Há 50 anos, em abril de 1960, a gigantesca barragem de Orós, no Ceará, não resistiu ao excesso de chuvas: rompeu-se
Há 50 anos, em abril de 1960, a gigantesca barragem de Orós, no Ceará, não resistiu ao excesso de chuvas: rompeu-se, com saldo de 300 mil desabrigados. A obra era do presidente Juscelino Kubitschek, mas a culpa das chuvas, claro, foi do prefeito paulistano Gilberto Kassab, DEM - embora ele nem tivesse nascido.
Há cinco anos, um furacão provocou a inundação de Nova Orleans, nos EUA. Com todos os recursos financeiros e tecnológicos norte-americanos, a cidade passou 80 dias debaixo d'água. Culpa de Kassab, claro. Como foi culpa de Kassab a tragédia de Santa Catarina, como é culpa de Kassab a tragédia da Ilha da Madeira.
Gilberto Kassab virou, à semelhança do famoso final do filme Casablanca, o culpado de sempre. Para atingi-lo, foi aplicada uma lei que não existe: determinou-se que parte das doações recebidas era ilegal e, como essa parte atingia 20% do total, seu mandato deveria ser cassado. Outros candidatos, acusados das mesmas coisas, não foram atingidos, porque as ‘ilegalidades' não alcançavam 20%. Por que 20%? Por que não 21%, ou 19%? Para atingir um e liberar outros.
Em resumo, uma só pessoa, com um único voto, quis revogar a vitória legítima obtida nas urnas - o mesmo que foi feito no Maranhão, mas lá para reentronizar no poder o clã Sarney. Em futebol, isso se chamaria tapetão - coisa feia, reprovável. Em política, vale tudo. A cassação foi revogada, claro; mas já tinha provocado efeitos políticos, na busca de manchar a reputação do atingido.
Pior: mancha-se também a imagem da Justiça, obrigada a reparar o equívoco.
QUEM GANHA
Uma das contribuições consideradas ilegais foi a do Banco Itaú, porque o Itaú fazia o pagamento da folha da prefeitura. Espertos, esses banqueiros. E que é que o Itaú recebeu em troca? Perdeu a folha de prefeitura, hoje no Banco do Brasil.
QUEM PERDE
A vice-prefeita paulistana, Alda Marco Antonio, do PMDB, iniciou sua vida pública no governo Montoro, em 1983. De lá para cá, jamais sofreu qualquer acusação de desonestidade. No entanto, queriam cassá-la. Este colunista, que a conhece faz tempo, já dizia: "Esse negócio de não roubar ainda vai pegar mal".
ESTÁ SOBRANDO
O presidente Lula anuncia hoje o investimento de US$ 300 milhões para modernizar o porto de Havana, em Cuba. Os portos brasileiros podem esperar, não é mesmo? E depois de amanhã anuncia, em El Salvador, US$ 300 milhões para renovar ônibus de lá. Quando o leitor tomar aquele ônibus superlotado, velho, sujo, pode se consolar: em El Salvador os ônibus vão melhorar.
DILMA E A POESIA
Supermeiguinho o discurso de Dilma Rousseff no evento do PT que a transformou em candidata. Num acesso de ternura, em fase de paz e amor, a Mãe do PAC citou Mário Quintana, o grande poeta gaúcho: "'Todos estes que aí estão, atravancando o meu caminho, eles passarão. Eu, passarinho". A ‘mãe' do PAC deveria ter citado outro belo poema de Quintana, mais adequado às suas idéias políticas: "O milagre não é dar vida ao corpo extinto /Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo.../ Nem mudar água pura em vinho tinto... /Milagre é acreditarem nisso tudo!"
A VERDADE POÉTICA
Dilma poderia ter falado diretamente aos eleitores que, acredita, Lula lhe trará: "Dizes que a beleza não é nada? Imagina um hipopótamo com alma de anjo... Sim, ele poderá convencer os outros de sua angelitude - mas que trabalheira!"
A HORA DO PANETONE
O Supremo Tribunal Federal marcou para amanhã o pedido de habeas corpus de Arruda. Ninguém arrisca prognóstico. Mas gente que conhece Brasília acha possível que ele fique preso por seis semanas, até que termine a instrução do processo.
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