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A farra é geral

Como diz Millôr Fernandes, "ou nos locupletemos todos ou restaure-se a moralidade". Pelo jeito, os mais altos escalões brasileiros

Por Carlos Brickmann
13/05/2009 | 00:00
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Como diz Millôr Fernandes, "ou nos locupletemos todos ou restaure-se a moralidade". Pelo jeito, os mais altos escalões brasileiros ficaram com a primeira opção: além de deputados e senadores, também juízes andaram desfrutando de passeios patrocinados (e os diversos Executivos não ficam atrás: vão do passeio ao Exterior com a sogra até os amigos do filho do presidente em aviões da FAB). O problema, nessa geleia geral, é que a turma da boquinha nem se sente desonesta: eles simplesmente não enxergam a diferença entre o que é público e o que é particular. Para a galera da mordomia, se o dinheiro está lá é para gastar - e gastar consigo mesmo, convenhamos, é mais gostoso do que gastar com o povo.
Aboliu-se também aquilo que nossos pais e avós chamavam de "modos" - ou, como diríamos hoje, compostura. Quem tem modos não aceita convites de empresas que um dia pode ter de julgar; quem tem modos não usa avião, combustível, mecânicos e pilotos do governo para beneficiar a própria família; quem tem modos não se confunde e gasta dinheiro público; só quando necessário para exercer o cargo, sem dar passagens a namoradas, amigos, parceiros ou parentes.
Como é que se lida com gente que não tem compostura? No mundo civilizado, com tribunais. O presidente de Israel perdeu o cargo e é processado por assédio sexual, um governador americano foi afastado por colocar à venda o resto do mandato de Barack Obama, o primeiro-ministro da Alemanha deixou o cargo e a política por ter recebido algum por fora. E aqui? Aqui, bem, deixa pra lá.

Mea culpa
O jornalismo também não escapa: como se pode falar livremente de um destino turístico se o repórter é convidado a ir lá, com todas as despesas pagas?

Petróleo na CPI
Há 25 assinaturas, das 27 necessárias, para a instalação no Senado da CPI da Petrobras. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que propõe a investigação, acha que hoje completará o número necessário. Pode ser: o PMDB, irritado por ter perdido bons cargos na Infraero, talvez dê uma lição ao governo. Mas pode não ser: nenhum governo gosta de CPI, e uma ofensiva bem fornida e suculenta pode convencer parlamentares a retirar assinatura (não é exclusividade do PT: em São Paulo, o governador tucano Geraldo Alckmin engavetou 69 CPIs).

Combustível da crise
Se a CPI for instalada, não faltará assunto. O primeiro tema é Vitor Martins, irmão do ministro da Comunicação, Franklin Martins. A oposição suspeita de um esquema, que seria coordenado por ele, para reforçar a distribuição de royalties do petróleo às prefeituras amigas. Outro tema é a Operação Águas Profundas, da Polícia Federal, sobre fraudes na licitação de plataformas. O terceiro item é ainda mais explosivo: superfaturamento na Refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída em Pernambuco (aquela em que Hugo Chávez tinha prometido pagar 40% dos custos, e ainda não se coçou). Ali, segundo o Tribunal de Contas da União, há superfaturamento.

Boas notícias
O secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, promete para hoje portaria que determina a entrega aos governos estaduais de todos os arquivos da ditadura militar. Ainda não é tudo: há arquivos cobertos por segredo oficial, há arquivos que desapareceram ao longo dos anos, mas já é um passo no caminho correto. O governo paulista já anunciou um portal para divulgar a história de 140 pessoas que desapareceram no Estado durante o regime militar.

Chegou...
Hoje é aniversário de 121 anos da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, que acabou com a escravidão no Brasil. É tempo mais do que suficiente para acabar de vez com o trabalho escravo, mancha vergonhosa que persiste no País. Hoje não há mercado público de escravos, mas trabalho em condições análogas à escravidão existe: há gente que jagunços impedem de deixar o local de trabalho, que não recebe salário, só alimentação (nem sempre suficiente ou em boas condições).

...a hora
O governo tem dado alguns passos no bom sentido - muitas vezes atabalhoadamente, o que não permite obter condenações na Justiça. É importante fazer com que haja leis rígidas, claras e bem cumpridas, para que os responsáveis por trabalho escravo sejam atingidos no bolso e na liberdade.




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