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Lula falou e não disse

O presidente Lula é um excelente orador, com impressionante capacidade de improviso

Por Carlos Brickmann
21/02/2010 | 00:00
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O presidente Lula é um excelente orador, com impressionante capacidade de improviso e grande facilidade para responder a perguntas incômodas - embora não haja perguntas incômodas, apenas respostas inconvenientes. Chamou a atenção, portanto, a dificuldade com que falou a O Estado de S.Paulo sobre o Mensalão. E essa dificuldade vem desde que o Mensalão foi denunciado: na ocasião, Lula disse que foi traído, mas não disse por quem, nem quando, nem como.

Agora, prometeu que vai investigar o caso ao deixar o Governo. "Quero saber de algumas coisas que não sei e que me pareceram muito estranhas". Justo; mas por que não investigar agora, que tem o poder nas mãos, que comanda a Abin e a Polícia Federal, e deixar para depois, quando já não terá quem faça o serviço?

Há realmente coisas muito estranhas. Quem denunciou o Mensalão foi o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson. O ex-deputado Jefferson continua na presidência nacional do PTB e o PTB continua na base do governo. Depois de uma denúncia dessas, por que não deixou o governo? Por que o governo o aceita?

Há os dólares na cueca, que antecederam em muito o dinheiro nas cuecas e nas meias do Panetonegate. Até hoje não se sabe qual a origem dos dólares, nem qual seria seu destino. Como não se sabe a origem do dinheiro dos aloprados, que tentavam comprar um dossiê contra José Serra. Como não se sabe para que o braço direito da hoje candidata Dilma Rousseff, Erenice Guerra, fazia um dossiê contra Ruth Cardoso. São coisas estranhas. Um enigma dentro de um mistério.

O FRUTO PROIBIDO DO POMAR
Por ordem direta do secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, a imprensa foi proibida de assistir aos debates do Congresso do partido. Os jornalistas não puderam assistir nem a palestra da candidata Dilma Rousseff às delegações estrangeiras. Por que? Pomar explicou: "Porque eu estou mandando".

O GÊNIO E O DOIDO
O vice-governador em exercício de Brasília, Paulo Octavio, havia decidido renunciar em caráter irrevogável. Desta forma, aliviaria a pressão política que sofre e que eventualmente pode atingir a atividade de suas empresas. Comunicou a decisão aos companheiros de partido, aos assessores, à imprensa. Em seguida, copiando os bigodes mais fartos do Senado, revogou a decisão irrevogável e anunciou que quer ficar no cargo, saindo porém de seu partido, o DEM, antes de ser expulso (isso se não mudar de idéia até amanhã). De duas, uma: ou Paulo Octavio é um gênio político e desorienta seus adversários ou está cometendo um grande erro. Paulo Octavio nunca demonstrou até hoje sua genialidade política.

OS MAIORAIS
A notícia de que a aliança entre Cosan e Shell formaria a maior empresa mundial de álcool ficou velha. Agora a maior é a aliança entre ETH, braço alcooleiro da Odebrecht, e a Brenco, multinacional criada para liderar o mercado, mas que nunca chegou lá. Só a queima do bagaço deve gerar o equivalente a mais de um quarto da energia de Itaipu. E um dia, quem sabe, o álcool volta ao mercado.

MÁ NOTÍCIA
Lembra do caso do menino João Hélio, que morreu sendo arrastado por um carro? Um dos participantes do roubo do carro, exatamente o que fechou a porta com o garotinho de fora, já está solto: fez 18 anos e não é mais "dimenor". Enquanto estava detido, tentou assassinar um agente penitenciário. E está sendo protegido pela ONG Projeto Legal, que o considera ameaçado de morte. Tem direito a troca de identidade, a mudança para outra cidade e a uma bolsa dessas.

BOA NOTÍCIA
A Câmara de Londrina, no Paraná, discute no dia 23 uma tarifa especial de ônibus: R$ 1,00 aos domingos, em vez dos R$ 2,25 habituais. O projeto, do vereador Paulo Arildo, se baseia em uma proposta do deputado federal Luiz Carlos Hauly, do PSDB, quando foi candidato à Prefeitura. Hauly é favorável também à passagem gratuita para estudantes de todos os níveis - mas isso fica para depois.

TRINTA ANOS NESTE ANO
O caro leitor com certeza deve lembrar-se do recente anúncio da auto-suficiência brasileira em petróleo. Se tiver um pouco mais de idade e forçar a memória, lembrará do anúncio do fim das importações de gasolina, há 30 anos. Bom, o Brasil nunca deixou de importar petróleo. E volta agora a importar gasolina. De onde? A Petrobras começou anunciando importações da Venezuela, mas logo em seguida trocou o discurso: a gasolina virá dos EUA e da Europa. A primeira encomenda é de dois milhões de barris.

OS MOTIVOS E OS MOTIVOS
De acordo com a Petrobras, o motivo da importação de gasolina é a queda da produção de álcool, provocada por mudanças climáticas. De certa forma, é verdade. Mas houve também a alta do açúcar, o que fez com que muitas empresas, esquecendo seu compromisso com o abastecimento de combustível, deixassem a produção de álcool de lado. E houve a alta na venda de veículos, com a redução de impostos. Aparentemente, embora seja tudo Governo, a turma do combustível não acreditou que com menos impostos haveria mais veículos nas ruas.




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