 quilômetros nos horários de pico.
Por conta disto, o governo do Estado decidiu investir R$ 1,3 bilhão para construir 23 quilômetros de pista em cada lado do Rio Tietê, com três novas faixas por sentido, além de um conjunto de obras acessórias, como pontes, viadutos e alças de acesso. As marginais, que correm paralelas ao rio e ligam as zonas Norte, Sul e Oeste da cidade e também servem de acesso ao aeroporto de Cumbica e às rodovias Anhanguera, Bandeirantes, Castello Branco, Dutra, Fernão Dias e Ayrton Senna, foram construídas há 52 anos e entraram em colapso faz tempo.
Mas, a questão é: vai resolver o problema do trânsito? Acredito que sequer amenize o tráfego. O problema vai muito além da construção de mais pistas na marginal. Para onde irão os carros que ocuparão as novas pistas? Sim, porque os carros não aparecem do nada nem desaparecem após trafegarem na marginal. Eles vêm de estradas e vão para as mesmas ruas e avenidas que já estão superlotadas e completamente paradas. É o mesmo que aumentar o diâmetro do cano d'água de sua casa sem aumentar a entrada de água, nem a torneira.
Portanto, São Paulo gastará R$ 1,3 bilhão para ter mais carros presos nas marginais. Me parece um estacionamento caro demais.
Para aqueles que dirigem seus automóveis para São Paulo vindos de outras cidades, a solução é criar transportes coletivos para os que moram em outros municípios e trabalham em São Paulo. O investimento em transporte coletivo para retirar aqueles que ocupam as marginais para ir e voltar do trabalho dentro de São Paulo produziria redução nos congestionamentos muito maior na marginal do que fazer novas pistas.
Outra alternativa seria a construção de uma linha de metrô acompanhando a marginal, pois mais pessoas seriam atendidas, mais carros sairiam das ruas e o trânsito melhoraria mais. Isso sem falar na redução da poluição.
A construção de novas pistas na Marginal do Tietê terá também como consequência: a redução da área permeável da cidade. Sabe-se que haverá compensação ambiental, mas nem todas as árvores serão plantadas exatamente na marginal. A cidade vai, sim, perder permeabilidade. Com essa obra serão perdidos 19 hectares - como se fossem 19 quadras da cidade de área permeável transformadas em asfalto. A compensação ambiental, por meio do plantio de árvores não irá compensar adequadamente, uma vez que as árvores serão plantadas em áreas verdes, que já são permeáveis hoje.
Se a rede viária da cidade for ampliada indiscriminadamente, aumentando cada vez mais a impermeabilização do solo, teremos cada vez mais problemas de drenagem. Portanto, é preciso planejar a expansão urbana, e isso é uma coisa que até hoje não ocorre na metrópole de São Paulo. Não há planejamento metropolitano. Cada município faz aquilo que bem entende, não há diálogo entre eles. E os rios, infelizmente, não obedecem a limites municipais.
A população da Grande São Paulo clama por uma alternativa consistente, pois essa a gente já viu que não vai dar certo.




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